sexta-feira, 30 de julho de 2010


oooi gentee, aqui é a Rafa hoje vou postar sobre um livroo muito divertido, na verdade engraçado. E não se preocupem, não vou postar um capítulo dele a cada semana ( risos).
Opúsculo uma hilariante (não sei se essa palavra existe, mas da minha cabeça vem do Hilário) paródia do bestseller Crepúsculo, da Stephenie Mayer, a pálida, desajeitada e obcecada por não humanos, Belle Goose não resiste aos encantos do super incomum, misterioso, fogoso e nerd, Edwart Mullen. Belle chega a Switchblade decidida a viver experiências anormais e logo passa a observar estranhos acontecimentos nesta pequena cidade fora do mapa (literalmente). Edwart salva Belle de uma bola de neve voadora, que misteriosamente se derrete no seu corpo. Tais eventos bizarros levam-na a uma dramática revelação: Edwart só pode ser um vampiro. Ma
s como ela poderá convencê-lo a mordê-la se ele parece ter tanto medo de garotas? Como Belle poderá finalmente se transformar em sua noiva eterna?
Bom pessoal é isso, o livro é realmente muito legal. Recomendo a todos, e peço muito obrigada a Gatyh, quem me emprestou essa hilária paródia.

Espero que tenham gostado
Beijinhos Rafa *-*

quinta-feira, 29 de julho de 2010

CELULARES DE LUXO

Postagem de Tharcylla Souza.
A Nokia acabou de lançar um celular de luxo, o Nokia N97 mini Golden Edition, todo coberto em ouro 18 kilates!
Ele é igual o modelo “normal” do N97, tem as mesmas funções. Nada muda no aparelho, apenas o revestimento em ouro e o preço, que será de R$ 2.249,00. A Nokia começa a vendê-lo aqui no Brasil a partir de agosto.

Mas se você achou esse celular muito caro, você consegue imaginar o preço de um iPhone4 decorado com nada mais, nada menos que… DIAMANTES!
Pois é, a joalheria inglesa Stuart Hughes produziu uma série especial com apenas 50 unidades de iPhones 4 cheeeeeios de diamantes em volta e com o logo da Apple atrás em formato de maçã feito de platina e mais diamantes. O preço? 35 mil reais!
E você, o que achou desses celulares de luxo? Lindos e phynos? Ou totalmente desnecessários e #fail?
Twitter:@tharcyllasoouza<--- segue :D

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Voltei

Oi gente, to de volta !
Pra hj eu nao tinha nada pra postar e to aqi a meia h tentando ver alguma coisa interessante mas dessa vez eu nao vejo nada de interessante.
Entao me desculpem mas nao qro ficar ocupando o tempo de vcs pra nada e qndo eu falo q nao consegui achar na da de interresante qr dizer q eu procurei em uns 4 sites e revireis eles de ponta a cabeça e depois desvirei de novo e revi ele inteiro de novo.
Ok pessoal, nao vou mais alugar o tempo de vcs.
XOXO Nanda !

terça-feira, 27 de julho de 2010

Boo! A esquecida

Olá gente, aqui é a BOO!

Eu estou sem postar a 1 mês inteiro, pois eu esqueci completamente... eu não sou um bom exemplo de pessoa responsavel... Concerteza

Bom eu vou postar uma coisa bem simples mas bem legal... que é a musica da Shakira que está fazendo sucesso no mundo inteiro ...

Waka Waka = Gente deu erro para colocar o video ... mas eu colquei o link para acessarem ... ( sei la como se escreve )

Obs : procure no youtube se vc não tiver preguiça heheh

http://www.youtube.com/watch?v=pRpeEdMmmQ0

bjs da Boo!

Dynamite++Eterno Pra Você++Boy Like you++Stay

Olá gente linda desse mundo lindo!
Aqui é a Gatyh, primeiramente quero me desculpar por não ter postado semana passada... foi a primeira vez que eu esqueci :/ agora me sinto culpada então vou fazer um post bem legal pra vocês.
Primeiro, essa postagem aqui é a nossa 80ª postagem!!! haaaaaaaaaa
Segundo, aqui embaixo eu postei tres clipes bem legaaais (ta, o segundo, o terceiro e o quarto não são um clipe clipe, mas quem liga?)
O primeiro é o novo clipe do Taio Cruz, Dynamite, se você não conhece, mesmo assim clica ali no play porque a musica é VICIANTE! não dá de assistir o clipe uma vez só.
O segundo é da musica Eterno Pra Você da Banda Hori, da trilha sonora de Eclipse, a musica é lentinha mas é muuuuito linda.
O terceiro é de uma musica da Miley, Stay, é linda de morrer, dá até vontade de chorar quando agente escuta mas não dá de ouvir uma vez só, uma vez que você grava a letra, ela nunca mais sai da sua cabeça, verdade.
O quarto é da musica Boy Like you, da Ke$ha, andam dizendo por aí que a musica é um dueto entre a Ke$ha e a Ashley Tisdale, mas ninguém sabe ao certo. Mas mesmo assim a musica é uma daquelas chicletes, nunca sai da sua cabeça.
beijos beijos e até terça que vem!






sábado, 24 de julho de 2010

bom gente aqui é a vit e to vemdo q ninguem deu ideias pra minha postagem né mas dexa pra la fazer oq(seus trairas kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk) bom hj entaum n tenho nada q postar pq de vdd me baseei a semana inteira no comentario de vcs entaum bom ta dexa n sei oq postar aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa ja sei vo postar oq as pessoas fazen no youtube bom a maioria das pessoas as mais normais ficam vendo clipes de bandas q gostam vendo as musicas e tudo mais eu tb fico fazendo isso quando entro no youtube mas tem pessoas problematicas (como uma amiga minha q conheci) q fica vendo novelas antidas de amor ou novelas atuais de amor (cara eu sempre digo pra ela q ela é problmatica)mas fazer oq bom gente eu sei q o meu post de hoje foi mei chato (meio n mt mas pelo menos postei no dia né bom gente n vo mais encher o saco ate a prossima semana ta ate e juro juradinho q volto ate fui

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Fantasma
Eu não vi os convidados de Jasper muitas vezes durante os dois dias ensolarados em que eles estiveram em Forks. Eu só retornei para que Esme não ficasse preocupada. De outra maneira, minha existência parecia mais um espectro do que um vampiro. Eu encontrei, invisível nas sombras, o lugar em que eu poderia seguir o objeto do meu amor e obsessão – onde eu poderia vê-la e ouvi-la nas mentes dos humanos sortudos que podiam caminhar através da luz do sol ao lado dela, algumas vezes acidentalmente passando a palma da mão dela nas deles. Ela nunca reagiu a tanto contato; as mãos deles eram tão quentes quanto as mãos dela.

A esforçada ausência da escola nunca havia sido um martírio como este antes. Mas o sol parecia fazê-la feliz, então eu não podia desgostar tanto disso. Qualquer coisa que a agradava estava em minhas boas graças.

Manhã de segunda-feira, eu escutei uma conversa que teve o potencial para destruir minha confiança e fazer o tempo passado longe dela uma tortura.

Eu tinha que sentir um pequeno respeito por Mike Newton; ele não havia simplesmente desistido e se afastado para curar suas feridas. Ele tinha mais coragem do que eu havia lhe creditado. Ele estava indo tentar novamente.

Bella foi para a escola bem cedo e, vendo a intenção de aproveitas o sol enquanto ele durava, sentou em uma das raramente usadas bancadas de piquenique enquanto esperava o primeiro sinal tocar. Seu cabelo capturou o sol de inesperadas formas, dando-lhe um brilho avermelhado que eu não havia previsto.

Mike encontrou-a lá, desenhando novamente, e se entusiasmou com sua sorte.

Era agonizante apenas ser capaz de assistir, impotente, protegido do brilho do sol pelas sombras da floresta.

Ela o cumprimentou com entusiasmo suficiente para torná-lo eufórico/encantado, e a mim o contrário.

Viu, ela gosta de mim. Ela não sorriria assim se ela não gostasse. Eu aposto que ela quer ir ao baile comigo. Imagino o que seria tão importante em Seattle…

Ele percebeu a mudança no cabelo dela. “Eu nunca percebi antes – seu cabelo fica vermelho aqui”.

Eu acidentalmente arranquei a jovem árvore que minha mão estava descansando quando ele acariciou uma mecha do cabelo dela com os dedos.

“Apenas no sol”, ela disse. Para minha profunda satisfação, ela deslizou para longe dele suavemente quando ele tocou a mecha atrás da orelha dela.

Mike precisou de um minuto para reconstruir sua coragem, gastando mais tempo com outra pequena conversa.

Ela lembrou-lhe da redação que todos estavam devendo para quarta-feira. Pelo perceptível orgulho em sua face, a dela já estava pronta. Ele havia esquecido completamente, e isso diminuiria drasticamente suas horas livres.

Droga – redação estúpida.

Finalmente ele entendeu o recado – meus dentes estavam tão trincados que eles poderiam pulverizar granito – e mesmo assim, ele não conseguia fazer a pergunta definitiva.

“Eu queria te perguntar se você deseja sair comigo.”

“Oh”, ela disse.

Houve um rápido silêncio.

Oh? O que será que isso significa? Ela vai dizer sim? Espera – eu acho que não perguntei realmente.

“Bem, nós podíamos sair para jantar ou algo… e eu poderia trabalhar nisso mais tarde.”

Idiota – essa também não foi uma pergunta.

“Mike…”

A agonia e fúria do meu ciúme eram tão poderosas quanto haviam sido semana passada. Eu quebrei outra árvore, tentando me segurar aqui. Eu queria tanto correr através do campus, muito rápido para os olhos humanos, e agarrá-la – para roubá-la do garoto que eu odiava tanto agora que eu poderia matá-lo e gostar disso.

Ela diria sim para ele?

“Eu não acho que seria a melhor idéia”.

Eu respirei novamente. Meu corpo rígido relaxou.

Seattle era apenas uma desculpa, afinal. Eu não deveria ter perguntado. No que eu estava pensando? Aposto que é por causa daquele estranho, Cullen…

“Por que?” ele perguntou agressivamente.

“Eu acho…” ela hesitou. “E se você alguma vez repetir o que vou dizer agora eu irei alegremente espancá-lo até a morte–”

Eu ri alto do som de uma ameaça de morte saindo através dos seus lábios.

“Mas eu acho que machucaria os sentimentos de Jessica.”

“Jessica?” O quê? Mas… Oh. Okay. Eu acho… Então… Huh.

Seus pensamentos não eram mais coerentes.

“Sério, Mike, você é cego?”

Eu ecoei seu sentimento. Ela não deveria esperar que todos fossem tão perceptivos quanto ela, mas realmente este exemplo estava além do óbvio. Com toda a dificuldade que Mike esteve enfrentando para convidar Bella para sair, ele não imaginava que não seria tão difícil para Jessica? Devia ser o egoísmo que o fez ficar cego para os outros. E Bella era tão altruísta, ela viu tudo.

Jessica. Huh. Wow. Huh. “Oh”, ele conseguiu dizer.

Bella usou sua confusão para escapar.

“Está na hora da aula, e eu não posso chegar atrasada de novo”.

Mike enxergou um ponto de vista não muito confiável a partir de então. Ele percebeu, enquanto a idéia sobre Jessica girava e girava ao redor da sua cabeça, que ele gostava da idéia de ela ter achado ele atraente. Esse era o segundo lugar, não tão bom como se fosse Bella que se sentisse assim.

Ela é atraente, pelo menos, eu acho. Corpo bonito. É melhor um pássaro na mão…

Ele foi desativado então, com as novas fantasias que eram tão vulgares como aquelas com Bella, mas agora elas apenas irritavam e enfureciam. Tão pouco ele merecia qualquer garota; elas eram quase permutáveis para ele. Eu permaneci livre de sua cabeça depois disso.

Quando ela estava fora de vista, eu me enrolei contra um tronco de uma enorme árvore e dancei de mente em mente, mantendo ela em vista, sempre agradecido quando Angela Weber estava disponível para olhá-la. Eu queria que existisse um jeito de agradecer a garota Weber por simplesmente ser uma boa pessoa. Me fez sentir melhor pensar que Bella tinha uma amiga que valia a pena.

Eu assisti o rosto de Bella de todo e qualquer ângulo que me davam, e eu pude ver que ela estava triste de novo. Isso me surpreendeu – eu pensei que o sol fosse suficiente para mantê-la sorrindo. No almoço, eu a vi espiar de tempos em tempos para a mesa vazia dos Cullen, e isso me entusiasmou. Isso me deu esperança. Talvez ela sinta minha falta, também.

Ela tinha planos de sair com as outras garotas – eu automaticamente planejei minha própria vigilância – mas estes planos foram adiados quando Mike convidou Jessica para o encontro planejado para Bella.

Então eu fui direto para a casa dela, checando rapidamente a floresta para ter certeza de que ninguém perigoso estava perto. Eu sabia que Jasper havia alertado seu irmão de outrora para evitar a cidade – citando minha insanidade como explicação e aviso – mas eu não queria correr nenhum risco. Peter e Charlote não tinham intenções de causar mal-estar com minha família, mas as intenções são coisas que mudam…

Certo, eu estava exagerando. Eu sabia disso.

Como se ela soubesse que eu estava olhando, como se ela estivesse com pena da agonia que eu sentia quando não podia vê-la, Bella saiu para o jardim depois de uma longa hora dentro de casa. Ela tinha um livro na mão e uma coberta embaixo do braço.

Silenciosamente, eu subi nos troncos mais altos da árvore para conseguir uma boa visão do jardim.

Ela estendeu a coberta na grama úmida, e então deitou de barriga para baixo e começou a folhear as páginas do livro velho, como se tentasse encontrar o lugar certo. Eu li por cima do seu ombro.

Ah – mais clássicos. Ela era uma fã de Austen.

Ela leu rápido, cruzando e descruzando os calcanhares no ar. Eu estava assistindo os raios de sol e o vento brincando com seu cabelo quando seu corpo subitamente se contraiu, e sua mão congelou na página. Tudo que consegui ver foi que ela estava no capítulo três, quando ela grosseiramente segurou uma quantidade grossa de folhas e as passou.

Eu vi de relance um título, Mansfield Park. Ela estava começando uma nova história – o livro era uma compilação de romances. Eu me perguntei por que ela mudaria de romance tão abruptamente.

Apenas alguns segundos depois, ela fechou o livro, irritada. Com a expressão zangada, ela empurrou o livro ao seu lado e se virou para deitar de frente. Ela respirou profundamente, como se quisesse se acalmar, arregaçou as mangas e fechou os olhos. Eu me lembrava da história, mas não consegui pensar em nada ofensivo nela que a pudesse ter chateado. Outro mistério. Eu suspirei.

Ela deitou muito rígida, movendo apenas uma vez para puxar o cabelo do rosto. Ele se esparramou acima de sua cabeça. E então ela ficou imóvel de novo.

Sua respiração desacelerou. Depois de alguns longos minutos, seus lábios começaram a mexer. Murmurando enquanto dormia.

Impossível resistir. Eu escutei o mais longe que pude, captando vozes nas casas próximas.

Duas colheres de sopa de trigo… um copo de leite…

Vamos lá! Joga na cesta! Ah, vai lá!

Vermelho, ou azul… ou talvez eu devesse vestir algo mais casual…

Não havia ninguém próximo. Eu saltei para o chão, aterrissando silenciosamente na ponta do pé.

Isso era muito errado, muito arriscado. Quão superficial eu havia sido ao julgar Emmett por seus modos impulsivos e Jasper por sua falta de disciplina – e agora estava conscientemente desprezando todas as regras com um abandono que fazia os lapsos deles parecem insignificantes. Eu costumava ser o responsável.

Eu suspirei, mas rastejei para o sol, descuidado.

Eu evitei olhar para mim mesmo na luz do sol. Era ruim o suficiente que a minha pele era uma pedra e desumana na sombra; não queria olhar para Bella e eu lado a lado na luz do sol. A diferença entre nós já era insuperável, dolorosa o suficiente sem mais essa imagem na minha cabeça.

Mas não conseguia ignorar as faíscas de arco-íris que eram refletidas para a pele dela quando eu ficava perto. Meu queixo se fechou com a visão. Eu conseguiria ser mais aberração do que já era? Imaginei o terror dela se abrisse os olhos agora…

Eu comecei a recuar, mas ela resmungou de novo, me segurando ali.

- Mmm… mmm.

Nada inteligível. Bem, eu iria esperar um pouco.

Cuidadosamente peguei seu livro, esticando meu braço e prendendo a respiração enquanto estava perto, por precaução. Comecei a respirar novamente quando estava a poucos metros de distância, testando como o sol e a janela aberta afetavam seu cheiro. O calor parecia adocicar a fragrância. Minha garganta queimou de desejo, o fogo pertinente e feroz outra vez, porque tinha ficado longe dela por muito tempo.

Passei um momento controlando isso, e então – me forçando a respirar pelo nariz – deixei que seu livro se abrisse em minhas mãos. Ela tinha começado pelo primeiro… Eu virei as páginas rapidamente até o terceiro capítulo de Razão e Sensibilidade, procurando por algo potencialmente ofensivo na história excessivamente delicada de Austen.

Quando meus olhos pararam automaticamente no meu nome – a personagem Edward Ferrars sendo apresentado pela primeira vez – Bella falou de novo.

- Mmm. Edward. – ela suspirou.

Desta vez não tive medo que ela tivesse acordado. A voz dela era baixa, só um murmúrio melancólico. Não os gritos de medo que teriam sido se ela me visse agora.

Alegria entrou em conflito com auto-desprezo. Pelo menos ela ainda estava sonhando comigo.

- Edmund. Ahh. Muito… parecido…

Edmund?

Ah! Ela não estava sonhando comigo, percebi com raiva. O auto-desprezo voltou com força. Ela estava sonhando com personagens fictícios. Lá se foi meu convencimento.

Guardei o livro, e fui para o abrigo das sombras – onde pertencia.

A tarde passou enquanto eu observava, me sentindo inútil de novo, enquanto o sol lentamente ia descendo no céu e as sombras se espalharam pelo jardim até ela. Eu queria empurrá-las para longe, mas a escuridão era inevitável; as sombras a tomaram. Quando a luz tinha ido embora, a pele dela era muito pálida – quase fantasmagórica. O cabelo dela estava escuro de novo, quase preto contra seu rosto.

Era uma coisa assustadora de se ver – como testemunhar as visões de Alice virarem realidade. O batimento forte e constante de Bella era a única garantia, o som que manteve esse momento longe de parecer um pesadelo.

Fiquei aliviado quando o pai dela voltou para casa.

Eu podia ouvir pouco da mente dele quando dirigia na direção da casa. Alguma vaga irritação… no passado, alguma coisa do trabalho. Expectativa misturada com fome – presumi que estivesse ansioso para o jantar. Mas seus pensamentos eram tão silenciosos e contidos que não pude ter certeza se estava certo; só peguei a essência deles.

Me perguntei como a mãe dela soava – que combinação genética a tinha feito tão única.

Bella começou a acordar, se contorcendo para sentar-se quando os pneus do carro de seu pai cantaram contra o asfalto da estrada. Ela começou a olhar ao seu redor, parecendo confusa com a inesperada escuridão. Por um breve momento, seus olhos encontraram as sombras onde eu estava escondido, mas eles passaram rapidamente.

“Charlie?” ela perguntou em uma voz baixa, ainda observando as árvores que circundavam o pequeno jardim.

A porta do carro bateu com força, e ela olhou em direção ao som. Ela se colocou em pé rapidamente e juntou as suas coisas dando mais uma olhada em direção às árvores.

Eu me movi para uma árvore próxima à janela de trás perto da pequena cozinha, e ouvi a noite deles. Era interessante comparar as palavras de Charlie aos seus pensamentos ocultos. O seu amor e interesse pela sua única filha eram quase esmagadores, e ainda assim suas palavras sempre curtas e casuais. Na maior parte do tempo, eles sentavam em um silêncio amigável.

Eu a ouvi discutir seus planos para a noite seguinte em Port Angeles, e eu redefinia meus próprios planos enquanto eu escutava. Jasper não tinha avisado Peter e Charlotte para ficarem longe de Port Angeles. Apesar de eu saber que eles tinham se alimentado recentemente e não tinham nenhuma intenção de caçar em nenhum lugar na vizinhança de nossa casa, eu gostaria de observá-la, só por precaução. Afinal de contas, havia muitos outros da minha espécie lá fora. E também, todos os perigos humanos que eu nunca havia considerado antes.

Eu ouvi a sua preocupação sobre deixar o seu pai preparar o próprio jantar, e sorri ao ver a minha teoria se provar – sim, ela cuidava dele.

Então eu parti, sabendo que eu poderia retornar quando ela estivesse dormindo.

Eu não poderia invadir a sua privacidade, espreitando desse jeito. Eu estava aqui para a sua proteção, não para olhá-la com malícia de um modo que Mike Newton faria sem dúvida, se ele fosse ágil o suficiente como eu para permanecer na copa das árvores como eu fazia. Eu não a trataria tão rudemente.

Minha casa estava vazia quando eu retornei, o quando estava ótimo para mim. Eu não sentia falta da confusão ou pensamentos depreciativos, questionando a minha sanidade. Emmett deixou um recado preso à coluna do corrimão.

Futebol no campo Rainier – vamos! Por favor?

Eu achei uma caneta e rabisquei a palavra me desculpe mais abaixo do seu apelo. Os times estavam mais equilibrados sem mim, de qualquer forma.

Eu saí para a mais curta das viagens de caça, me contentando com a menor e mais gentil das criaturas que não tinha um gosto tão bom quanto os caçadores, e então vesti roupas limpas antes de correr de volta para Forks.

Bella não dormiu bem essa noite. Ela se agitava em seus cobertores, seu rosto algumas vezes preocupado, algumas vezes triste. Eu imaginava que era algum pesadelo assombrando-a e então eu percebi que apesar de tudo eu não queria saber na verdade.

Quando ela falou, a maior parte do murmúrio depreciava Forks em uma voz abatida. Somente uma vez, quando ela suspirou as palavras “Volte” e a sua mão se esticou – um apelo mudo – eu tive a chance de ter esperanças que ela estivesse sonhando comigo.

No dia de escola seguinte, o ÚLTIMO dia em que o sol me manteria prisioneiro, foi bem parecido com o dia anterior. Bella parecia ainda mais melancólica que o dia anterior, e eu imaginei se ela tinha desistido dos seus planos – ela não parecia de bom humor.

Mas, sendo Bella, ela provavelmente colocaria o divertimento dos amigos acima do seu próprio.

Ela estava usando uma blusa azul hoje, e a cor realçava sua pele perfeitamente, deixando-a cor de creme.

A escola terminou e Jessica concordou em buscar as outras meninas – Angela ia também, e fiquei feliz por isso.

Fui para casa pegar meu carro. Quando eu vi que Peter e Charlotte estavam lá, decidi dar uma hora de vantagem para as garotas. Nunca seria capaz de seguí-las, dirigindo no limite de velocidade – um pensamento horrível.

Entrei pela cozinha, acenando vagamente às saudações de Emmett e Esme quando passei por todos na sala e fui direto para o piano.

Argh, ele voltou. Rosalie, claro.

Ah, Edward. Odeio vê-lo sofrendo tanto. A alegria de Esme estava começando a ser danificada pela preocupação. Ela deveria se preocupar. Esta história de amor que ela havia visualizado para mim estava a cada hora mais evidentemente rumando para a tragédia.

Se divirta em Port Angeles esta noite, pensou Alice alegremente. Deixe-me saber quando eu tiver a permissão de falar com Bella.

Você é patético. Não acredito que perdeu o jogo de ontem só para ver alguém dormir. Emmett resmungou.

Jasper não prestou atenção em mim, nem mesmo quando a música que toquei ficou um pouco mais tempestuosa do que eu pretendia. Era uma música antiga, com um tema familiar: impaciência. Jasper estava se despedindo de seus amigos, que me olhavam curiosamente.

Que criatura estranha, Charlotte, que tinha cabelo loiro claro e era do mesmo tamanho de Alice pensou. E ele foi tão normal e agradável da outra vez que nos vimos.

Os pensamentos de Peter estavam em sincronia com os dela, como era normalmente o caso.

Devem ser os animais. A falta de sangue humano os deixa loucos uma hora ou outra, ele estava concluindo. O cabelo dele era claro e quase tão longo quanto o dela. Eles eram muito parecidos – exceto por tamanho, ele sendo quase tão alto quanto Emmett – em aparência e pensamento. Um par que combinava, sempre tinha pensado.

Todos menos Esme pararam de pensar em mim por um minuto, e toquei notas mais baixas para que não chamasse atenção.

Não prestei atenção a eles por um longo tempo, deixando a música me distrair do desconforto. Era difícil tirar a garota da minha mente. Só voltei minha atenção à conversa deles quando as despedidas ficaram mais finais.

- Se você vir Maria de novo – Jasper estava dizendo, um pouco cauteloso. – diga a ela que lhe desejo bem.

Maria era a vampira que tinha criado Jasper e Peter – Jasper na segunda metade no século XIX, Peter mais recentemente, por volta de 1940. Ela tinha procurado por Jasper uma vez, quando estávamos em Calgary. Tinha sido uma visita agitada – tivemos que nos mudar imediatamente. Jasper tinha pedido com educação que ela mantivesse distância no futuro.

- Não imagino que isso vá acontecer logo. – Peter disse com uma risada – Maria era inegavelmente perigosa e não havia muito amor entre ela e Peter. Peter tinha, afinal, sido fundamental para a deserção de Jasper. Jasper sempre havia sido o favorito de Maria; ela considerava um mero detalhe que uma vez tinha planejado matá-lo. – Mas, se acontecer, certamente eu direi.

Eles deram um aperto de mãos então, se preparando para partir. Eu deixei a música que estava tocando cessar em um fim pouco satisfatório, levantei rapidamente.

- Chalotte, Peter. – eu disse, acenando.

“É bom te ver novamente, Edward,” Charlotte disse de forma duvidosa. Peter somente acenou com a cabeça.

Louco, Emmett protestou atrás de mim.

Idiota, Rosalie pensou ao mesmo tempo.

Pobre garoto, Esme.

E Alice, em um tom repreensivo. Eles vão direto para o Leste, para Seattle. Nenhum lugar perto de Port Angeles. Ela me mostrou a prova em suas visões.

Eu fingi que eu não vi aquilo. Minhas desculpas já eram superficiais o suficiente.

Uma vez em meu carro, eu me senti mais relaxado; o robusto roncar do motor que Rosalie envenenou era animador para mim – ano passado, quando ela estava em um humor melhor – era tranqüilizador. Era um alívio estar em movimento, sabendo que eu estava ficando mais próximo de Bella a cada quilômetro que passava voando por debaixo dos meus pneus.

Port Angeles

Estava muito claro pra eu dirigir pelo centro quando eu cheguei à Port Angeles; o sol ainda estava muito elevado, e apesar de que os meus vidros eram fumês, não havia nenhum motivo para tomar riscos desnecessários. Mais riscos desnecessários, eu diria.

Eu estava certo de que eu acharia os pensamentos de Jessica longe – os pensamentos de Jessica eram mais altos que os de Angela, mas quando eu achasse o primeiro (pensamento), eu conseguiria ouvir o segundo. Então, quando as sombras se encompridavam, eu poderia chegar mais perto. Por hora, eu saí da estrada e fui para uma gramada garagem que ficava fora da cidade que parecia não ser utilizada.

Eu sabia o lugar para procurar – apenas havia só um lugar para a compra de vestidos em Port Angeles. Não muito antes, eu achei Jessica, se olhando na frente de um espelho de três lados, e eu conseguia ver Bella em sua visão periférica, aprovando o longo vestido preto que ela usava.

Bella ainda parece zangada. Ha ha. Angela estava certa – Tyler estava se achando. Apesar de que eu não acredito que ela está tão chateada sobre isso. Pelo menos ela sabe que ela tem um acompanhante reserva para o baile. E se Mike não tiver se divertindo no baile, e ele não me convide para sair de novo? E se ele convidar a Bella para o baile? Será que ela teria convidado o Mike para o baile se eu não tivesse dito nada? Será que ele acha que ela é mais bonita que eu?

“Eu acho que eu gosto mais do azul. Ele realça os seus olhos.”

Jessica sorriu para Bella com falso entusiasmo, enquanto a olhava com suspeita.

Será que ela acha isso mesmo? Ou ela quer que eu pareça como uma vaca no Sábado?

Eu já estava cansado de ficar ouvindo Jessica. Eu procurei por Angela – ah, mas Angela estava no processo de provar os vestidos, e eu saí rapidamente da sua cabeça para dá-la mais privacidade.

Bem, não havia muitos problemas que Bella poderia se meter numa loja de departamentos. Eu as deixaria comprando e depois as alcançaria quando tivessem acabado. Não faltaria muito para anoitecer, as nuvens estavam começando a voltar, sendo levadas para o oeste. Eu somente poderia pegar reflexos delas através das grandes árvores, mas eu podia ver como elas apressavam o pôr-do-sol. Eu as recebi, desejando-as mais do que eu jamais havia antes desejado por suas sombras. Amanhã eu poderia me sentar ao lado de Bella na escola de novo, exigindo sua atenção no almoço novamente. Eu poderia perguntar pra ela todas as coisas que eu havia guardado…

Então, ela estava furiosa com a presunção de Tyler. Eu vi aquilo na mente dele – que ele havia falado sério quando falou sobre o baile, que ele estava confirmando. Eu lembrei da expressão dela daquela outra tarde – a escandalizada descrença – e eu ri. Me perguntei o que ela diria pra ele sobre isso. Eu não gostaria de perder a reação dela.

O tempo passou devagar enquanto eu esperava pelas sombras se alongarem. Eu checava com freqüência a Jessica; a sua voz mental era a mais fácil de ser achar, mas eu não gostava de me demorar lá dentro por muito tempo. Eu vi o lugar que elas estavam planejando para comer. Estaria escuro na hora do jantar… talvez eu coincidentemente escolheria o mesmo restaurante. Peguei o celular do meu bolso, pensando em convidar Alice para comer fora… Ela adoraria isso, mas ela também iria querer falar com Bella. Eu não tinha certeza se eu estava pronto para envolver mais a Bella em meu mundo. Um vampiro não era problema suficiente?

E chequei a mente de Jessica de novo. Ela estava pensando sobre suas jóias, perguntando a opinião de Angela.

“Talvez eu deva devolver o colar. Eu tenho um em casa que deveria servir, e eu gastei mais do que eu deveria…” Minha mãe vai enlouquecer. No que eu estava pensando?

“Eu não me importo em voltar para a loja. Mas, você não acha que a Bella vai estar procurando por nós?

O que era isso? Bella não estava com elas? Eu fitei os olhos de Jessica primeiro, e depois troquei para Angela. Elas estavam na calçada em frente de umas lojas, já mudando de direção. Bella não estava em nenhum lugar em vista.

Oh, quem se importa com a Bella? Jess pensou, impacientemente, antes de responder a pergunta de Angela. “Ela está bem. Nós chegaremos no restaurante a tempo, mesmo se nós voltarmos (para a loja). De qualquer forma, eu acho que ela queria estar sozinha.” Eu peguei um breve vislumbre da livraria que Jessica achava que a Bella teria ido.

“Vamos nos apressar, então,” Angela disse. Espero que Bella não ache que nós a abandonamos. Antes, no carro, ela foi tão boa comigo… Ela é mesmo uma pessoa muito gentil. Mas ela parecia meio triste o dia inteiro. Pergunto-me se era por causa do Edward Cullen? Aposto que era por isso que ela estava perguntando sobre a família dele…

Eu deveria ter prestado mais atenção. O que eu teria perdido lá? Bella estava andando sozinha, e ela tinha perguntado por mim antes? Angela estava prestando atenção à Jessica agora – Jessica estava tagarelando sobre aquele idiota do Mike – e eu não podia arrancar mais nada dela.

Eu julguei as sombras. O sol estaria atrás das nuvens logo o suficiente. Se eu ficasse no lado oeste da estrada, onde os prédios estariam escurecendo a rua da luz fraca…

Eu comecei a me sentir impaciente enquanto eu dirigia pelo pouco engarrafamento pro centro da cidade. Isso não era algo em que eu havia considerado – Bella andando sozinha – e eu não tinha a mínima idéia de como achá-la. Eu deveria ter considerado isso. Bella estava sempre fazendo a coisa errada.

Eu conhecia bem Port Angeles; eu dirigi diretamente para a livraria da mente de Jessica, esperando que a minha busca fosse curta, mas duvidando que fosse fácil. Quando que Bella facilitava as coisas?

Sem dúvida, a pequena loja estava vazia, exceto por uma mulher vestida de maneira antiquada atrás do balcão. Esse não parecia com o tipo de lugar que Bella estaria interessada – muito new age para uma pessoa prática. Eu me pergunto se ela ao menos se incomodou a entrar?

Havia um lugar com sombra que eu poderia estacionar… Fazia um caminho escuro para a loja. Eu realmente não deveria. Andando por aí nas horas do dia não era seguro. E se um carro que passasse refletisse a luz do sol para a sombra justamente na hora errada?

Mas eu não sabia outro jeito de procurar pela Bella!

Eu estacionei e saí, me mantendo no canto mais fundo da sombra. Caminhei rapidamente para a loja, percebendo o fraco rastro do cheiro da Bella no ar. Ela esteve aqui, na calçada, mas não havia nenhuma pista de sua fragrância dentro da loja.

“Bem vindo! Poderia te ajudar – ” a vendedora começou a dizer, mas eu já estava do lado de fora da porta.

Eu seguiria o cheiro da Bella até aonde a sombra permitiria, parando quando eu chegasse na beira da luz do sol.

Quão impotente que isso me fez sentir – cercado pela linha entre a escuridão e a luz que se estendia até a calçada na frente minha frente. Tão limitado.

Eu só podia adivinhar que ela continuou pela rua, indo para o sul. Não havia muito seguindo aquela direção. Ela estava perdida? Bom, essa possibilidade parecia exatamente como o caráter dela.

Eu voltei para o carro e dirigi devagar pelas ruas, procurando por ela. Eu saí para alguns outros caminhos com sombras, mas eu só senti o seu cheiro mais uma vez, e o rumo disso me confundiu. Onde ela estava tentando ir?

Dirigi de volta e adiante entre a loja e o restaurante algumas vezes, esperando ver ela em seu caminho. Jessica e Angela já estavam lá, tentando decidir se pediam (a janta), ou se esperavam pela Bella. Jessica já estava pensando em pedir imediatamente.

Eu comecei a passar rapidamente pela mente de estranhos, olhando através de seus olhos. Com certeza alguém deve ter visto ela em algum lugar.

Mais tempo que ela ficava perdida, mais eu ficava impaciente. Eu não tinha considerado antes quão difícil que era pra achá-la, como agora, ela estava fora de minha vista e fora de seus caminhos normais. Eu não gostava disso.

As nuvens estavam se acumulando no horizonte, e, em alguns poucos minutos, eu estaria livre para localizá-la a pé. Então não me levaria muito tempo. Era somente o sol que me fazia tão paralisado agora. Apenas mais alguns minutos, e então a vantagem seria minha novamente e o mundo humano que seria impotente.

Outra mente, e mais outra. Tantos pensamentos banais.

…acho que o bebê tem outra infecção no ouvido…

Era 18:40 ou 18:04…?

Atrasado de novo. Eu devia contar pra ele…

Aqui ela vem! Aha!

Ali, finalmente, estava o rosto dela. Finalmente, alguém tinha reparado nela!

Aquele alívio só durou por uma fração de segundo, e então eu li mais os pensamentos do homem que estava olhando para o rosto dela fixamente nas sombras.

A mente dele era a de um estranho para mim, e mesmo assim, completamente familiar. Eu já havia caçado exatamente tal mente.

“NÃO!” Eu rugi, e um nó apertou a minha garganta. Meu pé afundou no acelerador, mas pra onde eu estava indo?

Eu sabia mais ou menos o rumo dos seus pensamentos, mas isso não era específico o suficiente. Alguma coisa, deveria haver alguma coisa – uma placa de rua, a frente de uma loja, alguma coisa na sua vista que entregaria a sua localização. Mas Bella estava bem na escuridão, e os olhos dele estavam focados somente na expressão apavorada dela – saboreando o medo lá.

O rosto dela estava nublado na mente dele pela memória de outros rostos. Bella não era a sua primeira vítima.

O som dos meus rosnados tremeu a estrutura do carro, mas não me distraíram.

Não havia janelas na parede atrás dela. Algum lugar industrial, longe da região de compras que era mais povoada. Meu carro derrapou na esquina, desviando de um outro veículo, indo na direção que eu esperava ser o caminho certo. Enquanto o outro carro buzinava, o som já estava bem atrás de mim.

Olha como ela ta tremendo! O homem riu em expectativa. O medo era a atração para ele – a parte que ele adorava.

“Fique longe de mim.” A voz dela era baixa e firme, não como um grito.

“Não seja assim, docinho.”

Ele viu ela hesitar quando uma rude risada veio de uma outra direção. Ele estava irritado com o barulho – Cale a boca, Jeff! Ele pensou – mas gostou do modo como ela se encolheu de medo. Excitava ele. Ele começou a imaginar a suplicação, o modo como ela imploraria…

Eu não tinha percebido que havia outros com ele até que eu ouvi aquela alta risada. Eu procurei nele, desesperado por alguma coisa que eu pudesse usar. Ele estava dando o primeiro passo na direção dela, movimentando suas mãos.

As mentes perto dele não eram o lixo que ele era. Eles estavam um pouco embriagados, nenhum deles percebendo quão longe o homem que eles chamava de Lonnie planejava seguir com isso. Eles estavam seguindo Lonnie cegamente. Ele tinha prometido pra eles um pouco de divertimento…

Um deles olhou para a rua, nervoso – ele não queria ser pego assediando a garota – e me deu o que eu precisava. Eu reconheci a rua que ele encarou.

Eu passei por um sinal vermelho, correndo através de um espaço amplo apenas o suficiente entre dois carros no engarrafamento. Buzinas fazendo barulho atrás de mim.

Meu celular vibrou no meu bolso. Eu ignorei.

Lonnie se movia devagar para a garota, atraindo o suspense – o momento do terror que excitava ele. Ele esperou pelo grito dela, se preparando para saboreá-lo.

Mas Bella trancou sua mandíbula, e se abraçou. Ele estava surpreso – ele esperava que ela tentasse fugir. Surpreso e levemente desapontado. Ele gostava de perseguir a sua presa, a adrenalina da caçada.

Corajosa, essa. Talvez melhor, eu acho… mais luta nela.

Eu estava a um quarteirão de distância. O monstro poderia escutar o rugido do meu motor agora, mas ele não deu atenção, bem atento em sua vítima.

Eu veria como ele se divertia na caçada quando ele seria a presa. Eu veria o que ele pensava do meu estilo de caçar.

Em outra parte da minha cabeça, eu já estava escolhendo os tipos de torturas que eu havia presenciado nos meus tempos de vigilante, procurando pela tortura mais dolorosa. Ele sofreria por isso. Ele iria se contorcer em agonia. Os outros iriam meramente morrer por suas participações nisso, mas o monstro chamado Lonnie imploraria pela morte bem antes de eu ceder pra ele esse presente.

Ele estava atravessando a rua, na direção dela.

Eu virei a esquina, rapidamente, meus faróis clareando a cena e paralisando eles no lugar. Eu poderia ter atropelado o líder, que saiu do caminho, mas essa era uma morte muito fácil para ele.

Eu deixei o carro deslizar, virando pra que ficasse de frente pro caminho que eu cheguei e a porta do carro ficasse perto de Bella. Eu abri a porta, e ela já estava correndo para o carro.

“Entre,” Eu resmunguei.

Que diabos?

Sabia que isso era uma péssima idéia! Ela não está sozinha.

Eu deveria correr?

Acho que vou vomitar…

Bella saltou para a porta aberta sem hesitar, puxando e fechando a porta atrás dela.

E então ela me olhou com uma expressão de verdadeira confiança que eu nunca havia visto num rosto humano, e todos os meus violentos planos desmoronaram.

Levou-me muito menos de um segundo para eu ver que eu não poderia deixá-la no carro para lidar com os quatro homens na rua. O que eu diria à ela, para não olhar? Ha! Quando que ela faz sempre o que eu peço? Quando que ela sempre faz a coisa segura?

Eu iria arrastá-los para longe, pra fora da visão dela, e deixá-la sozinha aqui? Eram poucas as chances que outro humano perigoso estaria rondando as ruas de Port Angeles esta noite, as chances eram poucas como essa era até o primeiro! Como um imã, ela atrai todas as coisas perigosas para ela mesma. Eu não poderia deixá-la fora de vista.

Seria como parte do mesmo movimento para ela quando eu acelerei, tirando ela dos seus perseguidores tão rapidamente que eles ficaram boquiabertos atrás do meu carro com expressões incompreensíveis. Ela não perceberia meu instante de hesitação. Ela presumiria que o plano era escapar desde o começo.

Eu nem conseguiria bater nele com o meu carro. Aquilo iria assustar ela.

Eu queria a morte dele tão brutalmente que a necessidade por isso chiou nos meus ouvidos e nublou a minha visão e era um sabor na minha língua. Meus músculos estavam amontoados com a urgência, o desejo, a necessidade por isso. Eu tinha que matá-lo. Eu iria descascá-lo aos poucos lentamente, pedaço por pedaço, pele do músculo, músculo de osso…

Exceto que a garota – a única garota no mundo – estava agarrada no seu banco com as duas mãos, me encarando, seus olhos ainda muito abertos e totalmente confiando em mim. A vingança teria que esperar.

“Bote o seu cinto,” Eu mandei. Minha voz foi áspera por causa do ódio e da sede de sangue. Não a comum sede de sangue. Eu não me sujaria ao ponto de pegar qualquer parte daquele homem pra dentro de mim.

Ela botou o cinto de segurança no lugar, se sobressaltando levemente com o som feito. Aquele pequeno som fez ela se sobressaltar, mesmo que ela não tenha demonstrado medo quando eu rasguei pela cidade, ignorando todos os sinais de trânsito. Eu poderia sentir seus olhos em mim. Ela parecia estranhamente relaxada. Não faz sentido – não com o que ela acabou de passar.

“Você está bem?” ela perguntou, sua voz áspera por causa do estresse e do medo.

Ela queria saber se eu estava bem?

Eu pensei por uma fração de segundo na pergunta dela. Não muito para que ela notasse a minha hesitação. Eu estava bem?

“Não,” eu percebi, e o meu tom ferveu com a raiva.

Eu a levei pelo mesmo caminho que eu passei esta tarde, ocupado na mais pobre vigilância que já existiu. Estava escuro agora, embaixo das árvores.

Eu estava tão furioso que o meu corpo paralisou no lugar, totalmente imóvel. Minhas mãos frias que estavam fechadas desejavam esmagar o agressor dela, pulverizar ele em pedaços tão mutilados que o seu corpo nunca poderia ser identificado…

Mas isso exigiria deixá-la aqui sozinha, desprotegida na noite escura.

“Bella?” Eu perguntei entre os dentes.

“Sim?” Ela respondeu roucamente. Ela limpou a garganta.

“Você está bem?” Aquilo era mesmo a coisa mais importante, a primeira prioridade. Castigo era secundário. Eu sabia disso, mas o meu corpo estava tão cheio de raiva que era difícil pensar.

“Sim.” A voz dela ainda estava grossa – com medo, sem dúvida.

E então eu não poderia deixá-la.

Mesmo que ela não esteja em risco constante por alguma razão irritante – alguma piada que o universo estava pregando em mim – mesmo se eu tivesse certeza que ela estaria perfeitamente segura em minha ausência, eu não poderia deixá-la sozinha no escuro.

Ela deve estar tão assustada.

E mesmo assim eu não tinha condições de consolá-la – mesmo se eu soubesse exatamente como seria consolá-la, que eu não sabia. Com certeza ela conseguia sentir a brutalidade radiando em mim, com certeza seria aquele o motivo óbvio. Eu iria assustá-la ainda mais se eu não acalmasse o desejo de massacre fervendo dentro de mim.

Eu precisava pensar em alguma outra coisa.

“Me distraia, por favor,” eu implorei.

“Desculpe-me, o que?”

Eu mal tinha controle suficiente para tentar explicar do que eu precisava.

“Apenas fale sobre algo sem importância até eu me acalmar,” eu instruí, minha mandíbula ainda trancada. Só o fato de que ela precisava de mim me segurava dentro do carro. Eu podia ouvir os pensamentos do homem, seu desapontamento e sua raiva… Eu sabia onde achá-lo… Fechei os meus olhos, desejando que eu não pudesse vê-lo de qualquer forma…

“Um…” ela hesitou – tentando achar um sentido para o meu pedido, eu imaginei. “Eu irei atropelar Tyler Crowley amanhã na frente da escola?” Ela disse isso como se fosse uma pergunta.

Sim – era isso que eu precisava. É claro que Bella apareceria com algo inesperado. Como antes, a ameaça de violência vindo de seus lábios era hilária – tão cômica que era estridente. Se eu não estivesse queimando com o desejo de matar, eu teria rido.

“Por quê?” eu gritei, para forçá-la a falar novamente.

“Ele está contando para todo mundo que me levará para o baile,” ela disse, sua voz cheia com o seu escândalo de gata selvagem. “Ou ele está louco ou ele ainda está tentando se desculpar por quase ter me matado na última… bem, você lembra disso,” ela completou com indiferença, “e ele acha que o baile é de alguma maneira o melhor jeito de corrigir isso. Então eu pensei que se eu pusesse em perigo a sua vida, então nós estaremos quites, e ele não vai poder tentar corrigir. Eu não preciso de inimigos e talvez Lauren desistisse se ele me deixasse em paz. Apesar que eu teria que destruir totalmente o seu Sentra,” ela continuou, pensativa agora. “Se ele não tiver um veículo ele não pode levar ninguém pro baile…”

Era animador ver que às vezes ela entende as coisas erradas. A persistência de Tyler não tem nada haver com o acidente. Ela não parece entender a atração que ela causa garotos humanos da escola. Ela não via a atração que eu tinha por ela também?

Ah, estava funcionando. O processo confuso da mente dela sempre foi chamativo. Eu estava começando a ganhar controle de mim mesmo, a ver alguma coisa além da vingança e da tortura…

“Eu soube disso,” eu disse pra ela. Ela tinha parado de falar, e eu precisava que ela continuasse.

Você soube?” ela perguntou duvidosamente. E então a sua voz estava mais zangada do que antes. “Se ele ficar paralisado do pescoço pra baixo, ele não pode ir pro baile também.”

Eu desejei que houvesse alguma maneira que eu pudesse perguntá-la para continuar com as ameaças de morte e dano corporal sem parecer loucura. Ela não poderia ter escolhido uma maneira melhor para me acalmar. E suas palavras – apenas sarcasmo no seu caso, exagero – eram um lembrete do que eu mais precisava neste momento.

Eu suspirei, e abri meus olhos.

“Melhor?” Ela perguntou timidamente.

“Não realmente.”

Não, eu estava mais calmo, mas não melhor. Porque eu acabei de perceber que eu não poderia matar o monstro chamado Lonnie, e eu ainda queria isso quase mais do que outra coisa no mundo. Quase.

A única coisa neste instante que eu queria mais do que um grande justificável assassinato, era esta garota. E, apesar de que eu não poderia tê-la, apenas o sonho de tê-la, se fez impossível para eu ir numa divertida matança essa noite – não importa o quanto defensível tal coisa poderia ser.

Bella merecia mais do que um assassino.

Eu passei sete décadas tentando ser alguma coisa além daquilo – qualquer coisa além de um assassino. Aqueles anos de esforço nunca poderiam me fazer digno da garota sentada ao meu lado. E mesmo assim, eu senti que se eu voltasse para aquela vida – a vida de um assassino – por apenas uma noite, eu certamente poria ela fora de meu alcance para sempre. Mesmo se eu não tomasse o sangue deles – mesmo se eu não tivesse a evidência brilhando vermelho em meus olhos – ela não sentiria a diferença?

Eu estava tentando ser bom o suficiente pra ela. Era um objetivo impossível. Eu continuaria tentando.

“O que há de errado?” Ela sussurrou.

Seu hálito encheu o meu nariz, e eu fui lembrado porque eu não merecia ela. Depois de tudo isso, mesmo com o muito que eu amava ela… ela ainda me dava água na boca.

Eu daria pra ela tanto honestidade quanto eu podia. Eu devo isso a ela.

“Às vezes eu tenho um problema com o meu temperamento, Bella”. Eu encarei a escura noite lá fora, desejando que ela escutasse o horror interno de minhas palavras e também que ela não escutasse. Principalmente que ela não escutasse. Corra, Bella, corra. Fique, Bella, fique. “Mas não seria ajuda alguma pra mim se eu me virasse e caçasse esses…” Apenas pensando nisso, quase me tirou de dentro do meu carro. Eu respirei fundo, deixando o cheiro dela queimar a minha garganta. “Pelo menos, é o que eu estou tentando convencer a mim mesmo.”

“Oh.”

Ela não disse mais nada. Quanto que ela tinha ouvido das minhas palavras? Eu olhei pra ela pelo canto do olho, mas o seu rosto estava ilegível. Branco com o choque, talvez. Bem, ela não estava gritando. Ainda não.

Estava silencioso por um momento. Eu lutei comigo mesmo, tentando ser o que deveria ser. O que eu não poderia ser.

“Jessica e Angela devem estar preocupadas,” ela disse calmamente. Sua voz estava bem calma, e eu não estava certo como poderia ser aquilo. Ela estava em choque? Talvez os eventos de hoje a noite ainda não tinham entrado em sua cabeça. “Era pra eu ter me encontrado com elas.”

Ela queria ficar longe de mim? Ou ela só estava preocupada com a preocupação das suas amigas?

Eu não respondi a ela, mas eu liguei o carro e levei-a de volta. Com o passo que eu chegava mais perto da cidade, mais difícil ficava me segurar no meu objetivo. Eu estava tão perto dele…

Se fosse possível – se eu nunca pudesse ter ou merecer essa garota – então onde estava o sentido de deixar esse homem não punido? Com certeza que eu poderia me permitir tanto…

Não. Eu não estava desistindo. Não ainda. Eu a queria muito para me render agora.

Nós estávamos no restaurante aonde era pra ela ter se encontrado com as suas amigas, antes mesmo de eu ter começado a racionalizar sobre os meus pensamentos. Jessica e Angela estavam acabando de comer, e ambas agora realmente se preocupavam com a Bella. Elas estavam indo procurar por ela, saindo para a rua escura.

Não era uma boa noite para elas saírem por aí vagando.

“Como você soube onde…?” A pergunta inacabada de Bella me interrompeu, e eu percebi que eu tinha cometido outro deslize. Eu estava muito distraído lembrando-me de perguntá-la onde ela deveria ter encontrado suas amigas.

Mas, ao invés de acabar a investigação e chegando ao ponto, Bella apenas balançou a cabeça e deu um meio sorriso.

O que aquilo significava?

Bem, eu não tinha tempo de decifrar sua estranha aceitação de minha estranha inteligência. Eu abri a minha porta.

“O que você está fazendo?” Ela perguntou, parecendo assustada.

Não deixando você sair da minha vista. Não me permitindo de ficar sozinho essa noite. Nessa ordem. “Estou te levando para jantar.”

Bem, isso deveria ser interessante. Parecia completamente mais como uma outra noite quando eu imaginei trazer Alice e pretendendo escolher o mesmo restaurante que Bella e as suas amigas como se fosse acidente. E agora, aqui estava eu, praticamente num encontro com a garota. Somente não contava, porque eu não estava dando a ela uma chance de dizer não.

Ela já tinha metade da sua porta aberta antes que eu desse a volta pelo carro – geralmente não era tão frustrante ter que se mover numa discreta velocidade – ao invés de esperar que eu abra pra ela. Isso era porque ela não estava costumada a ser tratada como uma dama, ou porque ela não pensava em mim como sendo um cavalheiro?

Eu esperei por ela, ficando mais inquieto enquanto as suas amigas continuavam indo para uma esquina escura.

“Vá parar Jessica e Angela antes que eu tenha que localizá-las também,” eu pedi rapidamente. “Eu não acho que poderia me reter se eu me encontrasse com os teus outros amigos de novo.” Não, eu não seria forte o suficiente para aquilo.

Ela estremeceu, e então rapidamente se recompôs. Ela deu meio passo atrás delas, chamando, “Jess, Angela!” em voz alta. Elas se viraram, e ela acenou com a mão para chamar a atenção delas.

Bella! Oh, ela está a salvo! Angela pensou em alívio.

Muito tarde? Jessica resmungou para si mesma, mas ela, também, estava grata que Bella não estava perdida ou ferida. Isso me fez gostar dela um pouco mais do que antes.

Elas voltaram, e então pararam, chocadas, quando me viram do lado dela.

Uh-uh! Jess pensou, impressionada. Sem chance!

Edward Cullen? Ela foi sozinha pra se encontrar com ele? Mas porque ela perguntaria sobre eles estarem fora da cidade se ela sabia que ele estava aqui… Eu vi um curto momento da expressão torturada de Bella quando ela perguntou a Angela se a minha família ficava às vezes ausente da escola. No, ela não poderia saber, Angela decidiu.

Os pensamentos de Jessica iam da surpresa à suspeita. Bella está me escondendo algo.

“Onde você esteve?” Ela exigiu, encarando Bella, mas me espiando pelo canto dos olhos.

“Eu me perdi. E então eu encontrei o Edward,” Bella disse, agitando uma mão pra mim. Seu tom estava muito normal. Como se fosse verdade tudo o que aconteceu.

Ela deve estar em choque. Era a única explicação para sua tranqüilidade.

“Estaria tudo bem se eu me juntasse a vocês?” Eu perguntei – para ser educado; eu sabia que elas já tinham comido.

Puta merda, ele é quente! Jessica pensou, sua cabeça repentinamente e levemente incoerente.

Angela não estava muito mais controlada. Queria que nós não tivéssemos comido. Wow. Apenas. Wow.

Agora porque eu não conseguia provocar isso na Bella?

“Er… claro,” Jessica concordou.

Angela franziu as sobrancelhas. “Um, na verdade, Bella, nós já comemos enquanto estávamos esperando,” ela admitiu. “Desculpa.”

O que? Cala a boca! Jess reclamou pra si mesma.

Bella deu de ombros, casualmente. Tão calma. Definitivamente em choque. “Tudo bem – não estou com fome.”

“Eu acho que você deve comer algo,” eu discordei. Ela precisava de açúcar na corrente sanguínea – apesar de cheirar doce o suficiente como era, eu pensei ironicamente. O pavor iria vir momentaneamente, e um estômago vazio não ajudaria. Ela desmaiava facilmente, que eu saiba por experiência própria.

Essas garotas não estariam em perigo algum se fossem direto para casa. Perigo não perseguia cada passo seus.

E eu preferiria estar sozinho com a Bella – tanto tempo quanto ela quiser ficar sozinha comigo.

“Você se importa se eu levar a Bella para casa essa noite?” Eu disse para Jessica antes que Bella pudesse reagir. “Assim você não vai precisar esperar por ela enquanto ela come.”

“Uh, sem problema, eu acho…” Jessica encarou seriamente Bella, olhando por algum sinal de que isso era o que ela queria.

Eu quero ficar… mas provavelmente ela quer ele pra si mesma. Quem não iria? Jess pensou. No mesmo instante, ela viu Bella piscar.

Bella piscou?

“Okay,” Angela disse rapidamente, na pressa de ficar fora do caminho se isso era o que Bella queria. E parecia que ela queria isso. “Te vejo amanhã, Bella… Edward.” Ela se esforçou para dizer o meu nome num tom casual. Então ela agarrou a mão de Jessica e começou a rebocar ela pra longe.

Eu teria que achar alguma maneira pra agradecer Angela por isso.

O carro de Jessica estava por perto em um círculo de luz clara feita por uma lâmpada de rua.

Bella olhou para elas cuidadosamente, uma pequena ruga de preocupação entre seus olhos, até que elas estavam no carro, então ela deve estar bem ciente do perigo que ela passou. Jessica abanou enquanto ela dirigia, e Bella acenou de volta. Assim que o carro desapareceu ela tomou um rumo.

Eu caminhei ao lado dela até a recepção, onde a recepcionista esperava. Bella ainda parecia inteiramente calma. Eu queria tocar a mão dela, sua testa, para ver a sua temperatura. Mas a minha mão fria iria assustá-la, assim como aconteceu antes.

Oh, minha nossa, a muito alta voz mental da maitre irrompeu na minha consciência. Minha nossa, oh minha nossa.

Parecia a minha noite de estar na cabeça das pessoas. Ou eu só estava percebendo isso mais porque eu queria tanto que a Bella me visse desse modo? Nós sempre fomos atraentes para a nossa presa. Eu nunca pensei muito sobre isso antes. Geralmente – ao menos, com pessoas como Shelly Cope e Jessica Stanley, sempre houve uma constante repetição ao um entorpecido terror – o medo vinha de forma rápida depois da atração inicial…

“Uma mesa para dois?” Eu disse, quando a maitre não falava.

“Oh, er, sim. Bem vindos ao La Bella Italia.” Mmm! Que voz! “Porque não me acompanham?” Seus pensamentos eram preocupados – cuidadosos.

Talvez ela seja prima dele. Ela não pode ser irmã dele, eles não se parecem em nada. Mas família, certamente. Ele não pode estar com ela.

Os olhos humanos eram nublados; não viam nada claramente. Como podia essa mulher de mente fraca achar os meus encantos físicos – uma armadilha para a presa – tão atraentes, e mesmo assim não ser capaz de ver a leve perfeição da garota ao meu lado?

Bem, sem necessidade para ajudá-la, só pra garantir, a maitre nos encaminhou para uma mesa tamanho família no meio da parte mais cheia do restaurante. Será que eu posso dar pra ele o meu número enquanto ela ta lá…? Ela pensou.

Eu tirei uma nota do meu bolso de trás. As pessoas eram constantemente cooperativas quando se tratava de dinheiro.

Bella já estava se sentando sem oposição no assento onde a maitre tinha lhe indicado. Eu balancei a cabeça para ela, e ela hesitou, inclinando sua cabeça pro lado com curiosidade. Sim, ela seria muito curiosa essa noite. Um lugar cheio não era muito ideal para este tipo de conversa.

“Talvez algo mais particular?” Eu pedi a maitre, dando a ela o dinheiro. Os olhos dela se abriram, surpresos, e então se estreitaram enquanto sua mão se enrolou na gorjeta.

“Claro.”

Ela espiou na nota enquanto ela nos encaminhava para uma separada.

Cinqüenta dólares por uma mesa melhor? Rico, também. Isso faz sentido – eu aposto que a jaqueta dele custou mais do que o meu salário inteiro. Droga. Por que ele quer privacidade com ela?

Ela nos ofereceu uma mesa num calmo canto do restaurante onde ninguém seria capaz de nos ver – ver as reações da Bella para o que eu diria pra ela. Eu não tinha nenhuma idéia do que ela iria querer saber de mim essa noite. Ou o que eu daria pra ela.

Até onde que ela adivinhou? Que explicação que ela contou pra si mesma sobre os acontecimentos de hoje à noite?

“Que tal isso?” a maitre perguntou.

“Perfeito,” eu disse a ela e, me sentindo levemente irritado por sua má atitude para com Bella, eu sorri abertamente pra ela, não revelando meus dentes. Deixe ela me ver nitidamente.

Whoa. “Um… seu garçom virá num instante.” Ele não pode ser real. Eu devo estar dormindo. Talvez ela irá desaparecer… talvez eu escreva o meu número no prato dele com ketchup… Ela saiu, caminhando levemente pelo lado.

Estranho. Ela ainda não estava assustada. Eu de repente me lembrei de Emmett me provocando na cafeteria, várias semanas atrás. Aposto que eu poderia ter assustado ela melhor do que você.

Eu estava perdendo a prática?

“Você não devia fazer isso com as pessoas,” Bella interrompeu meus pensamentos com um tom de desaprovação. “Não é muito justo.”

Eu fitei a expressão de crítica dela. O que ela quis dizer? Eu não tinha assustado a maitre nenhum um pouco, apesar das minhas intenções. “Fazer o que?”

“Deslumbrar as pessoas desse jeito – ela deve estar hiperventilando na cozinha nesse exato momento.”

Hmm, Bella estava quase certa.

A maitre estava pouco coerente no momento, descrevendo seu cálculo incorreto sobre mim para sua amiga de copa.

“Ah, qual é?” Bella repreendeu-me quando não respondi prontamente. “Você tem que saber o efeito que você causa nas pessoas.”

“Eu deslumbro as pessoas?” Esta era uma maneira interessante de descrever a situação precisa para esta noite.

Eu imaginei porque a diferença…

“Você não notou?” ela perguntou, ainda crítica. “Você acha que todos entendem facilmente?”

“Eu deslumbro você?” Verbalizei minha curiosidade impulsivamente, e então as palavras já haviam sido ditas, e era tarde demais para me arrepender.

Mas antes que eu tivesse tempo de me arrepender profundamente por ter pronunciado essas palavras, ela respondeu, “Frequentemente.” E suas bochechas tomaram uma tonalidade de rosa pálido.

Eu a deslumbrava.

Meu coração silencioso inflou-se com uma esperança mais intensa do que jamais me lembro de ter sentido antes.

“Olá,” alguém disse, a garçonete, apresentando-se. Seus pensamentos eram muito audíveis e mais explícitos do que o da maitre, mas eu a ignorei. Eu fitei a face de Bella ao invés de ouvir, assistindo ao sangue se espalhar por sob a sua pele, notando não como aquilo fazia minha garganta arder, mas como aquilo abrilhantava seu rosto, como aquilo espantava a palidez de sua pele…

A garçonete estava esperando algo de mim. Ah, ela perguntou o que beberiamos. Eu continuei a olhar para Bella, e a garçonete virou-se a contragosto para olhá-la também.

“Quero uma coca-cola?” disse Bella, como se pedisse aprovação.

“Duas cocas,” eu completei. Sede – sede normal de humanos- era um sinal de choque. Eu me certificaria de que ela tivesse o açúcar extra da soda no seu sistema.

Mas ela parecia saudável. Mais que saudável. Ela parecia radiante.

“O que foi?” ela perguntou – imaginando porque eu a fitava, pensei. Eu mal havia notado que a garçonete havia saído.

“Como se sente?” perguntei.

Ela piscou, surpresa pela pergunta. “Estou ótima.”

“Você não se sente doente, resfriada, aturdida?”

Ela estava ainda mais confusa agora. “Eu deveria?”

“Bem, na verdade estou esperando que você entre em choque.” Eu esbocei um sorriso, esperando pela sua negativa. Ela não iria querer ser cuidada por outra pessoa.

Levou um minuto para que ela me respondesse. Seus olhos estavam ligeiramente sem foco. Por vezes ela parecia assim, quando eu sorria para ela. Estaria ela… deslumbrada?

Eu amaria acreditar nisso.

“Eu não acho que isso vá acontecer. Eu sempre fui muito boa em reprimir coisas desagradáveis,” ela respondeu, um tanto esbaforida.

Será então que ela tinha muita experiência com coisas desagradáveis? Seria sua vida sempre assim tão arriscada?

“O mesmo de sempre,” eu disse a ela. “Eu me sinto melhor quando você tem algum açúcar e nutrientes dentro de você.”

“A garçonete retornou com os refrigerantes e um cesto de pão. Ela deixou tudo na minha frente e perguntou pelo meu pedido, tentando me olhar nos olhos, durante o processo. Eu indiquei que ela deveria atender a Bella, e então voltei a ignorá-la. Ela tinha uma mente vulgar.

“Um…” Bella deu uma rápida olhada no menu. “Eu vou querer o ravioli de cogumelos.”

A garçonete voltou-se rapidamente para mim. “E você?”

“Nada para mim.”

Bella fez uma expressão de desprezo. Hmm. Ela deve ter notado que eu nunca ingeria alimentos. Ela notava tudo. E eu sempre me esquecia de ser cuidadoso quando estava com ela.

Esperei até que estivessemos sozinhos novamente.

“Beba,” eu insisti.

Eu fiquei surpreso quando ela obedeceu imediatamente sem nenhuma objeção. Ela bebeu até que a garrafa estivesse totalmente vazia, então eu empurrei a segunda coca para ela, cerzindo as sobrancelhas um pouco. Sede ou choque?

Ela bebeu um pouco mais, e então sentiu um calafrio.

“Está com frio?”

“É só a coca,” ela disse, mas estremeceu novamente, seus lábios tremendo como se seus dente estivessem prestes a tiritar de frio.

A linda blusa que ela usava parecia muito fina para protegê-la adequadamente; ela a envolvia como uma segunda pele, quase tão frágil como a primeira. Ela era tão frágil, tão mortal.

“Você não tem uma jaqueta?”

“Sim,” ela olhou ao redor de si mesma, meio perplexa. “Oh – eu a deixei no carro de Jessica.”

Eu tirei minha jaqueta, desejando que este gesto não fosse estragado pela minha temperatura corporal. Seria bom se eu fosse capaz de oferecer a ela um casaco aquecido. Ela me encarou, suas bochechas corando novamente. O que ela estaria pensando agora?

Eu passei a jaqueta para ela por cima da mesa, e ela a vestiu de uma vez, e então tremeu novamente.

Sim, seria ótimo ser quente.

“Obrigada,” ela disse. Ela respirou fundo e então puxou as mangas longas para liberar suas mãos. Ela respirou fundo novamente.

Estaria a noite finalmente atuando? Sua cor ainda estava boa, sua pele estava num tom de rosa pálido em contraste com o azul escuro da sua camisa.

“Esse tom de azul fica adorável com o seu tom de pele,” eu a elogiei. Apenas sendo honesto.

Ela corou, enaltecendo o efeito.

Ela parecia bem, mas não havia sentido em me arriscar. Eu empurrei o cestinho de pães na direção dela.

“Realmente,” ela objetou, imaginando meus motivos. “Eu não vou entrar em choque.”

“Você deveria – uma pessoa normal entraria. Você nem ao menos parece abalada.” Eu a fitei, desaprovando, imaginando porque ela não poderia ser normal assim e então me perguntei se eu realmente queria que ela o fosse.

“Eu me sinto muito segura com você,” ela disse, seus olhos, novamente, cheios de confiança. Confiança que eu não merecia.

Seus instintos estavam todos errados – invertidos. Este deveria ser o problema. Ela não reconhecia o perigo da forma como um ser humano era capaz. Ela tinha uma reação oposta. Ao invés de correr, ela hesitava, se atirava ao que deveria assustá-la…

Como eu poderia protegê-la de mim mesmo quando nenhum de nós dois queria isso?

“Isso é mais complicado do que eu planejei,” eu murmurei.

Eu pude ver minhas palavras rodando em sua cabeça, e eu imaginei o que ela teria feito com elas. Ela apanhou uma baguete e começu a comer sem prestar muita atenção. Ela mascou por um momento, e então inclinou sua cabeça para um lado, pensativa.

“Geralmente você está de melhor humor quando seus olhos estão claros,” ela disse em um tom casual.

Sua observação, dita de forma tão direta, me deixou atordoado. “O que?”

“Você é sempre mais irritadiço quando seus olhos estão negros.” – eu esperava algo assim. “Eu tenho uma teoria sobre isso,” ela adicionou calmamente.

Então ela veio com sua própria explicação. É claro que ela tinha uma. Eu senti um pavor profundo quando imaginei o quão perto da verdade ela chegara.

“Mais teorias?”

“Mm-hm.” Ela mastigava uma outra mordida, totalmente relaxada. Como se ela não fosse discutir as características de um monstro com o próprio monstro.

“Espero que você seja mais criativa dessa vez…” Eu menti quando ela não continuou.

O que eu realmente esperava era que ela estivesse errada – a quilometros longe da verdade. “Ou você ainda está plagiando histórias em quadrinhos?”

“Bem, não, eu não me inspirei numa revista em quadrinhos,” ela disse, um pouco embaraçada. “Mas eu também não imaginei tudo sozinha.”

“E…?” eu perguntei entredentes.

É claro que ela não iria falar tão calmamente se estivesse prestes a gritar.

Quando ela hesitou, mordendo seus lábios, a garçonete reapareceu com a comida de Bella. Eu dei um pouco de atenção à servente enquanto ela arrumava o prato na frente de Bella e então perguntava se eu desejava algo.

Eu declinei, mas pedi outra coca. A garçonete não havia notado os copos vazios. Ela os pegou e levou-os.

“Você estava dizendo…?” Eu soprei a deixa anciosamente tão logo quanto ficamos a sós novamente.

“Eu vou te contar quando estivermos no carro,” ela disse com uma voz baixa. Ah, isso seria ruim. Ela não estava querendo falar seus palpites na frente de outras pessoas. “Se…” ela irrompeu repentinamente.

“Há condições?” Eu estava tão tenso que quase rosnei as palavras.

“Eu tenho algumas perguntas, é claro.”

“É claro,” eu consenti, com um tom de voz seco.

Suas perguntas provavelmente seriam o bastante para que eu soubesse em que direção seus pensamentos estavam seguindo. Mas como eu as responderia? Com mentiras responsáveis? Ou eu a assombraria com a verdade? Ou não diria nada, incapaz de decidir?

Nós continuamos sentados em silêncio enquanto a garçonete reabastecia seu estoque de soda.

“Bem, vá em frente,” eu disse, com minhas mandibulas travadas, quando ela se foi.

“Por que você está em Port Angeles?”

Esta era uma pergunta fácil demais – para ela. A pergunta não me indicaria nada, enquanto minha resposta, se verdadeira, indicaria muito, muito mesmo. Deixe que ela revele algo primeiro.

“Próxima,” eu disse.

“Mas esta foi a mais fácil!”

“Próxima,” eu repeti.

Ela estava frustrada pela minha rejeição. Ela tirou seus olhos de mim e olhou para baixo, para a sua comida.

Vagarosamente, pensativa, ela deu uma mordida e mastigou com vontade. Fez tudo descer com mais coca e então finalmente olhou para mim. Seus olhos estavam estreitos, cheios de suspeita.

“Certo, então,” ela disse. “Vamos dizer que, hipotéticamente, é claro, que… alguém… pudesse saber o que as pessoas estão pensando, ler mentes, você entendeu – com apenas algumas poucas exceções.”

Poderia ser pior.

Isto explicava aquele sorrisinho no carro. Ela era rápida – ninguém mais jamais havia adivinhado este meu poder. Exceto por Carslile, quando isto era bem mais óbvio, no começo, quando eu respondia a todos os seus pensamentos como se ele tivesse falando comigo. Ele havia entendido o meu poder antes de mim…

Esta pergunta não era tão ruim. Apesar de estar claro que ela sabia haver algo de errado comigo, não era tão ruim quanto poderia ser. Leitura de mentes não era, afinal, uma faceta do cânone vampírico. Eu continuei com a sua hipótese.

“Apenas uma exceção,” eu a corrigi. “Hipoteticamente”

Ela se esforçou para não sorrir – minha vaga honestidade a havia agradado. “Tudo bem, com uma única exceção, então. Como isso funciona? Quais as limitações? Como seria… se alguém… encontrasse outra pessoa exatamente numa hora de grande necessidade? Como ele poderia saber que ela estaria com problemas?”

“Hipoteticamente?”

“Claro.” Seus lábios se retorceram, e seus olhos castanhos estavam ansiosos.

“Bem,” eu hesitei. “Se… esse alguém…”

“Vamos chamá-lo de Joe,” ela sugeriu.

Eu tive que sorrir diante do entusiasmo dela. Ela achava mesmo que a verdade seria uma coisa boa? Se meus segredos fossem coisas agradáveis, por que eu a manteria afastada deles?

“Joe, então,” eu concordei. “Se Joe estivesse prestando atenção, o tempo não teria que ser tão exato.” Eu balancei minha cabeça e reprimi um calafrio quando me lembrei o quão perto eu estive de chegar muito tarde hoje. “Você é a única pessoa que pode se encrencar em uma cidade tão pequena. Você deve ter devastado a estatística de crimes deles, por décadas, você sabe.”

Seus lábios murcharam um pouco e então ela disse: “Nós estamos falando de um caso hipotético.”

Eu ri diante da irritação dela.

Seus lábios, sua pele… eles pareciam tão suaves… Eu queria tocá-los. Eu queria empurrar sua sobrancelha franzida para cima com a ponta dos meus dedos. Impossível. Minha pele seria um repelente para o seu calor.

“Sim, nós estávamos…” Eu disse, retornando ao nosso assunto antes de eu ter entrado em depressão. “Devemos chamar você de Jane?”

Ela olhou por sobre a mesa, diretamente para mim, com toda a irritação e mal humor dissipados dos seus olhos arregalados.

“Como você sabia?” ela perguntou, sua voz baixa e intensa.

Eu deveria dizer a verdade a ela? E, se dissesse, qual parte da verdade?

Eu queria dizer a ela. Eu queria merecer a confiança que eu ainda enxergava em sua feição.

“Você pode confiar em mim, sabe,” ela sussurrou, e levou a mão para frente como se fosse tocar em minhas mãos onde elas estavam em cima da mesa vazia em minha frente.

Eu as tirei de alcance – odiando a idéia da reação dela à minha pele fria e pétrea – e ela deixou as mãos pousarem na mesa.

Eu sabia que podia confiar nela com relação a guardar meus segredos; ela era inteiramente confiável, até o fim. Mas eu não podia confiar que ela não ficaria horrorizada com eles. Ela deveria ficar horrorizada. A verdade era horrível.

“Eu não sei mais se tenho escolha,” murmurei. Lembrei-me de uma vez tê-la provocado ao chamá-la de ‘excessivamente distraída.’ A ofendi, se eu julguei certo suas expressões. Bem, essa havia sido uma injustiça, pelo menos. “Eu estava errado – você é mais atenta do que eu havia dado crédito.” E, apesar dela talvez não ter notado, eu já havia lhe dado muito crédito. Ela não perdia nada.

“Pensei que você estava sempre certo,” ela disse, sorrindo enquanto me provocava.

“Eu costumava estar.” Eu costumava saber o que fazia. Costumava ter sempre certeza de meu caminho. Agora tudo era caos e tumulto.

Mesmo assim, não trocaria nada. Eu não queria a vida que fazia sentido. Não se o caos significava que eu podia ter Bella.

“Eu estava errado sobre você em outro ponto também,” continuei, aparando as arestas em outro ponto. “Você não é um ímã para acidentes – essa não é uma classificação muito ampla. Você é um imã para problemas. Se houver algo perigoso num raio de dez milhas, invariavelmente vai achar você.” Por que ela? O que ela havia feito para merecer tudo isso?

O rosto de Bella estava sério novamente. “E você se coloca nessa categoria?”

Honestidade era mais importante em relação a essa questão do que qualquer outra. “Definitivamente”.

Seus olhos se estreitaram levemente – não com suspeita, mas estranhamente preocupada. Ela levou a mão pela mesa novamente, devagar e deliberadamente. Tirei minhas mãos alguns centímetros mais longe das dela, mas ela ignorou o movimento, determinada a me tocar. Prendi a respiração – não por causa de seu cheiro agora, mas por causa da súbita e irresistível tensão. Medo. Minha pele a deixaria enojada. Ela correria para longe.

Ela roçou a ponta dos dedos levemente pelas costas de minhas mãos. O calor seu toque gentil e desejoso não era igual a nada que eu já havia sentido antes. Era quase puro prazer. Teria sido, se não fosse pelo meu medo. Observei seu rosto quando ela sentiu o frio pétreo de minha pele, ainda incapaz de respirar.

Um meio sorriso apareceu nos cantos de seus lábios.

“Obrigada,” ela disse, me encarando intensamente. “Já são duas vezes agora.”

Seus dedos macios ficaram em minha mão como se achassem confortável estar lá.

Respondi o mais casual possível. “Não vamos tentar uma terceira vez, de acordo?”

Ela fez uma careta, mas concordou.

Tirei minhas mãos das suas. Por melhor que seu toque fosse, eu não esperaria até que a mágica de sua tolerância passasse e se transformasse em repulsa. Escondi minhas mãos embaixo da mesa.

Li seus olhos; apesar de sua mente estar silenciosa, eu podia perceber tanto confiança quando surpresa nela. Percebi naquele momento que eu queria responder as perguntas dela. Não por que eu devia isso a ela. Não porque eu queria que ela confiasse em mim.

Eu queria que ela me conhecesse.

“EU a segui até Port Angeles,” disse a ela, as palavras saindo muito rápido para que eu as censurasse. Eu sabia do perigo da verdade, do risco que eu corria. Até aquele momento, sua calma fora do normal poderia se transformar em histeria. Contrariamente, saber isso apenas fez com que eu falasse mais rápido. “Nunca tentei manter uma pessoa específica viva antes e é muito mais trabalhoso do que eu acreditava. Mas provavelmente é apenas porque é você. Pessoas normais parecem conseguir passar o dia sem muitas catástrofes.”

Observei-a, esperando.

Ela sorriu. Seus lábios se curvaram nas pontas, e seus olhos cor de chocolate se aqueceram.

Eu havia acabado de admitir que a havia seguido, e ela estava sorrindo.

“Já parou para pensar que talvez fosse minha hora daquela primeira vez, com a van, e você está interferindo no destino?” ela perguntou.

“Aquela não foi a primeira vez,” eu disse, encarando a toalha de mesa avermelhada, meus ombros curvados de vergonha. Minhas barreiras haviam caído, a verdade saía de qualquer jeito. “Sua hora foi na primeira vez que te conheci.”

Era verdade, e aquilo me deixava nervoso. Eu estava posicionado na vida dela como a lâmina de uma guilhotina. Era como se ela estivesse marcada para morrer por um destino cruel e injusto, e – já que eu parecia ser uma ferramenta involuntária – esse mesmo destino parecia ainda tentar executá-la. Imaginei o destino personificado – uma velha cinzenta e invejosa, uma harpia vingativa.

Eu queria que algo, alguém, fosse responsável por isso – para que eu tivesse algo concreto contra o que lutar. Algo, alguma coisa para destruir, para que ela pudesse ficar a salvo.

Bella estava muito quieta; sua respiração acelerada.

Olhei para ela, sabendo que finalmente eu veria o medo que estava esperando. Eu não havia acabado de admitir o quão perto eu havia estado de matá-la? Mais próximo do que a van que ficou a meros centímetros de esmagá-la. Mesmo assim, seu rosto parecia calmo, seus olhos ainda apertados com preocupação.

“Você se lembra?” Ela tinha que se lembrar daquilo.

“Sim,” ela disse, com a voz calma e grave. Seus olhos profundos conscientes.

Ela sabia. Ela sabia que eu pensara em matá-la daquela vez.

Onde estavam os gritos?

“E ainda assim você está aqui,” eu disse, apontando a inerente contradição.

“Sim, eu estou aqui… por você.” Sua expressão se alterou agora curiosa, como se ela sutilmente houvesse mudado o assunto. “Porque de alguma forma você sabia como me encontrar hoje…?”

Mesmo sem chances, forcei mais uma vez a barreira que protegia seus pensamentos, desesperado para entender. Não fazia sentido nem tinha lógica para mim. Como ela podia se importar com o resto com aquela verdade sobre a mesa?

Ela esperou, apenas curiosa. Sua pele era pálida, o que era natural para ela, mas ainda me preocupava. Seu jantar permanecia intocado em sua frente. Se eu continuasse a lhe contar muito, ela iria precisar de proteção quando o choque passasse.

Resolvi meus termos. “Você come, eu falo.”

Ela pensou sobre aquilo por meio segundo e comeu um pouco com uma velocidade que parecia destoar de sua calma. Ela estava mais ansiosa pela minha resposta do que seus olhos demonstravam.

“É mais difícil do que deveria ser – manter você à vista,” eu lhe disse. “Geralmente eu posso encontrar alguém facilmente, uma vez que já tenha ouvido suas mentes antes.”

Observei seu rosto com cuidado quando disse isso. Adivinhar era uma coisa, obter a confirmação era outra.

Ela estava sem ação, seus olhos arregalados. Senti meus dentes rangerem enquanto esperava que ela entrasse em pânico.

Mas ela apenas piscou uma vez, engoliu fazendo barulho, e rapidamente mordeu mais um pedaço. Ela queria que eu continuasse.

“Eu estava me concentrando em Jessica,” continuei, observando cada palavra que saía. “Não cuidadosamente – como eu disse, só você poderia encontrar problemas em Port Angeles -” não resisti ao comentário. Será que ela sabia que outras vidas humanas não eram tão marcadas por experiências de quase morte, ou ela achava que era normal? Ela era a coisa mais fora do normal que eu já havia encontrado. “Primeiramente, não notei quando você saiu sozinha. Então, quando percebi que você não estava mais com ela, saí procurando você na livraria que vi na mente dela. Eu sabia que você não havia entrado, e que havia ido para o sul… e eu sabia que você teria que voltar logo. Então eu estava apenas esperando por você, procurando aleatoriamente pelos pensamentos das pessoas nas ruas – para ver se alguém havia notado você para que eu soubesse onde você estava. Eu não tinha motivos para me preocupar… mas eu estava estranhamente ansioso…” Minha respiração ficou mais rápida quando me lembrei da sensação de pânico. O cheiro dela alcançou minha garganta e eu estava contente. Era uma dor que significava que ela estava viva. Enquanto eu queimasse, ela estava a salvo.

“Comecei a dirigir em círculos, ainda… ouvindo.” Eu esperava que a palavra fizesse sentido para ela. Isso provavelmente era confuso. “O sol estava finalmente se pondo, e eu estava prestes a sair e te procurar a pé. E então –”

Enquanto a memória me voltava – perfeitamente clara e tão vívida como se eu estivesse naquele momento novamente – senti a mesma fúria assassina correndo por meu corpo, presa em gelo.

Eu o queria morto. Eu precisava dele morto. Meu maxilar endureceu enquanto me concentrava em me segurar na mesa. Bella ainda precisava de mim. Era isso que importava.

“Então o que?” ela murmurou, seus olhos escuros arregalados.

“Eu ouvi o que eles estavam pensando,” disse entre-dentes, incapaz de fazer as palavras saírem sem parecer um rosnado. “Eu vi seu rosto na mente dele.”

Eu mal podia resistir à vontade de matar. Eu ainda sabia precisamente onde encontrá-lo. Seus pensamentos ruins passeavam pela noite, como se me chamassem…

Cobri meu rosto, sabendo que minha expressão era a de um monstro, um caçador, um assassino. Fixei a imagem dela por trás de meus olhos para me controlar, concentrando-me apenas em seu rosto. A delicada moldura óssea, a fina camada de sua pele pálida – como seda esticada em vidro, incrivelmente macia, fina e fácil de estilhaçar. Ela era vulnerável demais para esse mundo. Ela precisava de um protetor. E, como um desvio do destino, eu era a coisa mais próxima que estava disponível.

Tentei explicar minha reação violenta para que ela pudesse entender.

“Foi muito… difícil – você não imagina o quão difícil – para mim apenas te tirar de lá e deixá-los… vivos” eu suspirei. “Eu poderia ter deixado você ir com Jessica e Angela, mas estava com medo de que se você me deixasse sozinho, eu iria atrás deles.”

Pela segunda vez esta noite, eu confessei a intenção de assassinato. Pelo menos esse era passível de defesa.

Ela estava quieta enquanto eu tentava me controlar. Escutei as batidas de seu coração. O ritmo era irregular, mas se acalmou conforme o tempo ia passando e agora estava estável novamente. Sua respiração também estava devagar e estável.

Eu estava muito próximo do limite. Eu precisava levá-la para casa antes…

Eu o mataria, então? Eu me tornaria um monstro novamente quando ela confiava em mim? Haveria alguma forma de me deter?

Ela havia prometido me contar sua mais nova teoria quando estivéssemos sozinhos. Eu queria ouvir? Estava ansioso por isso, mas será que a recompensa por minha curiosidade seria pior do que não saber?

De qualquer modo, ela já teria verdades o suficiente por aquela noite.

Olhei para ela novamente, e seu rosto estava mais pálido do que antes, mas composto.

“Está pronta para ir para casa?” perguntei.

“Estou pronta para ir,” ela disse, escolhendo as palavras com cuidado, como se um simples ‘sim’ não expressasse exatamente o que ela queria dizer.

Frustrante.

A garçonete retornou. Ela havia escutado a última frase de Bella enquanto caminhava para o outro lado da mesa, pensando no que mais ela poderia oferecer. Eu queria fingir que não estava ouvindo algumas das ofertas que ela tinha em mente.

“Como estamos?” ela me perguntou.

“Estamos prontos para pedir a conta, obrigado,” eu disse, meus olhos em Bella.

A respiração da garçonete deu um pico e ela estava momentaneamente – usando a frase de Bella – deslumbrada com a minha voz.

Num breve momento de percepção, escutando como minha voz soava na mente dessa humana inconseqüente, eu percebi por que eu parecia atrair tanta atenção naquela noite – ao contrário do medo de sempre.

Era por causa de Bella. Tentando tanto ser seguro para ela, para ser menos assustador, para seu humano, eu havia perdido meus limites. Os outros humanos viam beleza agora, com meu horror inato tão cuidadosamente sob controle.

Olhei para a garçonete, esperando que ela se recuperasse. Era um pouco engraçado, agora que eu sabia o motivo.

“Claro,” ela gaguejou. “Aqui está.”

Ela me estendeu a pasta com a conta, pensando no cartão que ela havia deixado embaixo do recibo. Um cartão com seu nome e telefone.

Sim, era realmente engraçado.

Eu já tinha o dinheiro pronto. Devolvi imediatamente a pasta, para que ela não perdesse tempo esperando um telefonema que nunca aconteceria.

“Sem troco,” eu disse, esperando que o tamanho da gorjeta compensasse seu desapontamento.

Levantei-me e Bella logo me seguiu. Eu queria lhe oferecer minha mão, mas pensei que talvez estivesse desafiando minha sorte um pouco demais por uma noite. Agradeci a garçonete, meus olhos nunca deixando o rosto de Bella. Bella parecia estar achando algo engraçado, também.

Saímos de lá, eu caminhando o mais perto quanto me era possível. Perto o suficiente para que o calor do corpo dela fosse como um toque físico contra o lado esquerdo do meu corpo. Enquanto eu segurava a porta para ela, ela suspirou de leve, e me perguntei o que a teria deixado triste. Encarei seu olhar, prestes a perguntar, quando ela de repente encarou o chão, parecendo envergonhada. Isso me deixou ainda mais curioso, ainda que relutante em perguntar. O silêncio entre nós continuou enquanto eu abria a porta do carro para ela e entrava no carro.

Liguei o aquecedor – o tempo mais quente havia de repente terminado; o frio do carro deveria ser desconfortável para ela. Ela se encolheu em minha jaqueta, um pequeno sorriso em seus lábios.

Esperei, adiando a conversa até que as luzes do painel apagassem. Isso me fez sentir ainda mais sozinho com ela.

Seria aquilo a coisa certa a se fazer? Agora que eu estava concentrado apenas nela, o carro parecia menor. Seu aroma dançava dentro com a corrente de ar do aquecedor, se intensificando e aumentando. Cresceu em sua força, como se fosse uma entidade própria dentro do carro. Uma presença que demandava ser notada.

E havia sido; eu queimei. A sensação era aceitável, no entanto. Parecia estranhamente apropriada para mim. Me havia sido dado tanto aquela noite – mais do que eu esperava. E aqui estava ela, ainda a meu lado por vontade própria. Eu devia algo em retorno. Um sacrifício, uma oferta em forma de queimação.

Agora, se eu pudesse manter as coisas daquele jeito; apenas queimação, e mais nada. Mas o veneno encheu minha boca, e meus músculos ficaram tensos em antecipação, como se eu estivesse caçando…

Eu precisava manter tais pensamentos longe de minha mente. E eu sabia o que me distrairia.

“Agora,” eu disse a ela, temendo sua resposta e me distraindo da sensação de queimado. “É sua vez.”

teoria

“Posso fazer só mais uma?” ela suplicou ao invés de responder ao meu pedido.

Eu estava nervoso, ansioso pelo pior. E ainda, como era tentador prolongar esse momento. Ter Bella comigo, de boa vontade, só por mais alguns segundos. Eu suspirei com o dilema, então disse, “Uma.”

“Bem…,” ela hesitou por um momento, como se estivesse decidindo qual pergunta ia fazer. “Você disse que sabia que eu não tinha entrado na livraria, e que eu tinha ido para o sul. Eu só estava me perguntando como você sabia disso.”

Eu olhei para além do pára-brisa. Esta era outra questão que não revelava nada sobre ela, e muito sobre mim.

“Eu pensei que não estávamos mais sendo evasivos.” ela disse, seu tom crítico e desapontado.

Que irônico. Ela estava sendo cruelmente evasiva sem se quer tentar.

Bem, ela me pediu para ser direto. E essa conversa não estava indo para nenhum lugar bom de qualquer forma.

“Tudo bem, então.” eu disse “Eu segui o seu cheiro.”

Eu queria ver o seu rosto, mas eu estava com medo do que eu ia ver. Ao invés disso, eu escutei a sua respiração acelerando e depois se estabilizando. Ela falou novamente após um momento, e a sua voz estava mais serena do que eu esperava.

“E você também não respondeu uma das minhas perguntas”, ela disse.

Eu olhei para baixo, em sua direção, com uma careta. Ela estava procrastinando, também.

“Qual delas?”

“Como funciona – essa coisa de ler mentes?” ela perguntou, reiterando a pergunta do restaurante. “Você pode ler a mente de todo mundo, em qualquer lugar? Como você faz isso? O resto da sua família pode…?” ela deixou sua voz morrer, corando novamente.

“Isso é mais que uma”, eu disse.

Ela somente me olhou, esperando pelas suas respostas.

E por que não contar a ela? Ela já adivinhava a maior parte disso, e esse assunto era mais fácil do que aquele que se aproximava.

“Não, sou só eu. E eu não consigo ouvir qualquer um, em qualquer lugar. Eu tenho que estar pelo menos um pouco perto. Quanto mais familiar é a… voz de alguém, de mais longe eu posso ouví-la. Mas ainda assim, não mais longe que alguns quilômetros.” Eu tentei pensar em uma maneira de descrever isso de uma forma que soasse compreensível. Uma analogia a qual ela podia relacionar. “É como estar num corredor enorme e cheio de gente, todos falando ao mesmo tempo. É só um ruído – um zumbido de vozes no fundo. Até que eu me concentro em uma das vozes, e aí o que ela está pensando se torna claro. Na maioria das vezes eu desligo todas – se não eu posso me distrair demais. E então fica mais fácil parecer normal-” eu fiz uma careta “-Isso quando eu não estou respondendo acidentalmente ao pensamento das pessoas e não á suas vozes”.

“Porque será que você não pode me ouvir?”, ela se admirou.

“Eu não sei”, eu admiti. “A única suposição é que talvez a sua mente não trabalhe da forma como a deles trabalha. Como se os seus pensamentos estivessem na freqüência AM quando eu só posso ouvir Fm”.

Eu percebi que ela poderia não gostar dessa analogia. A antecipação da sua reação me fez sorrir. Ela não me desapontou.

“Minha mente não trabalha direito?” ela perguntou, sua voz se ergueu com desgosto. “Eu sou uma aberração?”

Ah, a ironia de novo.

“Eu ouço vozes na minha cabeça e você preocupada que você a aberração”. Eu ri. Ela entendeu todas as coisas pequenas, e ainda assim ela ignorava as grandes. Sempre os instintos errados…

Bella estava mordendo o seu lábio, e as rugas por entre seus olhos estavam profundas.

“Não se preocupe” eu assegurei a ela “É apenas uma teoria…” e havia uma teoria mais importante para ser discutida. Eu estava ansioso para chegar nela. Cada segundo que se passava parecia mais e mais como um tempo roubado.

“O que nos leva de volta a você” eu disse, dividido em dois, ambos ansiosos e relutantes.

Ela suspirou, ainda mordendo seu lábio – eu estava preocupado que ela se machucasse. Ela me olhou nos olhos, seu rosto confuso.

“Nós não deixamos de ser evasivos?” eu perguntei calmamente.

Ela olhou para baixo, se debatendo com algum dilema interno. De repente, ela endureceu e seus olhos se arregalaram. O medo passou por seus olhos pela primeira vez.

“Minha nossa!” ela gaguejou.

Eu entrei em pânico. O que ela tinha visto? Como que eu tinha a apavorado?

Então ela gritou. “Diminua!”.

“Qual é o problema?” eu não entendi da onde que o seu terror estava vindo.

“Você está indo á quase duzentos por hora!” ela gritou para mim. Ela olhou para fora da janela e se recolheu às árvores negras passando rapidamente por nós.

Essa coisinha pequena, só um pouco de velocidade, fez ela gritar em pavor?

Eu revirei meus olhos. “Relaxe, Bella”.

“Você está tentando nos matar?”, ela perguntou, sua voz alta e firme.

“Nós não vamos bater”. Eu prometi a ela.

Ela deu uma inspirada ansiosa, e então ela disse em um tom levemente moderado. “Porque você está com tanta pressa?”

“Eu sempre dirijo assim.”

Eu olhei para seus olhos me encarando, divertido com a sua expressão chocada.

“Mantenha os olhos na estrada!” ela gritou.

“Eu nunca sofri um acidente, Bella – eu nunca sequer levei uma multa.” Eu sorri e então eu toquei a minha testa. Isso fez com que parecesse mais cômico – a falta de lógica de ser capaz em fazer piadas com ela sobre algo tão secreto e estranho. “Detector de radar embutido”.

“Muito engraçado”, ela disse de forma sarcástica, sua voz mais amedrontada do que com raiva. “Charlei é um policial, lembra? Eu fui criada para obedecer todas as leis de trânsito. Além do mais, se você bater o Volvo e transformá-lo numa sanfona, provavelmente você vai se levantar e sair dele”.

“Provavelmente” eu repeti, e então eu ri sem humor. Sim, nós iríamos pagar um preço um pouco diferente em um acidente de carro. Ela estava certa em estar com medo, a respeito do meu modo de dirigir… “Mas você não”.

Com um suspiro, eu deixei o carro diminuir de velocidade. “Feliz?”

Ela olhava o velocímetro “Quase”.

Isso ainda estava muito rápido para ela? “Eu odeio dirigir devagar”, eu murmurei, mas deixei o ponteiro cair mais um pouco.

“Isso é devagar?” ela perguntou.

“Chega de comentários sobre como eu dirijo” eu disse impacientemente. Quantas vezes até agora ela desviou da minha pergunta? Três vezes? Quatro? As suas especulações eram tão horríveis? Eu tinha que saber – imediatamente. “Eu ainda estou esperando pela sua última teoria”.

Ela mordeu o seu lábio de novo, e sua expressão se tornou preocupada, quase com dor.

Eu dominei a minha impaciência e suavizei a minha voz. Eu não queria que ela ficasse estressada.

“Eu não vou rir” eu prometi, desejando que esse fosse o único obstáculo que a estivesse hesitando em falar.

“Eu estou com mais medo que você fique com raiva de mim” ela suspirou.

Eu forcei a minha voz para continuar “É assim tão ruim?”

“Em grande parte, sim.”

Ela olhou para baixo, se recusando a olhar em meus olhos. Os segundos passavam.

“Vá em frente” eu encorajei.

Sua voz era baixa “Eu não sei como começar”.

“Por que você não começa pelo começo?” eu a lembrei de suas palavras antes do jantar. “Você disse que não foi você quem criou essa teoria”.

“Não” ela concordou, e então estava em silêncio de novo.

Eu pensei em várias coisas que podiam tê-la inspirado. “Onde você a encontrou – num livro? Um filme?”

Eu devia ter dado uma olhada em sua coleção quando ela estava fora da casa. Eu não tinha nem idéia se Bram Stoker ou Anne Rice estavam naquela pilha de livros usados…

“Não” ela disse de novo “Foi Sábado, na praia”.

Por essa eu não esperava. A bisbilhotice local sobre nós nunca tinha dado em nada tão bizarro – ou tão preciso. Tinha algum novo rumor que eu tinha perdido? Bella desviou o olhar de suas mãos e viu a surpresa em meu rosto.

“Eu dei de cara com um amigo antigo da família – Jacob Black” ela continuou “O pai dele e Charlie são amigos desde que eu era bebê.”

Jacob Black – o nome não me era familiar, e mesmo assim me lembrava de alguma coisa… algum tempo, há um tempo atrás… eu encarei o pára-brisa, procurando através das memórias tentando achar alguma conexão.

“O pai dele é um dos anciões Quileute” ela disse.

Jacob Black. Ephraim Black. Um descendente, sem dúvida.

Isso era tão mal quanto eu podia imaginar.

Ela sabia da verdade.

Minha mente estava voando pelas ramificações enquanto o carro passava ao redor das curvas escuras da estrada, meu corpo rígido, com angústia – se movimentando apenas o necessário e automáticas ações para dirigir o carro.

Mas… se ela tinha descoberto a verdade no sábado… então ela sabia disso a noite toda… e ainda assim…

“Nós fomos dar uma volta” ela continuou. “- Ele estava me contando umas histórias antigas – tentando me assustar, eu acho. Ele me contou uma…”

Ela parou, mas não havia necessidade para ela ficar apreensiva agora; eu sabia o que ela ia dizer. O único mistério que sobrava era por que ela estava sentada comigo agora.

“Vá em frente”, eu disse.

“Sobre vampiros” ela respirou, as palavras saíram mais baixas do que um suspiro.

De alguma forma, isso era ainda pior do que saber que ela sabia, a ouvir dizer a palavra em alto e bom som. Eu recuei com o som disso, e então eu me controlei novamente.

“E você imediatamente pensou em mim?” eu perguntei.

“Não. Ele… mencionou sua família”.

Quão irônico seria que o próprio progenitor de Ephraim ter violado o trato que ele próprio fez um juramento para mantê-lo. Um neto, ou bisneto que seja. Quantos anos tinham se passado? Dezessete?

Eu devia ter percebido que não era aquele velho que acreditava nas lendas que seria o perigo. É claro, a nova geração – os quais deviam ter sido alertados, mas devem ter pensado que as superstições dos mais velhos eram ridículas – é claro que aí que estaria o perigo da exposição.

Eu supus que isso significava que agora eu era livre para matar a pequena, indefesa tribo do litoral, a qual eu estava tão disposto.

“Ele só achava que era uma superstição boba.” Bella disse de repente, sua voz aguçou com uma nova ansiedade. “Ele não esperava que eu pensasse nada dela.”

Pelo canto dos olhos, eu vi as suas mãos se contorcerem inquietamente.

“Foi minha culpa” ela disse após uma breve pausa, então ela inclinou a sua cabeça como se estivesse envergonhada “Eu forcei ele a me dizer.”

“Por que?” Não era difícil manter o nível de minha voz agora. O pior já tinha passado. Enquanto ela falava dos detalhes da revelação, nós não tínhamos que nos mover para as conseqüências disso.

“Lauren disse uma coisa sobre você – ela estava tentando me provocar.” Ela fez uma pequena careta com a memória. Eu fiquei levemente distraído, imaginando como que Bella poderia ter sido provocada por alguém falando sobre mim. “E um garoto mais velho da tribo disse que vocês não iam até lá, só que pra mim pareceu que ele quis dizer outra coisa. Então eu fiquei sozinha com Jacob e tirei a verdade dele”.

A sua cabeça caia cada vez mais à medida que ela admitia isso, e a sua expressão parecia… culpada.

Eu olhei para longe dela e ri alto. Ela se sentia culpada? O que ela poderia ter feito para merecer qualquer tipo de censura?

“Como foi que você forçou ele a contar?” eu perguntei.

“Eu tentei flertar com ele – e funcionou melhor do que eu imaginava” ela explicou e sua voz se tornou incrédula com a memória desse sucesso.

Eu conseguia imaginar – considerando a atração que ela parecia exercer sobre os machos, totalmente inconsciente disso – o quanto irresistível ela conseguia ser quando ela tentava ser atraente. Eu estava subitamente cheio de pena pelo garoto inocente no qual ela jogou tamanho poder.

“Eu queria ter visto isso” eu disse, e então eu ri de novo com humor negro. Eu gostaria de ter ouvido a reação do garoto, testemunhado a devastação para mim mesmo. “E você me acusando de deslumbrar as pessoas – pobre Jacob Black.”

Eu não estava tão zangado com a fonte de minha exposição quanto eu achava que ia ficar. Ele não sabia. E como que eu podia esperar que alguém negasse a essa garota o que quer que ela quisesse? Não, eu somente sentia simpatia pelo dano que ela teria causado a esse pedaço de mente.

Eu senti-a corar, aquecendo o ar entre nós. Eu a encarei, mas ela estava olhando para fora da janela. Ela não falou novamente.

“O que você fez depois?” Eu perguntei. Hora de voltar para a história de terror.

“Pesquisei um pouco na internet.”

Sempre prática. “E isso a convenceu?”

“Não” Ela disse. “Nada se encaixa. A maioria era meio boba. E então…”

Ela parou de falar novamente, e eu ouvi seus dentes rangerem.

“O quê?” Eu exigi. O que ela tinha encontrado? O que tinha feito o sentimento de pesadelo para ela?

Houve uma breve pausa, e em seguida, ela sussurrou, “Concluí que não importava.”

Ela congelou meus pensamentos por quase um segundo, e depois tudo estava claro. Porque ela preferia despachar seus amigos para longe esta noite do que escapar com eles. Por que ela havia entrado no meu carro comigo novamente, ao invés de sair correndo, chamando a polícia.

Suas reações sempre estavam erradas – sempre completamente erradas… Ela puxava o perigo para si própria. Ela convidava-o.

“Não importava?” Eu disse entre dentes, me enchendo de raiva. Como eu era capaz de proteger alguém tão… tão… tão determinada a ser desprotegida?

“Não,” ela disse com uma voz tão calma que era inexplicável.

Ela era impossível.

“Você não liga que eu seja um monstro? Que eu não seja humano?”

“Não.”

Eu percebi que ela estava estável.

Eu supostamente deveria providenciar que ela tivesse o maior cuidado possível… Carlisle teria as conexões para encontrar o seu médico mais hábil, o mais talentoso terapeuta. Talvez algo pudesse ser feito para corrigir o que estivesse de errado com ela, o que quer que fosse que a fazia contente de sentar ao lado de um vampiro que fazia seu coração bater calmamente e constantemente. Eu vigiaria o local naturalmente, e visitaria com a freqüência que me fosse permitida…

“Você está com raiva,” ela suspirou, “Eu não devia ter dito nada.”

Como se ela escondesse essas perturbantes tendências que podiam contribuir com nós dois.

“Não. Queria mesmo saber o que você estava pensando… mesmo que o que você pensa seja loucura.”

“Então estou errada de novo?” perguntou ela, agora um pouco beligerante.

“Não é a isso que estou me referindo” meus dentes se trincaram novamente “Não importa!” Eu repeti em um tom destruidor.

Ela ofegou, “Eu estou certa?”

“Isso importa?”

Ela tomou uma respiração profunda. Esperei furioso a sua resposta.

“Na verdade, não…” Ela parou, recompondo sua voz de novo. “Mas estou curiosa.”

Não mesmo. Ela realmente não se importava. Ela não tinha cuidado. Ela sabia que eu era desumano, um monstro, e isso realmente não importava para ela.

Independente das minhas preocupações sobre sua sanidade, eu comecei a sentir um pouco de esperança. Eu tentei acabar com isso.

“Está curiosa com o quê?” Eu perguntei. Não havia segredos, apenas detalhes.

“Quantos anos você tem?” Ela perguntou.

Minha resposta foi automática e impregnada. “Dezessete.”

“E há quanto tempo tem 17 anos?”

Eu tentei não sorrir para padronizar o tom. “Há algum tempo,” eu admiti.

“Tudo bem,” ela disse satisfeita. Sorrindo para mim. Eu voltei a encarar, cada vez mais preocupado com sua saúde mental. Ela deu um sorriso mais largo. Eu franzi a testa.

“Não ria,” ela alertou “Mas como pode sair durante o dia?”

Eu ri apesar de sua pergunta. Sua investigação não tinha nada incomum, pelo menos parecia. “Mito,” eu disse a ela.

“Queimado pelo sol?”

“Mito.”

“Dormir em caixões?”

“Mito.”

Dormir já não era parte da minha vida há muito tempo – até que nas últimas noites, eu assisti Bella dormindo…

“Não posso dormir.” Eu murmurei respondendo a sua pergunta mais difícil.

“Nunca?”

“Nunca,” eu sussurrei.

Eu encarei seus olhos, sob a espessa franja de cílios, e senti saudades de dormir. Não foi pelo inconsciente, como tinha antes, para não fugir do tédio, mas porque eu queria sonhar. Talvez se eu pudesse ficar inconsciente, se eu pudesse sonhar, eu pudesse viver por algumas horas em um mundo que ela vivia, junto com ela. Ela sonhava comigo. Eu queria sonhar com ela.

Ela olhou para mim, sua expressão era mais que maravilhosa. Eu tinha a aparência distante.

Eu não podia sonhar com ela. Ela não deveria poder sonhar comigo.

“Ainda não me fez a pergunta mais importante,” Eu disse, meus olhos estavam mais frios e rudes do que antes. Ela teve de forçar para compreender. Em algum momento, ela teria de perceber o que agora eu estava fazendo. Ela devia ser obrigada a ver que isso era tudo o que importava – mais que qualquer outra consideração. Considerações como o fato que eu amava ela.

“Qual?” Ela perguntou, surpresa e não entendendo.

Isso só fez minha voz ficar rude. “Não está preocupada com a minha dieta?”

“Ah, isso.” Ela falou em um tom calmo que eu não pude interpretar.

“É, isso. Quer saber se eu bebo sangue?”

Ela encolheu com medo por minha pergunta. Finalmente. Ela entendeu.

“Bom, o Jacob disse alguma coisa sobre isso.” Ela disse.

“O que o Jacob disse?”

“Disse que vocês não… caçam pessoas. Disse que sua família não devia ser perigosa porque vocês só caçavam animais.”

“Ele disse que não éramos perigosos?” Eu disse ceticamente.

“Não exatamente,” ela deixou claro. “Ele disse que vocês não deviam ser perigosos. Mas os quileutes ainda não querem vocês na terra deles, por segurança.”

Eu olhei para a estrada.

Meus pensamentos perdidos fizeram meus dentes rangerem. Minha garganta doeu com um familiar desejo queimante.

“E aí?” Ela perguntou, como se ela se confirmar um relatório meteorológico. “Ele tem razão sobre não caçar pessoas?”

“Os quileute tem boa memória,”

Ela balançou a cabeça consigo mesma, pensando duramente.

“Mas não permita que isso a deixe complacente,” Eu disse apertando. “Eles tem razão em manter a distância de nós. Ainda somos perigosos.”

“Não entendi.”

“Nós tentamos,” eu contei, “Em geral somos muito bons no que fazemos. Às vezes cometemos erros. Eu, por exemplo, me permitindo ficar sozinho com você.”

“Isso é um erro?” Ela perguntou, e eu senti a tristeza em sua voz. O som me desarmou. Ela queria ser minha – apesar de tudo, ela queria estar comigo. A esperança cresceu de novo, e eu vibrei novamente.

“Um erro muito perigoso,” eu disse com sinceridade, esperando realmente que o assunto se cessasse.

Ela não respondeu por um momento. Ouvi sua respiração mudar – se alterando estranhamente para um modo que não soava como medo.

“Me conte mais,” ela disse de repente, sua voz estava distorcida pela angústia.

Ela me examinou cuidadosamente.

“O que mais quer saber?” eu perguntei, tentando pensar numa maneira de respondê-la sem fazer doer. Ela não devia sentir dor. Eu não podia feri-la.

“Me conte porque que vocês caçam animais em vez de gente,” ela disse, ainda angustiada.

Isso não era evidente? Ou talvez isso não tenha interessado a ela.

“Eu não quero ser um monstro,” eu murmurei.

“Mas os animais não bastam?”

Eu procurei outro modo de comparar, da forma que ela pudesse entender. “É claro que eu não posso ter certeza, mas comparo isso a viver de tofu e leite de soja; nós nos dizemos vegetarianos, nossa piadinha particular. Não sacia completamente a fome… ou melhor, a sede. Mas isso nos mantém fortes o suficiente para resistir. Na maior parte do tempo.” A minha voz ficou mais baixa; fiquei envergonhado do perigo que ela corria. Perigo que eu continuava deixando correr… “Algumas vezes é mais difícil do que em outras.”

“Está muito difícil para você agora?”

Eu suspirei. É claro que ela ia fazer essa pergunta, eu não queria responder. “Sim,” Eu admiti.

Eu esperava sua resposta fisicamente correta, desta vez; a sua respiração estava estável, seu coração ainda se mantinha em seu padrão. Eu a esperava, não entendendo. Como ela não podia ter medo?

“Mas agora não está com fome,” ela disse, muito segura de si.

“Porque pensa assim?”

“Seus olhos” Ela disse com um tom improvisado. “Eu disse que tinha uma teoria. Percebi que as pessoas, em particular os homens, ficam mais rabugentos quando estão com fome.”

Eu ri de sua descrição: rabugento. Parei um pouco. Mas ela estava completamente certa, como de costume. “Você é bem observadora, não é?” Eu sorri novamente.

Ela sorriu um pouco, e voltou os olhos aos meus, como se estivesse se concentrando em algo.

“Foi caçar no fim de semana, com Emmett?”

Ela perguntou depois de rir do meu sorriso que havia sumido. A forma casual que ela falou foi tão como fascinante como frustrante. Ela podia realmente entender tanto? Eu parecia tanto estar em choque, que ela pareceu ter percebido.

“Fui,” eu tornei a dizer, depois, como estava com permissão de continuar com isso, eu senti a mesma urgência que senti antes no restaurante: eu queria que ela me conhecesse. “Eu não queria ir,” fui dizendo lentamente, “mas era necessário. É muito mais fácil ficar perto de você quando não estou com sede.”

“Por que você não queria ir?”

Eu respirei profundamente, e em seguida, eu tornei a encarar seus olhos. Este tipo de honestidade era difícil, de uma forma muito diferente. “Me deixa… angustiado..” Eu supus que essa palavra fosse suficiente, embora ela não fosse suficientemente forte. “Ficar longe de você. Eu não estava brincando quando lhe pedi para tentar não cair no mar nem ser atropelada na quinta passada. Fiquei disperso o fim de semana todo, preocupado com você. E depois do que aconteceu essa noite, é uma surpresa que você tenha passado por todo o fim de semana ilesa.” Então eu lembrei dos arranhões na palma de suas mãos. “Bom, não totalmente ilesa.”

“Como é?”

“Suas mãos,” eu lembrei ela.

Ela suspirou e fez uma careta. “Eu caí.”

Eu certamente adivinhei. “Foi o que eu pensei.” Eu disse, incapaz de conter o meu sorriso. “Imagino que, sendo você, podia ter sido muito pior… Essa possibilidade me atormentou o tempo todo em que estive fora. Foram três dias muito longos. Eu dei nos nervos de Emmett.”

Honestamente; isso não fazia parte do passado. Eu ainda estava provavelmente, irritando Emmett. E todo o resto da minha família também. Exceto por Alice…

“Três dias?” Sua voz ficou afiada repentinamente. “Não voltou hoje?”

Eu não entendi o corte em sua voz. “Não, voltamos no sábado.”

“Então por que nenhum de vocês foi à escola?” ela exigiu. Sua irritação me confundiu. Ela não parecia ter percebido que era uma questão relacionada com a mitologia novamente.

“Bom, você perguntou se o sol me machucava, e não machuca.” Eu disse. “Mas não posso sair na luz do sol… Pelo menos, não onde todo mundo possa ver.”

Ela se desviou do seu mistério incomodo. “E por quê?” ela inclinou a cabeça para o lado.

Eu tinha dúvidas com a analogia apropriada para explicar isso. Então eu contei a ela, “Um dia eu mostro,” E então eu me perguntei se essa era uma promessa que eu acabaria quebrando. Eu iria vê-la depois desta noite? Eu a amava o suficiente para mantê-la longe?

“Podia ter me ligado,” ela disse.

Que estranha conclusão, “Mas eu sabia que estava segura.”

“Mas eu não sabia onde você estava. Eu…” Ela interrompeu de uma maneira repentina, e olhou para suas mãos.

“O quê?”

“Não gosto disso,” ela disse com timidez, com sua pele corando ao longo de suas maçãs. “Não ver você. Me deixa angustiada também.”

“Você está feliz agora?” eu disse a mim mesmo. Bem, aquilo foi a recompensa que eu estava esperando.

Eu estava perplexo, feliz, horrorizado, principalmente horrorizado – para perceber que minha louca imaginação não estava longe de notar. Foi por esta razão que não importava eu ser um monstro. Foi exatamente a mesma razão que fazia as regras não importarem para mim. Porque o certo e o errado já não eram incontornáveis influências. Porque todas as minhas prioridades tinham deslocado um degrau para baixo para dar espaço a esta menina na parte superior.

Bella se importava comigo, também.

Eu sabia que poderia não ser nada, comparado com a forma que ela me amava. Mas era suficiente para que ela arriscasse sua vida ao se sentar aqui comigo. Para fazer isso com prazer.

O suficiente para causar dor, se ela fizesse a coisa certa e me deixasse.

Havia alguma coisa que pudesse fazer agora que não fosse prejudicá-la? Absolutamente nada? Eu devia permanecer afastado. Eu nunca devia ter voltado a Forks. Só iria lhe provocar dor, mais nada.

A forma como me senti no momento, senti seu calor contra minha pele.

Não. Nada iria me parar.

“Ah,” eu gemi comigo mesmo. “Isso é um erro.”

“O que eu disse?” ela perguntou, rapidamente se culpando.

“Não vê, Bella? Uma coisa é eu mesmo ficar infeliz, outra bem diferente é você se envolver tanto. Não quero ouvir que você se sente assim.” Era a verdade, era uma mentira.Mas o egoísmo dentro de mim estava voando com o conhecimento de que ela queria o que eu queria que ela quisesse. “Está errado. Não é seguro. Eu sou perigoso, Bella… Por favor, entenda isso.”

“Não,” seus lábios estavam com uma pontada de petulância.

“Estou falando sério,”

Eu estava lutando comigo mesmo tão fortemente – meio desesperado para ela aceitar, meio desesperado para manter as advertências de fugir – que vinham entre dentes, comigo quase rugindo.

“Eu também,” ela insistiu, “Eu disse, não importa o que você seja. É tarde demais.”

Muito tarde? O mundo era desoladamente preto e branco para um interminável segundo, eu assisti as sombras se espalhando sobre todo gramado ensolarado em direção a forma de Bella dormindo na minha memória. Inevitável, impossível de parar. Eles roubavam a cor de sua pele, e ela mergulhava nas trevas.

Muito tarde? A visão de Alice fez minha cabeça girar, os olhos vermelhos do sangue de Bella me fizeram a fitar os olhos impassível. Inexpressivo – mas não havia nenhuma maneira que ela não pudesse me odiar por esse futuro. Me odiar por roubar tudo dela. Roubando sua vida e sua alma.

Eu não podia deixar ser tão tarde.

“Nunca mais diga isso,” eu assobiei.

Ela desviei o olhar para o lado de fora da janela, e mordeu os lábios novamente. Suas mãos estavam apertadas sobre seu colo. Sua respiração se amarrou, e quebrou.

“No que está pensando?” eu tinha que saber.

Ela sacudiu a cabeça, sem olhar para mim. Eu vi uma coisa brilhar, como um cristal, em sua bochecha.

Agonia. “Está chorando?” Eu havia feito ela chorar. Eu não gostei de tê-la ferido.

Ela esfregou as mãos sobre seu rosto.

“Não,” ela mentiu, sua voz estava falha.

Algum instinto enterrado me fez estender a mão para pegar ela – naquele pequeno segundo eu me senti mais humano que nunca. E então eu me lembrei que eu… Não era. E então eu abaixei minha mão.

“Desculpe,” Eu disse, minha mandíbula trancada. Como eu poderia dizer a ela o quanto eu estava arrependido? Arrependido por todos os estúpidos erros que eu tinha cometido. Arrependido pelo meu egoísmo sem fim. Arrependido por ela ter inspirado em mim o meu primeiro e trágico amor. Arrependido também das coisas além do meu controle – que eu podia ser o monstro escolhido pelo destino para acabar com a vida dela em primeiro lugar.

Eu respirei fundo – ignorando a minha reação triste ao sabor no carro – e tentei me recompor.

Eu tentei mudar de assunto, pensar em outra coisa. Para a minha sorte, a minha curiosidade sobre essa garota continuava instável. Eu sempre tinha uma pergunta.

“Me diga alguma coisa,” eu disse.

“Sim?” ela perguntou roucamente, as lágrimas ainda estava em sua voz.

“O que você estava pensando hoje à noite, um pouco antes de eu aparecer na esquina? Eu não consegui entender sua expressão – você não parecia assustada, você parecia concentrada muito concentrada em alguma coisa.” Eu lembrei do rosto dela – forçando eu mesmo a esquecer aqueles olhos pelos quais eu estava olhando – o olhar de determinação lá.

“Tentava me lembrar de como incapacitar um agressor…” ela disse, sua voz um pouco mais composta. “Sabe como é, defesa pessoal . Eu ia esmagar o nariz dele no cérebro.”

A sua calma não durou ao fim da sua explicação. O seu tom torceu-se até que ele fervesse em ódio.

Isso não foi nenhuma hipérbole, e sua fúria de gatinha agora não era engraçada.

Eu podia ver sua frágil figura – apenas seda por cima do vidro – ofuscada pelo desejo pesado da carne – cruel dos monstros humanos que poderiam ter machucado ela. A fúria explodiu de novo em minha cabeça.

“Você ia lutar com eles?” eu queria urrar. Seus instintos eram mortais para ela mesmo. “Não pensou em correr?”

“Eu caio muito quando corro,” ela disse com vergonha.

“E gritar por ajuda?”

“Eu ia chegar nesta parte.”

Eu balancei minha cabeça desacreditado. Como ela conseguiu se manter viva antes de vir para Forks?

“Você tem razão,” eu disse a ela, avancei com minha voz irritada.

“Definitivamente estou lutando contra o destino tentando manter você viva.”

Ela suspirou, e olhou para fora da janela. E então ela olhou de volta para mim.

“Vou ver você amanhã?” ela exigiu abruptamente.

Desde de que eu já estava no meu caminho para o inferno – eu poderia aproveitar a jornada.

“Vai… também tenho que entregar um trabalho.” Eu sorri para ela, e me senti bem com isso. “Vou guardar um lugar pra você no refeitório.”

Eu ouvi o coração dela palpitar; meu coração morto repentinamente se sentiu aquecido.

Eu parei o carro em frente à casa do pai dela. Ela não fez nenhum movimento para me deixar.

“Promete estar lá amanhã?” ela insistiu.

“Prometo.”

Como fazer a coisa errada podia me dar tanta alegria? Claro que havia algo de explícito nisso.

Ela acenou com a cabeça para ela mesma, satisfeita, e começou a tirar minha jaqueta.

“Você pode ficar com ele” eu assegurei rapidamente para ela. Eu queria muito deixá-la com algo meu. Um símbolo, como a tampa de garrafa que estava em meu bolso agora… “Você não tem um para usar amanhã.”

Ela estendeu-o para mim, sorrindo tristemente. “Eu não quero ter que explicar ao Charlie”.

Eu imaginava que não. Eu sorri para ela. “Oh, tudo bem”.

Ela colocou a mão na maçaneta do carro e então parou. Relutante em ir embora, assim como eu estava relutante por ela ir.

Por tê-la sem proteção, mesmo que por alguns momentos…

Peter e Charlotte estavam indo por seus caminhos agora, em direção a Seatlle, sem dúvida. Mas há sempre outro. Esse mundo não era um lugar seguro para nenhum humano, e para ela parecia ainda mais perigoso do que para o resto.

“Bella?” eu chamei, surpreso com o prazer de simplesmente dizer o seu nome.

“Sim?”

“Me promete uma coisa?”

“Sim” ela concordou facilmente, então seus olhos se estreitaram como se ela tivesse encontrado uma razão para se opor.

“Não vá à floresta sozinha”. Eu a avisei, imaginando se esse pedido seria a razão da objeção em seus olhos.

Ela piscou, surpresa. “Por quê?”

Eu olhei fixamente em direção à escuridão nem um pouco confiável. A carência de luz não era problema para os meus olhos, mas também não seria problema pra qualquer outro caçador. Ela somente cegava os humanos.

“Nem sempre eu sou a coisa mais perigosa lá fora.” Eu disse a ela “Vamos ficar aqui”.

Ela se arrepiou, mas se recompôs rapidamente e estava sorrindo quando me disse “Como você quiser”.

Sua respiração tocou o meu rosto, tão doce e perfumada.

Eu podia ficar aqui a noite toda desse jeito, mas ela precisava dormir. Os dois desejos pareciam igualmente fortes enquanto eles continuavam batalhando dentro de mim: querer ela versus querer que ela ficasse a salvo.

Eu suspirei sobre as duas possibilidades. “Até amanhã”, eu disse, sabendo que eu iria vê-la muito mais cedo que isso. Ela não iria ME ver até amanhã, no entanto.

“Até amanhã, então” ela concordou enquanto abria a porta.

Aflição novamente, a vendo partir.

Eu me inclinei atrás dela, querendo segurá-la aqui. “Bella?”

Ela se virou e então congelou, surpresa por ver nossos rostos tão perto.

Eu, também, estava estupefato pela proximidade. O calor que emanava dela acariciava meu rosto. Eu conseguia até sentir o toque de veludo de sua pele…

As batidas de seu coração hesitaram, e seus lábios cheios se abriram.

“Durma bem” eu suspirei e me afastei antes que a urgência de meu corpo – ou a sede familiar ou esse novo desejo humano que eu senti de repente – me fizesse fazer algo que pudesse machucá-la.

Ela permaneceu sentada sem se movimentar por alguns momentos, seus olhos arregalados e atordoados. Deslumbrada, eu pensei.

Assim como eu estava.

Ela se recuperou – apesar de seu rosto ainda estar um pouco confuso – e saiu estranhamente do carro, com passos curtos e tendo que se segurar nas laterais do carro para se endireitar.

Eu ri – na esperança que tenha sido baixo o suficiente para ela não ouvir.

Eu a vi tropeçando pelo caminho até a parte iluminada que vinha da porta da frente. Segura por enquanto. E eu voltaria em breve para ter certeza.

Eu podia sentir seus olhos me acompanhando enquanto eu dirigia pela rua escura. Uma sensação tão diferente do que eu estava acostumado. Normalmente, eu simplesmente me veria através dos olhos da pessoa, onde eu estaria na mente. Isso era estranhamente excitante – essa sensação incompreensível de estar sendo vigiado. Eu sabia que isso era somente por serem seus olhos.

Um milhão de pensamentos passou ferozmente um atrás do outro pela minha cabeça enquanto eu dirigia sem rumo pela noite.

Por um bom tempo eu circulei pelas ruas, indo para lugar algum, pensando em Bella e na libertação de ter a verdade descoberta. Não mais eu teria que ter medo de ela descobrir o que eu era. Ela sabia. E não importava para ela. Mesmo que fosse obviamente uma coisa ruim para ela, era impressionantemente libertador para mim.

Mais que isso, eu pensava em Bella e no amor compensatório. Ela não podia me amar da forma como eu a amava – de um jeito tão poderoso, extremamente intenso, consumir esse amor iria provavelmente quebrar o seu corpo frágil. Mas ela se sentia forte o suficiente. O suficiente para subjugar o medo instintivo. O suficiente para querer estar perto de mim. E estar com ela era a maior felicidade que eu podia conhecer.

Por um tempo – eu estive totalmente sozinho e não machucando ninguém de qualquer forma – eu me permiti sentir aquela felicidade sem resultar em tragédia. Somente sendo feliz por ela se importar comigo. Somente me regozijando por ter ganhado a sua afeição. Somente imaginando dia após dia sentado ao seu lado, ouvindo sua voz e recebendo seus sorrisos.

Eu re-vi aquele sorriso em minha cabeça, observando seus lábios cheios se erguerem nos cantos, um sinal de uma covinha que se mostrava na ponta de seu queixo, o modo como seus olhos se aqueciam e derretiam… Seus dedos tinham um toque tão quente e delicado em minha mão essa noite. Eu imaginava em como devia ser tocar a sua delicada pele que se esticava por cima de suas bochechas – sedoso, quente… tão frágil. Seda por cima de vidro… espantosamente quebrável.

Eu não podia ver para onde os pensamentos estavam indo até que fosse muito tarde. Enquanto eu discorria sobre aquela vulnerabilidade devastadora, novas imagens de seu rosto se introduziram em minhas fantasias.

Perdida nas sombras, pálida de medo – ainda assim sua mandíbula firme e determinada, seus olhos ferozes, cheios de concentração, o seu corpo delgado fixado em bater nas formas pesadas que se reuniram em volta dela, pesadelos na escuridão…

“Ah,” eu rosnei enquanto a raiva crescente que eu havia esquecido na alegria de amá-la queimava novamente como um inferno de ódio.

Eu estava sozinho. Bella estava, eu acreditava, salva em sua casa; por um momento eu estava ferozmente feliz que Charlie Swan – o braço forte da lei local, treinado e armado – fosse seu pai. Isso devia significar alguma coisa, como providenciar alguma proteção a ela.

Ela estava segura. Não me levaria muito tempo para eu me vingar daquele ultraje…

Não. Ela merecia coisa melhor. Eu não podia me permitir que ela se importasse com um assassino.

Mas… e quanto às outras?

Bella estava segura, sim. Angela e Jessica também com certeza, seguras em suas camas.

Ainda assim tinha um monstro solto pelas ruas de Port Angeles. Um monstro humano – isto faria dele um problema dos humanos? Cometer o crime pelo qual ansiava era errado.

Eu sabia disso. Mas deixá-lo livre para atacar de novo também não podia ser a coisa certa.

A maitre loira do restaurante. A garçonete que eu não tinha prestado atenção. As duas me irritaram de jeitos insignificantes, mas isso não significava que mereciam ficar em perigo.

Uma das duas podia ser a Bella de alguém.

Essa realização me decidiu.

Virei o carro para o norte, acelerando agora que tinha um propósito. Sempre que eu tinha um problema além de mim – algo tangível como isso – sabia onde podia procurar ajuda.

Alice estava sentada na entrada, esperando por mim. Parei em frente à casa ao invés de ir até a garagem.

- “Carlisle está no escritório.” – ela me disse antes que pudesse perguntar.

- “Obrigado.” – eu disse, bagunçando seu cabelo quando passei.

Obrigada por voltar minha ligação, ela pensou sarcasticamente.

- “Ah.” – eu parei à porta, pegando meu celular e o abrindo. – “Desculpe. Eu nem chequei para ver quem era. Estava ocupado.”

- “É, eu sei. Desculpe também. A hora que eu vi o que ia acontecer, você já estava indo.”

- “Foi por pouco.” – eu murmurei.

Desculpe, ela repetiu, envergonhada.

Era fácil ser generoso, sabendo que Bella estava bem. – Não fique assim. Eu sei que você não pode ver tudo. Ninguém espera que seja onisciente.

- “Obrigada.”

- “Eu quase a chamei para jantar hoje – viu isso antes que eu mudasse de idéia?”

Ela sorriu. – “Não, perdi essa também. Queria ter sabido. Teria ido.”

- “Em que você esteve se concentrando, para ter perdido tanta coisa?”

Jasper está pensando no nosso aniversário. Ela riu. Ele está tentando não decidir meu presente, mas acho que tenho uma boa idéia…

- “Você é descarada.”

- “Sim.”

Ela franziu os lábios, e olhou para mim, um sinal de acusação em sua expressão. Prestei mais atenção depois. Vai contar a eles que ela sabe?

Eu suspirei. – “Sim. Depois.”

Não vou dizer nada então. Me faça um favor e conte a Rosalie quando eu não estiver por perto, está bem?

Eu encolhi. – “Claro.”

Bella levou a coisa toda muito bem.

- “Bem demais.”

Alice sorriu para mim. Não subestime a Bella.

Eu tentei bloquear a imagem que não queria ver – Bella e Alice, melhores amigas.

Impaciente agora, eu suspirei pesadamente. Queria passar para essa próxima parte da noite; queria terminar com ela. Mas estava um pouco preocupado em deixar Forks…

- “Alice…” – eu comecei. Ela viu o que eu queria perguntar.

Ela ficará bem hoje à noite. Vou prestar mais atenção agora. Ela meio que precisa de supervisão vinte e quatro horas por dia, não é?

- “Pelo menos.”

- “De qualquer jeito, você estará com ela rápido.”

Respirei fundo. Essas palavras eram lindas para mim.

- “Vai lá – termine com isto para que possa estar onde quer.” – ela me disse.

Eu concordei, e me apressei para o quarto de Carlisle.

Ele estava esperando por mim, seus olhos na porta em vez de no livro grosso que estava em sua mesa.

- “Ouvi Alice dizendo onde me encontrar.” – ele disse, e sorriu.

Foi um alívio estar com ele, ver a empatia e inteligência profunda em seus olhos. Carlisle saberia o que fazer.

- “Preciso de ajuda.”

- “Qualquer coisa, Edward.” – ele prometeu.

- “Alice lhe disse o que aconteceu a Bella hoje à noite?”

Quase aconteceu, ele acrescentou.

- “Sim, quase. Estou com um dilema, Carlisle. Veja eu quero… muito… matá-lo. – As palavras começaram a surgir rápidas e cheias de ódio. – Muito mesmo. Mas sei que isso seria errado, porque seria vingança e não justiça. Só raiva, sem imparcialidade. Mesmo assim, não seria certo deixar um estuprador e assassino em série vagar por Port Angeles! Não conheço os humanos por lá, mas não posso deixar que outra pessoa pegue o lugar de Bella como vítima dele. Aquelas outras mulheres – alguém pode sentir por elas o que eu sinto pela Bella. Talvez sofra o que eu teria sofrido se ela tivesse sido machucada. Não é certo…”

Seu sorriso largo e inesperado parou meu afluxo que palavras.

Ela é muito boa para você, não é? Tanta compaixão, tanto controle. Estou impressionado.

- “Não estou querendo ouvir elogios.”

- “Claro que não. Mas não posso evitar meus pensamentos, posso?” – Ele sorriu de novo. – “Vou cuidar disso. Pode descansar em paz. Ninguém será machucado no lugar de Bella.”

Vi o plano na cabeça dele. Não era exatamente o que eu queria, não satisfez minha cobiça de brutalidade, mas podia ver na mente dele que era a coisa certa.

- “Vou mostrar onde você pode encontrá-lo.” – eu disse.

- “Vamos.”

Ele pegou sua maleta preta no caminho. Eu teria preferido uma forma mais agressiva de sedação – como um crânio partido – mas deixaria Carlisle fazer isso do jeito dele.

Fomos com o meu carro. Alice ainda estava nas escadas da entrada. Ela sorriu e acenou quando nos afastamos. Eu vi que ela tinha procurado o meu futuro; não teríamos dificuldades.

A viagem foi curta pela estrada escura e vazia. Desliguei meus faróis para evitar chamar atenção. Me fez sorrir pensar como Bella teria reagido a essa velocidade.

Carlisle estava pensando em Bella também.

Eu não previ que ela fosse ser tão boa para ele. Isso é inesperado. Talvez fosse para acontecer. Talvez seja um propósito divino. Só que…

Ele imaginou Bella com a pele fria e olhos vermelho – sangue, e se afastou da imagem.

Sim. Só que. De fato. Porque que bem há em destruir uma coisa tão pura e adorável?

Adentrei com fúria na noite, depois de toda a alegria do entardecer ser destruída pelos seus pensamentos.

Edward merece ser feliz. É um direito dele. A ferocidade dos pensamentos de Carlisle me surpreenderam. Tem que existir uma maneira.

Eu gostaria de acreditar nisso – ao menos um pouco. Mas não havia um propósito maior para o que estava acontecendo com Bella. Apenas um destino amargo e vicioso que não podia dar a ela a vida que merecia.

Eu não me demorei em Port Angeles. Eu levei Carlisle ao local onde a criatura chamada Lonnie estava descontando sua decepção com seus amigos – dois dos quais já haviam passado. Carlisle pode ver o quão difícil era para mim estar tão perto – e ouvir os pensamentos do monstro e ver suas memórias, as memórias de Bella misturadas com as de garotas menos afortunadas que já não mais poderiam ser salvas.

Minha respiração acelerou e segurei firme no volante.

Vá, Edward, ele me disse gentilmente. Eu deixarei o restante deles em segurança. Você deve voltar para Bella.

Era exatamente a coisa certa a dizer. O nome dela era a única distração que significava algo para mim agora.

Eu o deixei no carro e voltei correndo para Forks, em uma linha reta através da floresta adormecida. Levou menos tempo do que a primeira viagem de carro. Apenas poucos minutos depois eu escalei a parede da casa dela e deslizei a janela para fora do meu caminho.

Eu suspirei silenciosamente em alívio. Tudo estava como deveria. Bella estava a salvo em sua cama, sonhando, seus cabelos úmidos emaranhados como algas pelo travesseiro.

Mas, diferente de outras noites, ela estava encolhida com os cobertores enrolados acima dos seus ombros. Frio, eu imaginei. Antes que eu pudesse me acomodar em meu acento usual, ela teve calafrios em seu sono e seus lábios estremeceram.

Eu hesitei por um breve momento e então me movi para o corredor, explorando uma nova parte da casa pela primeira vez.

O ronco de Charlie era alto e peculiar. Eu praticamente podia pegar a margem do seu sonho. Algo com água corrente e uma espera paciente… pescaria, talvez?

Lá, no alto da escadaria, havia um armário promissor. Eu a abri e encontrei o que procurava. Escolhi o cobertor mais grosso dentre as finas peças de linho e o levei para o quarto dela. Eu o guardaria de volta antes que ela acordasse, assim ninguém se daria conta.

Segurando minha respiração, eu cuidadosamente abri o cobertor sobre ela; sem que ela reagisse ao peso adicional. Voltei então para a minha cadeira.

Enquanto eu esperava ansiosamente para que ela se aquecesse, eu pensei em Carlisle, imaginando onde ele estaria agora. Eu sabia que seu plano daria certo – Alice havia previsto isso.

Pensar no meu pai me fez suspirar – Carlisle me deu muito crédito. Eu gostaria de ser a pessoa que ele imaginava que eu fosse. Aquela pessoa, merecedora de felicidade, poderia esperar ser merecedor desta garota adormecida. Como as coisas seriam diferentes se eu fosse aquele Edward.

Enquanto eu ponderava isto, uma imagem estranha e indesejada preencheu minha mente.

Por um momento, a velha vidente que eu havia imaginado, a mesma que previu a destruição de Bella, foi trocada pelo mais tolo e desajeitado dos anjos. Um anjo da guarda – algo que a minha versão imaginada por Carlisle poderia ter. Com um sorriso despreocupado nos seus lábios, seus olhos da cor do céu cheios de provocação, o anjo formava Bella de tal modo que seria impossível que eu não a notasse. Um odor incrivelmente potente que exigia minha atenção, uma mente silenciosa para inflamar minha curiosidade, uma beleza calma para prender meus olhos, uma alma altruísta para ganhar meu respeito. Deixado de lado o sentido natural de auto-preservação – assim Bella podia suportar o fato de estar próxima a mim – e finalmente adicionada um uma larga dose de má sorte.

Com uma gargalhada inconseqüente, o anjo irresponsável empurrou sua frágil criação diretamente para o meu caminho, confiando descuidadamente na minha moralidade maculada para manter Bella viva.

Nesta visão, eu não era a condenação de Bella; ela era minha recompensa.

Eu balancei minha cabeça com a fantasia do anjo inimaginável. Ela não era muito melhor do que a harpia. Eu não poderia conceber um poder maior que agisse de maneira tão perigosa e estúpida. Pelo menos, contra a vidente horrorosa eu poderia lutar.

E eu não tinha nenhum anjo. Eles eram reservados para os bons – para pessoas como Bella. Então onde estaria o anjo dela no meio disso tudo? Quem estava tomando conta dela?

Eu ri silenciosamente, perplexo, enquanto realizava que nesse momento era eu quem estava cumprindo aquele papel.

Um anjo vampiro – havia uma boa distância entre as duas coisas.

Depois de cerca de meia hora, Bella relaxou. Sua respiração se tornou mais profunda e ela começou a murmurar. Eu sorri, satisfeito. Era uma pequena coisa, mas pelo menos ela estava dormindo mais confortavelmente esta noite, por eu estar aqui.

“Edward” ela sussurrou, e sorriu também.

Eu empurrei a tragédia de lado, por um momento, e me permiti ser feliz novamente.

Interrogações

A CNN trouxe a história antes.

Eu estava contente por isto ter chegado ao noticiário antes de eu ter que ir para a escola, ansioso por ouvir como os humanos iriam descrever o acontecimento, e quanta atenção o fato iria gerar.

Por sorte, era um dia cheio de noticias frescas. Houve um terremoto na américa do sul e um sequestro político no oriente médio. Portanto, tudo acabou em uns poucos segundos, umas poucas frases e uma imagem chuviscada.

“Alonzo Calderas Wallace, suspeito de ser um estuprador em série e assassino procurado nos estados do Texas e Oklahoma, foi preso na última noite em Portland, Oregon graças a uma denúncia anônima. Wallace foi encontrado inconsciente em um beco nesta manhã, apenas a alguns metros da delegacia de polícia.

Os policiais não souberam dizer por enquanto se ele seria extraditado para Houston ou Oklahoma para aguardar o julgamento.”

A imagem não estava clara. Uma foto de arquivo policial, e ele tinha uma barba bem grossa na época em que a fotografia foi tirada. Mesmo que Bella tivesse visto, ela não o teria reconhecido. Eu esperava que não. Isto a deixaria amedrontada sem necessidade.

“A cobertura aqui na cidade será bem pequena. É algo de muito longe para ser considerado de interesse local,” disse-me Alice. “Foi uma boa idéia que Carslile o levasse para fora do estado.”

Eu acenei positivamente com a cabeça. Bella não assistia muita TV normalmente, e eu nunca havia visto seu pai assistir nada além de canais de esportes.

Eu tinha feito o que podia. Este monstro já não caçaria mais, e eu não era um assassino. Não nos últimos tempos, de qualquer forma. Eu fiz bem em confiar em Carslile, por mais que eu ainda desejasse que o monstro não tivesse se safado tão incolume. Eu me peguei desejando que ele fosse extraditado para o Texas, onde a pena de morte é tão popular…

Não. Isso não importa. Deixaria isto no passado, e me concentraria no que é mais importante.

Havia deixado o quarto de Bella a menos de uma hora atrás e já estava louco para vê-la novamente.

“Alice, você se importa-”

Ela me cortou. “Rosalie vai dirigir. Ela vai parecer irritada, mas você sabe que ela vai adorar a desculpa para exibir seu carro.” Alice soltou um riso trêmulo.

Eu sorri para ela. “Te vejo na escola.”

Alice suspirou, e meu sorriso se tornou uma careta.

Eu sei, eu sei, ela pensou. Não ainda. Eu vou esperar até que você esteja pronto para Bella saber quem sou. Você deve saber, enfim, que isso não é apenas egoísmo meu. Bella vai gostar de mim também.

Eu não a respondi, enquanto seguia com pressa para a porta. Aquela era uma maneira diferente de ver a situação. Bella iria querer conhecer Alice? Ter uma vampira como amiga?

Conhecendo Bella… aquela idéia provavelmente não iria incomodá-la nem um pouco.

Eu franzi as sobrancelhas, pensando. O que Bella quer e o que é melhor para Bella, são duas coisas muito distintas.

Eu comecei a me sentir desconfortável enquanto estacionava meu carro no passeio da casa de Bella.

O provérbio humano dizia que tudo parece diferente pela manhã – que as coisas mudam quando você as deixa passar. Eu pareceria diferente para Bella na luz fraca de um dia nublado? Mais ou menos sinistro do que pareceria no escuro da noite? Teria a verdade se revelado enquanto ela dormia? Será que finalmente ela teria medo?

Seus sonhos haviam sido pacíficos, enfim, na última noite. Quando ela falou meu nome, uma vez e outra, ela sorriu. Mais de uma vez ela murmurou apelando para que eu ficasse.

Aquilo não significaria nada no dia de hoje?

Eu aguardei impacientemente, ouvindo os sons vindos de dentro da casa – os passos rápidos e tropeçantes nas escadas, o rasgar seco de papel alumínio, os frascos do refrigerador batendo uns contra os outros quando a porta se fechou. Parecia que ela estava com pressa. Anciosa para ir a escola? A idéia me fez sorrir, esperançoso novamente.

Olhei para o relógio. Eu supunha que – levando em conta a velocidade a sua velha pickup a limitava, ela estava um tanto atrasada.

Bella saiu correndo da casa, sua mochila escorregando dos seus ombros, seu cabelo preso em uma trança mal feita que já se dividia perto de sua nuca. O grosso suéter verde que ela usava não era o suficiente para evitar que seus pequenos ombros tremessem com a névoa fria.

O longo suéter era grande demais para ela, desproporcional. Ele mascarava sua silhueta delgada, tornando todas as suas curvas delicadas e suaves em uma confusão disforme. Eu gostei, mesmo desejando que ela usasse algo mais parecido com a delicada blusa azul que vestira na última noite… o tecido havia aderido a sua pele de um jeito muito convidativo, decotado o suficiente para revelar a maneira hipnótica como sua clavícola se afastava do vazio abaixo de seu pescoço. O azul fluia como agua através do contorno delicado de seu corpo.

Era melhor – essencial – que eu mantivesse meus pensamentos muito, muito longe daquelas formas, então eu deveria estar agradecido por ela usar aquele suéter pouco atraente. Eu não poderia me permitir qualquer erro, e seria um erro monumental me deixar levar pela estranha fome que os pensamentos sobre seus lábios… sua pele… estavam criavam dentro de mim. Fome que eu havia erradicado de mim por uma centena de anos. Eu não poderia sequer pensar em tocá-la, porque isso seria impossível.

Eu a destruiria.

Bella voltou-se para longe da porta com tanta pressa que ela quase passou pelo meu carro sem notá-lo.

Então ela parou quase derrapando, seus joelhos travando em um solavanco. Sua mochila escorregou pelo seu braço e seus olhos se arregalaram quando focalizaram o carro.

Eu saí, sem me preocupar em me mover numa velocidade humana, e abri a porta do passageiro para ela. Eu não tentaria mais ludibriá-la. Quando estivessemos a sós, pelo menos, eu seria eu mesmo.

Ela olhou para mim, supresa novamente, por eu praticamente ter me materializado no meio da névoa.

E então a surpresa em seus olhos se tornaram em outra coisa, e eu não estava mais temeroso – nem esperançoso – que seus sentimentos por mim tivessem mudado durante o curso da noite. Calor, preocupação, fascinação, tudo nadando no que era o chocolate derretido dos seus olhos.

“Quer ir de carona comigo hoje?” Eu perguntei. Ao contrário do jantar na última noite, eu a deixaria escolher. De agora em diante, seria sempre a escolha dela.

“Sim, obrigada,” ela murmurou, subindo no carro sem hesitar.

Algum dia eu deixaria de me surpreender pelo fato de ela dizer sim para mim? Eu duvidei.

Eu dei a volta no carro, ansioso para me juntar a ela. Ela não mostrou nenhum sinal de supresa com a minha súbita reaparição.

A alegria que senti quando ela se sentou ao meu lado não tinha precedentes. Por mais que eu apreciasse o amor e companheirismo da minha familia, apesar dos vários entretenimentos e distrações que o mundo tem a oferecer, eu nunca estive feliz dessa forma. Mesmo sabendo que isso era errado, que isso poderia não terminar bem, eu não pude evitar por muito tempo estampar um sorriso em minha face.

Minha jaqueta estava dobrada sobre o descanso de cabeça do banco dela. Eu a vi olhando.

“Eu trouxe a jaqueta para você,” Eu disse a ela. Esta era minha desculpa, eu tinha que arrumar alguma para a minha inesperada visita nesta manhã. Estava frio. Ela não tinha jaqueta. Certamente esta era uma forma convincente de cavalheirismo. “Eu não gostaria que você ficasse doente ou algo parecido.”

“Eu não sou assim tão frágil,” ela disse, fitando meu peito ao invés do meu rosto, como se ela estivesse hesitante em me olhar nos olhos. Mas ela vestiu o casaco antes que eu tivesse que a ajudar ou persuadir.

“Não é?” Eu sussurrei para mim mesmo.

Ela fitava a estrada enquanto eu acelerava para a escola. Eu pude agüentar o silêncio apenas por alguns segundos. Eu tinha que saber onde estavam os seus pensamentos nesta manhã. Tanta coisa havia mudado entre nós desde o último nascer do sol.

“O que, nada de vinte perguntas hoje?” Eu perguntei, mantendo um tom suave.

Ela sorriu, parecendo feliz por eu ter puxado assunto novamente. “Minhas perguntas o aborrecem?”

“Não tanto quanto as suas reações,” disse a ela com toda honestidade, sorrindo em resposta ao seu sorriso, que esmaeceu.

“Eu reajo mal? “

“Não, este é o problema. Você encara tudo tão calmamente – isso é algo pouco natural, me faz imaginar o que realmente você está pensando.”

É claro que tudo que ela fazia ou não fazia me deixava imaginando o que ela pensava.

“Eu sempre digo o que eu realmente estou pensando.”

“Você edita.”

Ela mordeu os lábios novamente. Ela parecia não notar quando fazia isso – era uma resposta inconsciente à tensão. “Não muito.”

Estas poucas palavras foram suficientes para inflamar minha curiosidade. O que é que ela deliberadamente escondia de mim?

“O bastante para me deixar louco,” eu disse.

Ela hesitou e então sussurrou, “Você não gostaria de ouvir.”

Eu tive que pensar por um momento, analisar toda a nossa conversa da última noite, palavra por palavra, antes que eu fizesse a associação. Talvez isso exigisse muita concentração, pois eu não imaginava nada que eu não quisesse ouvi-la dizer. E então – pelo tom de sua voz ser o mesmo da última noite; havia uma dor repentina novamente – Eu me lembrei. Uma vez eu pedi que ela não me dissesse seus pensamentos. Nunca diga isto, eu vociferei para ela. Eu a fiz chorar…

Era isso que ela escondia de mim? A profundidade dos seus sentimentos sobre mim? Que eu ser um monstro, não importava para ela, e que ela achava tarde demais para mudar sua decisão?

Eu não conseguia falar, porque a alegria e a dor eram demasiado intensas para serem expressas em palavras, o conflito entre elas era muito radical para possibilitar uma resposta coerente. Havia silêncio no carro, exceto pelo ritmo uniforme de seu coração e pulmões.

“Onde está o restante de sua familia?” ela perguntou repentinamente.

Eu respirei fundo – registrando o aroma no carro com uma verdadeira dor pela primeira vez ; eu estava me acostumando a isso, eu fazia com satisfação – e me forçando a ser casual novamente.

- Eles pegaram o carro da Rosalie.

Estacionei perto da capota suspensa do carro em questão. Escondi meu sorriso quando vi seus olhos arregalarem.

- “Chamativo, não?”

- “Hmm, caramba. Se ela tem isso, porque pega carona com você?”

Rosalie deveria ter apreciado a reação de Bella… se ela estivesse sendo mais objetiva com respeito a ela , o que provavelmente não iria acontecer.

- “Como eu disse, é chamativo. Nós tentamos nos misturar.”

“Vocês não conseguem”, ela me disse; e então ela sorriu um cuidadoso sorriso.

O jovial, inteiramente despreocupado som do seu riso queimou o meu peito oco como também fez minha cabeça flutuar com tontura.

“Então por que Rosalie dirigiu hoje se ele é mais notável?” ela perguntou.

“Não percebeu? Estou quebrando todas as regras agora.”

Minha resposta deveria ter sido ligeiramente assustadora – então, é claro, Bella riu dela.

Ela não esperou por mim para abrir sua porta, exatamente como a noite passada. Eu tinha que aparentar normalidade aqui na escola – então eu não poderia me mover rápido o bastante para impedir isso – mas ela teria que se acostumar a ser tratada com mais cortesia, e acostumar-se logo.

Eu caminhei mais perto dela do que ousaria, olhando cuidadosamente por qualquer sinal de que minha proximidade a perturbaria. Duas vezes sua mão estremeceu-se em direção à minha e então ela gostaria de trazê-la de volta. Parecia que ela queria me tocar… Minha respiração disparou.

“Por que vocês têm carros assim, então? Se vocês procuram ter privacidade? – ela me perguntou enquanto caminhávamos.

“Como um prazer” – eu admiti – “Todos nós gostamos de dirigir rápido”.

“Imagino” ela murmurou, em seu tom de voz.

Ela não olhou para cima para ver minha resposta maliciosa.

“Nuh-uh”! Eu não acredito nisso. Como que Bella conseguiu ignorar isso? Eu não entendo! Por que?

A mente nebulosa de Jessica interrompeu os meus pensamentos. Ela estava esperando por Bella, se refugiando da chuva, sob o abrigo da marquise da cafeteria com o casaco de inverno de Bella debaixo de seu braço. Seus olhos estavam estatelados com descrença.

Bella também a percebeu no exato momento. Um fraco tom rosado tocou sua face quando Bella registrou a expressão de Jessica. Os pensamentos de Jessica estavam nitidamente claros em seu rosto.

“Oi Jéssica. Obrigada por lembrar”, Bella lhe agradeceu. Ela apanhou o casaco e Jessica o entregou sem dizer nenhuma palavra.

Eu tenho que ser educado com os amigos de Bella, mesmo sendo eles bons amigos ou não.

“Bom dia Jessica”..

Nossa…

Os olhos de Jessica se arregalaram. Foi estranho e divertido… e honestamente, um pouco embaraçoso… para se ter uma idéia de como ficar perto de Bella me deixou mais gentil. Parecia que ninguém estava mais com medo de mim. Se Emmett soubesse disso, ele iria ficar rindo pelo próximo século.

“É…oi” Jessica murmurou e seus olhos lampejaram para o rosto de Bella, cheios de expressão. “Acho que te vejo em trigonometria”.

Ah, você vai desembuchar tudo para mim. Não vou aceitar não como resposta. Detalhes. Tenho que saber dos detalhes! Edward gato CULLEN! A vida é tão injusta.

A boca de Bella se torceu. – “É, a gente se vê lá.”

Os pensamentos de Jessica ficaram fora de controle enquanto ela corria para sua primeira aula, nos espiando uma vez ou outra.

A história inteira. Não vou aceitar nada menos que isso. Eles combinaram de se encontrar ontem à noite? Eles estão namorando? Há quanto tempo? Como ela pôde guardar segredo sobre isso? Por que ela guardaria? Não pode ser uma coisa casual – ela tem que estar bem afim dele. Tem alguma outra opção? Eu vou descobrir. Não vou conseguir não saber de nada. Será que ela já deu uns amassos nele? Ah, vou desmaiar… De repente os pensamentos de Jessica ficaram desconexos, e ela deixou que suas fantasias mudas girassem por sua cabeça. Eu recuei com suas especulações, e não só porque ela tinha trocado Bella por si mesma nas figuras mentais.

Eu não podia ser assim. Mas mesmo assim, eu… eu queria…

Resisti em admitir isso, mesmo para mim. Em quantas maneiras erradas eu queria colocar a Bella? Qual iria acabar por matá-la?

Eu sacudi a cabeça e tentei deixar as coisas mais leves.

- “O que vai dizer a ela?” – perguntei a Bella.

- “Ei!” – ela sussurrou ferozmente. – “Pensei que você não pudesse ler minha mente!”

- “Não posso.” – eu a encarei, surpreso, tentando entender suas palavras. Ah – devíamos estar pensando a mesma coisa ao mesmo tempo. Hmmm, gostei disso. – “Mas” – contei a ela. – “posso ler a dela – Ela vai pegar você de surpresa na sala.”

Bella gemeu, e deixou a jaqueta escorregar por seus ombros. Não percebi que ela estava a devolvendo – eu não teria pedido; preferia que ficasse com ela… uma lembrança – então fui muito devagar para oferecer minha ajuda. Ela me entregou a jaqueta e passou os braços pela dela, sem olhar para cima para ver que minhas mãos estavam esticadas para ajudar. Eu fiz uma careta com isso, e então controlei minha expressão antes que ela notasse.

- “Então, o que vai dizer a ela?” – eu pressionei.

- “Que tal uma mãozinha? O que ela quer saber?”

Eu sorri e sacudi a cabeça. Eu queria escutar o que ela estava pensando agora sem nenhuma dica. – “Isso não é justo”.

Os olhos dela se apertaram. – “Não, você não está partilhando o que sabe – isso é que não é justo”.

“Certo” – ela não gostava de dois pesos e duas medidas.

Chegamos à porta da classe dela – onde eu teria que deixá-la; me perguntei à toa se a Srta. Cope iria ser mais favorável sobre uma mudança da minha aula de inglês… Forcei a minha concentração. Eu podia ser justo.

- “Ela quer saber se estamos namorando escondido” – eu disse lentamente. – “E ela quer saber como você se sente com relação a mim”.

Seus olhos se arregalaram – dessa vez não de surpresa, mas astutos. Estavam abertos para mim, legíveis. Ela estava bancando a inocente.

- “Caramba” – ela murmurou. – “O que devo dizer?”

- “Hmmm” – Ela sempre tentava fazer com que eu revelasse mais do que ela. Refleti como responder.

Uma mecha rebelde do cabelo dela, ligeiramente úmida por causa da neblina, caia por seu ombro e se enrolava onde a sua clavícula estava escondida por aquele suéter ridículo. Atraiu meus olhos… os arrastou para ver as outras linhas escondidas…

Me estiquei para pegá-la cuidadosamente, sem tocar em sua pele – a manhã já estava fria o suficiente sem meu toque – e a coloquei de volta ao lugar em seu coque desarrumado para que não me distraísse outra vez. Me lembrei quando Mike Newton tinha tocado seu cabelo, e meu queixo se trincou com a memória. Ela tinha se afastado dele na ocasião. A reação dela agora não era nada parecida; ao invés disso, seus olhos se arregalaram, seu sangue correu mais rápido nas veias e uma súbita aceleração em seu coração.

Tentei conter meu sorriso quando a respondi.

- “Acho que pode dizer sim à primeira pergunta… Se não se importa…” – a escolha era dela, sempre dela. – “É mais fácil do que qualquer outra explicação.”

- “Não me importo…” – ela sussurrou. Seu coração ainda não tinha recuperado o ritmo normal.

- “E quanto à outra pergunta de Jessica…” – não conseguia esconder meu sorriso agora. – “Bom, eu estarei ouvindo para saber eu mesmo a resposta.”

Deixar que Bella considerasse isso. Reprimi uma risada e o choque passou por seu rosto.

Me virei rapidamente, antes que ela pudesse perguntar mais alguma coisa. Eu tinha certa dificuldade em não dar a ela qualquer coisa que ela quisesse. E eu queria escutar os pensamentos dela, não os meus.

“A gente se vê no almoço” – eu disse à ela sobre o ombro; uma desculpa para checar que ela ainda estava me encarando, de olhos arregalados. Sua boca estava aberta. Me virei de novo e fui embora, rindo.

Enquanto eu me afastava, estava vagamente ciente dos pensamentos surpresos e especulativos que giravam ao meu redor – olhos indo do rosto de Bella à minha figura que recuava. Prestei pouca atenção neles. Não conseguia me concentrar. Foi muito difícil manter meus pés se movendo a uma velocidade aceitável enquanto cruzava a grama encharcada para minha próxima aula. Queria correr – realmente correr, tão rápido que iria desaparecer, tão rápido que iria parecer que estava voando. Parte de mim já estava voando.

Coloquei a jaqueta quando entrei na classe, deixando que a fragrância dela flutuasse, pesada ao meu redor. Eu iria queimar agora – deixar que o cheiro me dessensibilizasse – para que depois fosse mais fácil ignorar, quando estivesse com ela de novo no almoço…

Era uma coisa boa que os professores não se importavam mais em me chamar. Hoje talvez tivesse sido o dia que eles me pegassem desprevenido, e sem respostas. Minha cabeça estava em tantos lugares esta manhã; só meu corpo estava na sala de aula.

É claro que eu estava vigiando Bella. Isso estava se tornando natural – tão automático quanto respirar. A escutei conversar com um Mike Newton desmoralizado. Ela rapidamente mudou a conversa para Jessica, e abri um sorriso tão grande que Rob Sawyer, que estava sentado ao meu lado direito, se encolheu visivelmente e escorregou na cadeira, para longe de mim.

Argh. Assustador.

Bom, ele não estava totalmente errado.

Também estava monitorando Jessica livremente, observando enquanto ela definiria suas perguntas para Bella. Mal podia esperar até o quarto tempo, dez vezes mais ansioso e curioso que a garota humana que queria uma fofoca nova.

E também estava escutando Angela Weber.

Não tinha esquecido a gratidão que tinha sentido por ela – primeiro por só pensar coisas boas a respeito de Bella, depois pela ajuda à noite passada. Então eu esperei pela manhã, procurando por algo que ela quisesse. Achei que seria fácil; como qualquer outro humano, devia haver alguma coisa bugiganga ou brinquedo que ela quisesse. Vários, provavelmente. Entregaria algo anonimamente e nos deixaria quite.

Mas Angela provou ser quase tão desatenciosa com seus pensamentos quanto Bella. Ela era estranhamente satisfeita para uma adolescente. Feliz. Talvez essa fosse a razão para sua bondade incomum – ela era uma daquelas raras pessoas que tinham o que amavam e amavam o que tinham. Se ela não estivesse prestando atenção aos professores e às anotações, estava pensando dos irmãos gêmeos que levaria à praia nesse final de semana – antecipando a animação deles com um prazer quase maternal. Ela cuidava deles de vez em quando, mas não se sentia rancorosa com esse fato… era bem carinhoso.

Mas não me ajudava muito.

Tinha que ter alguma coisa que ela queria. Eu só teria que continuar procurando. Mas depois. Agora era a hora da aula de trigonometria de Bella com Jessica.

Não estava prestando atenção aonde ia quando fui para a aula de inglês. Jessica já estava em seu lugar, os dois pés batendo impacientemente no chão enquanto ela esperava Bella chegar.

Ao contrário, quando me sentei em minha cadeira na sala de aula, fiquei completamente parado. Tinha que me lembrar de me mexer uma hora ou outra. Manter a fachada. Foi difícil, meus pensamentos estavam tão concentrados nos de Jessica. Esperava que ela fosse prestar atenção, realmente tentar ler o rosto de Bella para mim.

As batidas dos pés de Jessica se intensificaram quando Bella entrou na sala.

Ela parece… triste. Por quê? Talvez não tenha nada acontecendo com o Edward Cullen. Isso seria um desapontamento. Exceto que… então ele ainda está disponível… se de repente ele está interessado em namorar, não me importo em ajudá-lo com isso…

O rosto de Bella não parecia triste, parecia relutante. Ela estava preocupada – ela sabia que eu iria escutar tudo isso. Sorri para mim mesmo.

- “Me conta tudo!” - Jess mandou enquanto Bella ainda estava tirando o casaco e pendurando nas costas de sua cadeira. Ela estava se mexendo com deliberação, sem vontade.

Argh, ela é tão lerda. Vamos passar para as coisas interessantes!

-” O que quer saber?” – Bella escapou quando se sentou.

- “O que aconteceu ontem à noite?”

- “Ele me levou para jantar e depois me levou em casa.”

- “Como chegou em casa tão rápido?”

Eu observei Bella rolar os olhos à suspeita de Jessica.

- “Ele dirige como um louco. Foi apavorante.”

Ela sorriu um pouco, e eu ri em voz alta, interrompendo os anúncios do Sr. Mason. Eu tentei transformar a risada em um acesso de tosse, mas ninguém se enganou. O Sr. Mason me lançou um olhar irritado, mas eu nem me preocupei em escutar o pensamento por trás dele. Estava ouvindo a Jessica.

Ah. Parece que ela está falando a verdade. Por que está me fazendo arrancar tudo isso dela, palavra por palavra? Eu estaria me gabando a plenos pulmões se fosse comigo.

- “Foi tipo um encontro, disse a ele para encontrar você lá?”

Jessica viu a surpresa passar pela expressão de Bella, e ficou desapontada como isso parecia ser verdade.

- “Não… Eu fiquei muito surpresa em vê-lo lá” – Bella disse a ela.

- “O que está acontecendo? – Mas ele pegou você para vir à escola hoje? – Tem que ter mais coisa nessa história”.

“Sim – isso era uma surpresa, também. Ele percebeu que eu não tinha uma jaqueta noite passada”.

Isso não é muito divertido, Jessica pensou, desapontada novamente.

Eu estava cansado da sua linha de perguntas – Eu queria ouvir algo que eu não soubesse realmente. Eu esperei que ela não estivesse tão descontente que ela poderia pular as questões que eu estava esperando.

“Então você vai sair com ele novamente?” Jessica perguntou.

“Ele se ofereceu para me levar a Seattle sábado porque ele pensa que o meu carro não consegue chegar até lá – isso conta?”

Hmm. Bom, cuide dela. Bella está maluca.

“Sim” Jessica respondeu a pergunta de Bella.

“Bom, então, sim.”

U-A-U… Edward Cullen”. Ela gostando dele ou não, isso é grande.

“Eu sei.” Bella concordou.

O tom de sua voz encorajou Jessica. Finalmente – ela soa como se gostasse! Ela deve estar realizada…

“Peraí” Jessica falou, de repente se lembrando da pergunta mais vital “Ele já te beijou?” Por favor diga sim. E depois descreva cada segundo!

“Não.” Bella disse, e então ela olhou para suas mãos, sua face corando. “Não é bem assim.”

Droga. Eu queria… há. parece que ela gostaria disso.

Eu franzi o cenho. Bella parecia chateada sobre algo, mas não poderia ser desapontamento como Jessica assumiu. Ela não poderia querer aquilo. Sem saber o que ela sabe. Ela não poderia querer estar perto de meus dentes. Por tudo que ela sabia, eu tinha presas.

Eu estremeci.

“”Você acha que Sábado…?” Jessica continuou.

Bella pareceu mais frustrada do que ela dissse, “Eu realmente duvido.”

É, ela realmente desejava. Que droga para ela.

Seria porque eu estava ouvindo isso pelo “filtro” das percepções de Jessica que pareceu que ela estava certa?

Por um segundo eu me distraí pela idéia, o impossível, sobre como eu gostaria de beijá-la. Meu lábios em seus lábios…

E então ela morre.

Eu balancei minha cabeça, e me mandei prestar atenção na conversa.

“Sobre o que foi que vocês conversaram?” Você conversou com ele, ou você fez ele falar cada informação sobre ele que você queria saber?

Eu sorri. Jessica não estava longe.

Eu não sei, Jess, um monte de coisas. Nós falamos um pouco sobre o trabalho de inglês.”

Só um pouquinho. Eu sorri, animal.

Oh, fala sério. “Por favor, Bella. Me dê alguns detalhes.”

Bella pensou por um minuto.

“Bom…tudo bem, eu te digo um. Você precisava ter visto a garçonete flertando com ele – foi até um pouco demais. Mas ele não estava prestando nem um pouco de atenção”.

Que detalhe estranho para contar. Eu estava surpresa que Bella havia percebido. Pareceu uma coisa bem inconseqüente.

Interessante… “Isso é um bom sinal. Ela era bonita?”

Hmm, Jéssica deu mais atenção do que eu. Devia ser coisa feminina.

- “Muito” - Bella disse a ela – “E devia ter uns 19 ou 20 anos”.

Jéssica ficou momentaneamente distraída pela memória de Mike e ela no encontro de segunda à noite – Mike sendo amigável demais com a garçonete que Jessica não tinha considerado nem um pouco bonita. Ela espantou a memória e voltou, oprimindo sua irritação, para perguntar os detalhes.

- “Melhor ainda. Ele deve gostar de você”.

- “Eu acho que sim” - Bella disse, e eu estava na beirada na cadeira, meu corpo rígido. – “Mas é difícil saber. Ele é sempre tão misterioso”.

Eu não devia ter sido tão transparentemente óbvio e fora de controle quanto tinha pensado. Ainda… observadora como ela era… Como não podia perceber que estava apaixonado por ela? Eu procurei por nossa conversa, quase surpreso de não ter dito as palavras em voz alta. Parecia que esse fato estava implícito em cada palavra entre nós.

“Uau. Como você senta na frente de um modelo e conversa normalmente? – Não sei como você tem coragem de ficar sozinha com ele”. – Jessica disse.

Choque passou pelo rosto de Bella. - “Por quê?”

Reação estranha. O que ela acha que eu quero dizer? – “Ele é tão…” – qual é a palavra certa? – “intimidador. Eu não saberia o que dizer a ele” – Nem consegui falar inglês com ele hoje, e tudo que ele disse foi bom dia. Devo ter parecido uma idiota.

Bella sorriu. – “Tenho uns problemas de incoerência quando estou perto dele”.

Ela devia estar tentando fazer com que Jessica se sentisse melhor. Ela era quase anormalmente possuída quando estávamos juntos

- “Ah, sim”. – Jessica suspirou. – “Ele é mesmo incrivelmente bonito”.

O rosto de Bella ficou mais frio. Seus olhos brilharam do mesmo jeito que eles faziam quando ela sentia alguma injustiça. Jessica não reconheceu a mudança na expressão dela.

- “Há muito mais nele do que isso.” – Bella repreendeu.

Aaaah, agora estamos chegando a algum lugar. – “É mesmo? Tipo o quê?”

Bella mordeu o lábio por um momento. – “Não posso explicar muito bem…” – ela finalmente disse. – “Mas ele é ainda mais inacreditável por trás daquele rosto.” – Ela desviou os olhos de Jessica, seus olhos ligeiramente desfocados como se estivesse vendo algo muito longe.

A emoção que senti agora era remotamente familiar àquela que sentia quando Carlisle ou Esme me exaltavam além do que eu merecia. Similar, mas mais intenso, mais consumidor.

Conta essa para outra pessoa – não tem nada melhor que aquele rosto! A não ser o corpo. – Será possível? – Jessica deu um sorriso falso.

Bella não se virou. Ela continuou a olhar a distância, ignorando Jessica.

Uma pessoa normal estaria triunfante. Talvez se eu mantivesse as perguntas simples. Ha ha. Como se estivesse falando com alguém do jardim de infância. – “Então gosta dele, né?”

Fiquei rígido de novo.

Bella não olhou para Jessica. – “Sim.”

- “Quer dizer, você realmente gosta dele?”

- “Sim.”

Olha esse rubor!

Estava olhando.

- “O quanto você gosta dele?”

A sala de inglês podia estar em chamas e eu não iria notar.

O rosto de Bella estava vermelho vivo agora – quase conseguia sentir o calor da imagem mental.

- “Demais.” – ela sussurrou. - “Mais do que ele gosta de mim. Mas não vejo como evitar isso.”

Droga! O que o Sr. Varner perguntou agora? – “Hm, que número Sr. Varner?”

Foi bom que a Jessica não pudesse mais interrogar Bella. Precisava de um minuto.

Que diabos que essa menina estava pensando agora? Mais do que ele gosta de mim? Como ela inventou isso? Mas não vejo como evitar isso? O que isso queria dizer? Não conseguia achar uma explicação racional para as palavras. Era praticamente sem sentido.

Parecia que eu não podia ter certeza de nada. Coisas óbvias, coisas que faziam perfeito sentido, de algum jeito se deformavam e viravam ao contrário naquele cérebro bizarro dela. Mais do que ele gosta de mim? Talvez eu não devesse desistir da instituição ainda.

Olhei para o relógio, batendo os dentes. Como meros minutos são tão impossivelmente longos para um imortal? Onde estava minha perspectiva?

Meu queixo estava fechado por toda a aula de trigonometria do Sr. Varner. Ouvi mais dela do que da minha própria aula. Bella e Jessica não falaram outra vez, mas Jessica espiou Bella várias vezes, e uma vez o rosto dela estava escarlate de novo sem razão aparente.

O almoço não ia chegar rápido o suficiente.

Não tinha certeza se Jessica iria ter algumas das respostas que eu queria quando a classe terminasse, mas Bella foi mais rápida do que ela.

Assim que o sinal tocou, Bella se virou para Jessica.

- “Na aula de inglês, o Mike me perguntou se você disse alguma coisa sobre a noite de segunda.” – Bella disse, um sorriso nos cantos dos lábios. Eu entendi isso – o ataque era a melhor defesa.

“Mike perguntou sobre mim?” A felicidade deixou a mente de Jessica repentinamente desprotegida, gentil, sem o tom falso de costume. – “Tá brincando! O que você disse?”

- “Disse a ele que você falou que se divertiu muito… Ele pareceu satisfeito.”

- “Me conta exatamente o que ele disse, e a sua resposta exata!”

Claramente isso era tudo o que eu ia arrancar de Jessica hoje. Bella estava sorrindo como se estivesse pensando a mesma coisa. Como se tivesse ganhado a rodada.

Bom, o almoço seria outra história. Teria mais sucesso em ter as respostas dela do que de Jessica, ia ter certeza disso.

Mas pude suportar espiar os pensamentos da Jessica pela quarta aula. Não tinha paciência para seus pensamentos obsessivos de Mike Newton. Já tinha o agüentado o suficiente nas últimas duas semanas. Ele tinha sorte em estar vivo.

Me mexi apaticamente na aula de educação física com Alice, do modo que sempre nos movíamos quando se tratava de atividade física com os humanos. Ela era minha companheira de time, naturalmente. Era o primeiro dia de badminton. Suspirei de tédio, girando a raquete em câmera lenta para acertar a bola e mandá-la para o outro lado. Lauren Mallory estava no outro time; ela errou. Alice rodava sua raquete como um bastão, olhando o teto.

Todos nós detestávamos educação física, principalmente Emmett. Fingir jogar era um insulto a sua filosofia. Educação física hoje era pior que o normal – me senti tão irritado quanto Emmett sempre se sentia.

Antes que minha cabeça pudesse explodir de impaciência, o treinador Clapp terminou os jogos e nos dispensou mais cedo. Fiquei ridiculamente agradecido que ele tivesse pulado o café-da-manhã – uma nova tentativa de dieta – e a fome conseqüente o tinha deixado com pressa para deixar o campus e encontrar um sanduíche engordurado em algum lugar. Ele prometeu a si mesmo que começaria amanhã de novo…

Isto me deu tempo suficiente para chegar ao prédio de matemática antes que a aula de Bella terminasse.

Se divirta, Alice pensou enquanto se afastava para encontrar Jasper. Só mais alguns dias para ser paciente. Acho que não vai dizer oi para a Bella por mim, não é?

Sacudi a cabeça, exasperado. Todos os que tinham poderes psíquicos eram tão metidos?

Só para você saber, vai estar sol dos dois lados da baía esse fim-de-semana. Talvez queira refazer seus planos.

Eu suspirei enquanto continuava para a direção oposta. Meditar, mas útil.

Apoiei-me na parede perto da porta, esperando. Estava tão perto que podia escutar a voz de Jessica através dos tijolos, assim como seus pensamentos.

- “Não vai se sentar com a gente hoje, não é?” Ela parece… animada. Aposto que tem um monte de coisas que não me falou.

- “Acho que não.” – Bella respondeu, estranhamente insegura.

Não tinha prometido almoçar com ela? O que ela estava pensando?

Elas saíram da sala juntas, e os olhos das duas garotas se arregalaram quando me viram. Mas eu só podia ouvir a Jessica.

Ótimo. Uau. Ah, com certeza tem mais coisa acontecendo por aqui do que ela me contou. Talvez eu ligue para ela hoje à noite… Ou talvez não deva encorajá-la. Argh. Espero que ele a supere rápido. O Mike é bonitinho, mas… uau.

- “A gente se vê depois, Bella.”

Bella andou na minha direção, parando a um passo de distância, ainda insegura. Sua pele estava rosa nas bochechas.

Eu a conhecia bem o suficiente a essa altura para ter certeza que não havia medo por trás de sua hesitação. Aparentemente, isso era sobre algum abismo que ela tinha imaginado entre os sentimentos dela e os meus. Mais do que ele gosta de mim. Absurdo!

- “Oi.” – eu disse, minha voz estava um pouco seca.

O rosto dela ficou mais brilhante. – “Oi.”

Não parecia que ela ia falar outra coisa, então eu abri caminho até o refeitório e ela andou silenciosamente ao meu lado.

A jaqueta tinha funcionado – o cheiro dela não foi o golpe que geralmente era. Só era uma intensificação da dor que eu já sentia. Conseguia ignorar mais facilmente do que uma vez teria acreditado ser possível.

Bella estava inquieta enquanto esperávamos na fila, brincando distraída com o zíper de sua jaqueta e mudando o peso, nervosa, de um pé para o outro. Ela me olhou algumas vezes, mas sempre que encontrava meu olhar, olhava para baixo como se estivesse envergonhada. Isso era por que todo mundo estava nos olhando? Talvez ela conseguisse escutar os cochichos – a fofoca era tão verbal quanto mental hoje.

Ou talvez ela tenha percebido, pela minha expressão, que estava enrascada.

Ela não disse nada até que eu estava reunindo seu almoço. Não sabia do que ela gostava – ainda não – então apanhei um de cada.

- “O que está fazendo?” – ela sibilou em uma voz baixa. – “Não está pegando tudo isso para mim, não é?”

Sacudi a cabeça, e entreguei a bandeja para o caixa. – “Metade é para mim, é claro.”

Ela ergueu uma sobrancelha ceticamente, mas não disse mais nada enquanto eu pagava pela comida e a acompanhava à mesa que nós nos sentamos na semana passada antes da experiência desastrosa com a coleta de sangue. Parecia que tinha sido a mais tempo do que há alguns dias. Tudo estava diferente agora.

Ela sentou-se de frente para mim novamente. Eu empurrei a bandeja em sua direção.

“Pegue o que quiser”, eu encorajei.

Ela escolheu uma maçã, virando ela em suas mãos, um olhar pensativo em seu rosto.

“Eu estou curiosa”.

Que surpresa.

“O que você faria se uma pessoa te desafiasse a comer alguma coisa?” ela continuou em uma voz baixa que não alcançaria os ouvidos humanos. Ouvidos imortais eram um outro caso, se esses ouvidos estivessem prestando atenção. Eu provavelmente devia ter mencionado alguma coisa para eles mais cedo…

“Você está sempre curiosa”, eu me queixei. Oh, bem. Não era como se eu nunca tivesse comido antes. Isso fazia parte da charada. Uma parte nem um pouco prazerosa.

Eu procurei pela coisa mais próxima e a segurei nas mãos enquanto eu mordia um pedaço do que quer que fosse. Sem olhar, eu não podia dizer. Era repugnante e espesso e repulsivo como qualquer comida humana. Eu mastiguei rapidamente e engoli, tentando manter as caretas fora do meu rosto. O bolo de comida se moveu lenta e desconfortavelmente goela abaixo. Eu suspirei e imaginei em como eu iria ter que colocar isso para fora depois. Nojento.

A expressão de Bella estava chocada. Impressionada.

Eu quis revirar meus olhos. É claro que nós tínhamos causado algumas decepções.

“Se alguém te desafiasse a comer areia, você poderia, não poderia?”

O seu nariz se enrugou e ela sorriu. “Eu já fiz isso uma vez…num desafio. Não foi tão ruim”.

Eu ri “Eu acho que não estou muito surpreso”

Eles parecem à vontade, não parecem? Boa linguagem corporal. Eu vou falar com Bella depois. Ele está se inclinando em direção à ela como se deve, se ele estiver interesse. Ele parece interessado. Ele parece… perfeito. Jessica suspirou. Aiai.

Eu encontrei com os olhos curiosos de Jessica, e ela olhou para longe nervosa, dando risadinhas com a garota ao seu lado.

Hmmm. Melhor eu ficar com Mike. Realidade, não fantasia…

“Jessica está analisado tudo que eu faço,” Eu informei à Bella “Ela vai falar com você sobre isso depois.”

Eu empurrei o prato de comida de volta em direção à ela – pizza, eu percebi – imaginando a melhor forma de começar. Minha frustração de antes queimou novamente com as palavras se repetindo em minha cabeça: Muito mais do que ele gosta de mim. Mas eu não sei como posso evitar isso.

Ela deu uma mordida no mesmo pedaço de pizza. É impressionante como ela confiava em mim agora. É claro, ela não sabia que eu era venenoso – não que aquele pedaço de comida pudesse machucá-la. Ainda assim, eu esperava que ela me tratasse diferente. Como outra coisa. Ela nunca fez isso – pelo menos, não de uma forma negativa…

Eu devia começar de forma gentil.

“Então a garçonete era bonita, não era?”

Ela ergueu uma sobrancelha de novo. “Você realmente não reparou?”

Como se qualquer outra mulher pudesse tirar a minha atenção de Bella. Absurda, de novo.

“Não. Eu não estava prestando atenção. Eu tinha muitas coisas na cabeça”. Não pior do que as que haviam sido envolvidas pela sua blusinha fina.

Ao menos ela não teria que usar aquele suéter horrível hoje.

“Pobre garota” Bella disse, sorrindo.

Ela gostou que eu não tivesse achado a garçonete interessante de qualquer forma. Eu podia entender isso. Quantas vezes eu tinha me imaginando mutilando Mike Newton na sala de biologia?

Ela não conseguiria compreender honestamente que esses seus sentimentos humanos, fruto de dezessete anos humanos, podiam ser mais fortes que as minhas paixões imortais que tinham se construído por um século.

“Algo que você disse pra Jessica…” Eu não conseguia manter a minha voz casual. “Bem, me incomodou”.

Ela se colocou imediatamente na defensiva.

“Eu não estou surpresa que você tenha ouvido algo de que não tenha gostado. Você sabe o que as pessoa dizem sobre espionar”.

Os bisbilhoteiros nunca ouvem bem deles, esse era o ditado.

“Eu te disse que estaria ouvindo” eu a lembrei.

“E eu te avisei que você não ia querer saber tudo o que eu pensava”.

Ah, ela estava pensando de quando eu a fiz chorar. O remorso fez minha voz endurecer.

“Você avisou. Porém, você não estava precisamente certa. Eu quero saber o que você pensa – tudo. Eu só queria que você não estivesse pensando em… algumas coisas”.

Mais meias-verdades. Eu sabia que eu não podia querer que ela se importasse comigo. Mas eu queria. É claro que eu queria.

“Isso é uma distinção”. Ela rosnou, fazendo cara feia para mim.

“Mas não é isso que importa no momento”.

“Então o que é?”

Ela se inclinou em minha direção, sua mão ao redor de seu pescoço. Isso atraiu meus olhos – me distraindo. Como sua pele devia ser suave…

Se concentre, eu me ordenei.

“Você realmente acredita que gosta de mim mais do que eu gosto de você?” eu perguntei. A pergunta parecia ridícula para mim, como se as palavras estivessem trocadas.

Seus olhos se arregalaram, sua respiração parou. Então ela olhou para longe, piscando rapidamente. Sua respiração saiu em um baixo suspiro.

“Você está fazendo isso de novo”, ela murmurou.

“O que?”

“Me deixando deslumbrada”, ela admitiu, encontrando meus olhos cuidadosamente.

“Oh” Hmm. Eu não tinha muita certeza do que fazer quanto a isso. Nem eu tinha certeza se eu não queria deslumbrá-la. Eu ainda estava emocionado por eu poder deslumbrá-la. Mas isso não estava ajudando o progresso da conversa.

“Não é sua culpa”, ela suspirou “Você não consegue evitar”.

“Você vai responder a pergunta?” eu exigi.

Ela encarou a mesa. “Sim.”

Isso foi tudo que ela disse.

“Sim, você vai responder; ou sim, você realmente acha isso?” eu perguntei impacientemente.

“Sim, eu realmente acho isso”, ela disse sem olhar para cima. Tinha um fraco tom de tristeza em sua voz. Ela corou de novo, e seus dentes se moveram inconscientemente para mordiscar seu lábio.

Abruptamente, eu percebi que isso era muito difícil para ela admitir, porque ela realmente acreditava nisso. E eu não era melhor do que aquele covarde, Mike, pedindo para ela confirmar seus sentimentos antes que eu confirmasse os meus próprios. Não importava que o que eu sentisse estivesse totalmente claro para mim. Eu ainda não os tinha esclarecido para ela, e isso não tinha perdão.

“Você está errada”, eu prometi. Ela deve ter ouvido a ternura em minha voz.

Bella olhou para mim, seus olhos opacos, não dizendo nada. “Você não tem como saber isso” ela murmurou.

Ela achava que eu estava subestimando seus sentimentos porque eu não podia ouvir seus pensamentos. Mas, na verdade, o problema é que ela estava subestimando os meus.

“O que te faz pensar isso?” eu me admirei.

Ela me encarou, as rugas entre suas sobrancelhas, mordendo seus lábios. Pela milionésima vez, eu desejava desesperadamente que eu pudesse ouvi-la.

Eu estava prestes a implorar para que ela me dissesse sobre o que ela tanto pensava, mas ela ergueu um dedo para não me deixar falar.

“Me deixe pensar” ela pediu.

Enquanto ela estava simplesmente organizando os seus pensamentos, eu podia me manter paciente.

Ou podia fingir que mantinha.

Ela pressionou suas mãos juntas, cruzando e descruzando seus finos dedos. Ela estava olhando suas mãos como se elas pertencessem à outra pessoa enquanto ela falava.

“Bem, tirando o óbvio” ela murmurou. “Às vezes… Eu não posso ter certeza – eu não leio mentes – mas às vezes parece que você está querendo dizer adeus, mas diz outra coisa”, ela não olhou para cima.

Ela percebeu, não percebeu? Ela percebeu que foi somente fraqueza e egoísmo que me mantiveram aqui? Ela pensa pior de mim por isso?

“É uma questão de perspectiva” eu soltei, então olhei com horror a dor que cruzava a sua expressão. Eu me apressei para contradizer a sua suposição.

“Porém, é exatamente por isso que você está errada, no entanto -”, eu comecei, então eu parei, me lembrando das primeiras palavras de sua explicação “O que você quis dizer com ‘o óbvio’?”

“Bem, olhe pra mim” ela disse.

Eu estava olhando. Tudo o que eu fazia era olhar para ela. O que ela quis dizer?

“Eu sou absolutamente normal,” ela explicou. “Bem, com exceção das experiências de quase-morte e de ser tão atrapalhada que eu quase chego a ser uma inválida. E olhe pra você”. Ela abanou o ar em minha direção, como se ela estivesse explicando coisa tão óbvia que não era necessário de se dizer.

Ela pensava que era normal? Ela pensou que eu era de alguma forma melhor do que ela? Na avaliação de quem? Pessoas tolas, de mente pequena, humanos cegos como Jessica ou Sra. Cope? Como que ela não percebeu que ela era a mais bela… mais delicada… essas palavras não eram o suficiente.

E ela não tinha nem idéia.

“Você não se vê muito claramente, sabe” eu disse a ela. Eu tenho que admitir que você estava certa sobre as experiências de quase-morte…” eu ri sem humor. Eu não achava cômico o destino miserável que a assombrava. A falta de jeito, no entanto, era um pouco engraçado. Amável. Ela acreditaria em mim se eu dissesse a ela que ela era linda por dentro e por fora? Apesar de que ela acharia uma corroboração mais persuasiva. “Mas você não ouviu o que todos os seres humanos do sexo masculino nessa escola pensaram de você no seu primeiro dia”.

Ah, a esperança, a vibração, a ansiedade daqueles pensamentos. A velocidade com que eles se tornaram em fantasias impossíveis. Impossíveis, porque ela não queria nenhum deles.

Eu fui o único a quem ela disse sim.

Meu sorriso devia estar parecendo presunçoso.

Ela ficou inexpressiva com surpresa. “Eu não acredito nisso,” ela resmungou.

“Acredite em mim apenas dessa vez – você é o oposto do comum.”

Sua existência era justificativa suficiente pra criação de todo o mundo.

Ela não estava acostumada com elogios, eu podia ver isso. Outra coisa a qual ela apenas tinha que se acostumar. Ela se esguichou, e mudou de assunto. “Mas eu não estou dizendo adeus.”

“Você não vê? Isso é o que prova que eu estou certo. Eu me preocupo mais, porque se eu tenho que fazer isso…” Algum dia eu seria bondoso o suficiente para fazer a coisa certa? Eu mexi a cabeça sem esperança. Eu teria que encontrar força. Ela merecia uma vida. Não o que Alice tinha visto vindo pra ela. “Se ir embora é a coisa certa a fazer…” E tinha que ser a coisa certa, não tinha? Não havia anjo imprudente. Bella não me pertencia. “Então eu me machucarei para mantê-la sem se machucar, para mantê-la salva.”

Enquanto eu dizia as palavras, eu desejava que fosse verdade.

Seus olhos cintilaram pra mim. De alguma forma, minhas palavras a irritaram. “E você não acha que eu faria o mesmo?” ela demandou furiosa.

Tão furiosa – tão macia e tão frágil. Como ela poderia machucar alguém? “Você nunca teria que fazer essa escolha,” eu disse a ela, novamente triste pela grande diferença entre nós.

Ela me fitou, o carinho substituindo a raiva em seus olhos e vindo a tona a pequena dobra entre eles.

Havia algo verdadeiramente errado com a ordem do universo se alguém tão bom e tão quebrável não merecia um anjo da guarda para mantê-la fora de problemas.

Bem, eu pensei com um humor negro, pelo menos ela tinha um vampiro da guarda.

Eu sorri. Como eu gostava da minha desculpa para ficar. “Claro, manter você segura está começando a parecer uma ocupação de tempo integral que requer minha presença constante.”

Ela sorriu, também. “Ninguém tentou me matar hoje,” ela disse levemente, e então sua expressão se tornou especulativa por metade de um segundo antes que seus olhos ficassem opacos novamente.

“Ainda,” eu adicionei secamente.

“Ainda,” ela concordou para minha surpresa. Eu esperava que ela negasse qualquer necessidade de proteção.

Como ele pôde? Aquele burro egoísta! Como ele pôde nos fazer isso? O grito da mente pungente de Rosalie quebrou minha concentração.

“Fácil, Rose,” eu ouvi Emmett sussurrar do outro lado da cantina. Seus braços estavam a redor dos ombros dela, segurando-a firme a seu lado – restringindo-a.

Desculpe, Edward, Alice pensou se culpando. Ela poderia dizer que Bella sabia muito pela conversa de vocês… e, bem, seria pior se eu não a tivesse contado a verdade antes. Confie em mim.

Eu estremeci pela figura mental seguinte, do que teria acontecido se eu dissesse a Rosalie que Bella sabia que eu era um vampiro em casa, onde Rosalie não tinha uma fachada a manter. Eu teria que esconder meu Aston Martin em algum lugar fora do estado se ela não se acalmasse até que o tempo escolar acabasse. A visão do meu carro preferido, estropiado e queimando, foi perturbadora – embora eu soubesse que ganharia a retribuição.

Jasper não estava muito mais feliz.

Eu negociaria com os outros mais tarde. Eu tinha muito pouco tempo permitido pra ficar com Bella, e eu não ia desperdiçá-lo. E ouvir Alice me lembrando que eu tinha alguns trabalhos a fazer.

“Eu tenho outra pergunta para você,” eu disse evitando os ataques histéricos mentais de Rosalie.

“Diga,” Bella disse sorrindo.

“Você realmente precisa ir a Seattle esse sábado, ou é só uma desculpa para fugir de todos os seus admiradores?”

Ela fez uma careta para mim. “Você sabe que eu ainda não te perdoei pela coisa com o Tyler. É sua culpa, ele se iludir pensando que eu vou ao baile com ele.”

“Oh, ele encontraria uma chance de te convidar sem minha ajuda – eu só queria ver sua cara.”

Eu ri nesse momento, lembrando da sua expressão consternada. Nada que eu tinha dito para ela sobre a minha própria história negra tinha feito ela parecer tão aterrorizada. A verdade não a deixava aterrorizada. Ela queria estar comigo. Espantoso.

“Se eu tivesse te convidado, você teria recusado?”

“Provavelmente não,” ela disse. “Mas eu teria cancelado mais tarde – fingindo estar doente ou ter torcido o tornozelo.”

Que estranho. “Por que você faria isso?”

Ela balançou a cabeça desapontada que eu não tivesse entendido de primeira.

“Você nunca me viu na educação física, eu suponho, eu acho que você entenderia.”

Ah. “Você está se referindo ao fato de que você não consiga atravessar uma superfície estável sem achar algo para tropeçar?”

“Obviamente.”

“Isso não seria um problema. Tudo depende de quem está guiando.”

Por uma fração de segundos, eu estava imerso na idéia de segura-la em meus braços em uma dança – onde ela usaria algo bonito e delicado, e não aquele horrível suéter.

Com perfeita clareza, eu me lembrei de como o corpo dela se sentiu embaixo do meu logo após tirá-la do caminho da van desgovernada. Mais forte que o pânico ou o desespero ou a mortificação, eu podia lembrar-me daquela sensação. Ela era tão quente e tão macia, se encaixando perfeitamente em minha própria forma de pedra…

Eu me libertei da memória.

“Mas você ainda não me disse -” eu disse rapidamente, impedindo ela de discutir comigo sobre o seu desajeitamento, como ela claramente pretendeu fazer.

“Você está decidida a ir pra Seattle, ou se importaria de fazermos algo diferente?”

Divergente – dando a ela uma escolha, sem dar a ela a possibilidade de fugir de mim por um dia. Dificilmente justo da minha parte. Mas eu fiz uma promessa a ela noite passada… E eu gostei da idéia de poder cumpri-la – quase tanto quanto a idéia me aterrorizava.

O sol deveria estar brilhando no sábado. Eu poderia mostrar para ela o verdadeiro eu, se eu fosse bravo o suficiente para suportar o seu horror e a repugnância. Eu conhecia apenas um lugar para correr tal risco…

“Eu estou aberta a alternativas,” Bella disse.” Mas eu tenho um favor a pedir.”

Uma qualificação, sim. O que será que ela queria de mim?

“O que?”

“Posso dirigir?”

Era essa a idéia dela de diversão? “Por quê?”

“Bem, é por que quando eu disse a Charlie que iria a Seattle, ele especificamente perguntou se eu iria sozinha, e até o momento eu ia. Se ele perguntar novamente, eu provavelmente não vou mentir, mas não acho que ele perguntar de novo, e deixar minha picape em casa só levantaria o assunto sem nenhuma necessidade. E, além disso, porque você dirige de um jeito que me dá medo.”

Virei meus olhos para ela. – “De todas as coisas sobre mim que podem te dar medo, você se preocupa com minha direção.” – Realmente, o cérebro dela funcionava de trás para frente. Sacudi a cabeça, desgostoso.

Edward, Alice chamou urgentemente.

De repente eu estava olhando para um círculo de luz do sol, distraído por uma das visões de Alice.

Era um lugar que eu conhecia bem, um lugar que eu tinha considerado levar Bella – uma pequena clareira aonde ninguém ia além de mim. Um lugar bonito e quieto eu podia ficar sozinho – longe de qualquer trilha ou habitação humana, que até minha mente podia ficar calma e ter paz.

Alice reconheceu também, porque ela já tinha me visto lá não fazia muito tempo, em outra visão – uma dessas visões rápidas e indistintas que Alice tinha me mostrado no dia em que salvei Bella da van.

Nessa visão vacilante, eu não tinha estado sozinho. E agora estava claro – Bella estava lá comigo. Então eu era corajoso o suficiente. Ela olhava para mim, arco-íris dançando em seu rosto, seus olhos insondáveis.

É o mesmo lugar, Alice pensou, sua mente cheia de um horror que não combinava com a visão. Tensão, talvez, mas horror? O que ela quis dizer, é o mesmo lugar?

E então eu vi.

Edward! Alice protestou, estridente. Eu a amo, Edward!

Eu a ignorei sem dó.

Ela não amava a Bella do jeito que eu amava. A visão dela era impossível. Errada. Ela estava cega, de algum jeito, vendo coisas impossíveis.

Nem meio segundo havia se passado. Bella estava olhando curiosamente para meu rosto, esperando que eu concordasse com seu pedido.

Ela tinha visto o lampejo de terror, ou tinha sido rápido demais para ela?

Me concentrei nela, em nossa conversa inacabada, empurrando Alice e suas visões falhas de meus pensamentos. Elas não mereciam minha atenção.

Não consegui manter o tom alegre da brincadeira.

- “Não quer contar a seu pai que vai passar o dia comigo?” – eu perguntei, um tom sombrio cobrindo minha voz.

- “Com Charlie é melhor não pecar pelo excesso.” – disse Bella, certa deste fato. – “Aonde vamos, aliás?”

Alice estava errada. Muito errada. Não tinha chance disso acontecer. E era só uma visão antiga, inválida. As coisas tinham mudado.

- “O tempo estará bom” – eu disse a ela lentamente, lutando contra o pânico e a indecisão. Alice estava errada. Eu continuaria como se não tivesse escutado ou visto nada. – “Então vou ficar longe dos olhares públicos… E você pode ficar comigo, se quiser.”

Bella entendeu o significado na hora; seus olhos estavam brilhantes e ansiosos. – “E vai me mostrar o que quis dizer, sobre o sol?”

Talvez, como tantas vezes antes, a reação dela seria oposta ao que eu esperava. Eu sorri com essa possibilidade, lutando para voltar ao momento mais leve. – “Vou. Mas…” – ela ainda não tinha tido sim. – “se não quiser ficar… só comigo, ainda prefiro que não vá a Seattle sozinha. Eu tremo só de pensar nos problemas que você pode arranjar numa cidade daquele tamanho.”

Os lábios dela se juntaram; estava ofendida.

- “Phoenix é três vezes maior do que Seattle – só em termos de população. Em tamanho…”

- “Mas ao que parece sua hora não ia chegar em Phoenix” – eu disse, cortando suas justificações. – “Então é melhor ficar perto de mim.”

Ela podia ficar para sempre e ainda não seria o suficiente.

Não devia pensar desse jeito. Nós não tínhamos para sempre. Os segundos que passavam contavam mais do que já haviam contado antes; cada segundo a mudava enquanto eu continuava o mesmo.

- “Por acaso, eu não me importo de ficar sozinha com você.” – ela disse.

Não – porque seus instintos eram de trás para frente.

- “Eu sei.” – suspirei. – “Mas devia contar ao Charlie.”

- “Por que diabos eu faria isso?” – ela perguntou, parecendo horrorizada.

Olhei para ela, as visões que ainda não conseguia reprimir girando, nauseantes pela minha cabeça.

- “Para me dar um pequeno incentivo para leva-la de volta.” – eu sibilei. Ela devia me dar isso – “Uma testemunha para me obrigar a ser cauteloso.”

Por que Alice tinha que forçar esse conhecimento para mim justo agora?

Bella engoliu ruidosamente, e me encarou com um longo momento. O que ela tinha visto?

- “Acho que vou correr o risco.” – ela disse.

Argh! Ela ficava animada em arriscar a vida? Alguma dose de adrenalina que ansiava?

Eu fiz uma careta para Alice, que encontrou meu olhar com uma expressão de advertência. Ao lado dela, Rosalie estava encarando furiosamente, mas eu não podia ter me importando menos. Deixa que ela destrua o carro. Era só um brinquedo.

- “Vamos falar de outra coisa.” – Bella sugeriu de repente.

Olhei de volta para ela, me perguntando como ela podia ser tão alheia ao que importava de verdade. Por que ela não me via pelo mostro que eu era?

- “Do que você quer falar?”

Seus olhos se viraram para a esquerda e então para a direita, como se estivesse checando que ninguém estava escutando. Ela devia estar planejando conversar sobre outro tópico relacionado a mitos. Os olhos congelaram por um segundo e seu corpo enrijeceu, e então ela olhou para mim.

- “Por que foi àquele lugar nas Goat Rocks no fim de semana passado… para caçar? Charlie disse que não era um bom lugar para caminhadas, por causa dos ursos.”

Tão alheia. Continuei olhando para ela, com uma sobrancelha erguida.

- “Ursos?” – ela ofegou.

Eu sorri ironicamente, prestando atenção enquanto ela absorvia o fato. Isso a faria me levar a sério? Alguma coisa faria?

Ela recompôs a expressão. – “Sabe, ursos não estão na temporada.” – ela disse severamente, estreitando os olhos.

-” Se ler com cuidado, as leis só diz respeito a caça com armas.”

Ela perdeu o controle de seu rosto por um momento. Sua boca se abriu.

- “Ursos?” – ela disse outra vez, uma pergunta experimental dessa vez, não um ofego de choque.

- “Os pardos são os preferidos de Emmett.”

Eu observei seus olhos, vendo-a se organizar.

- “Hmmm “- ela murmurou. Pegou um pedaço de pizza, olhando para baixo. Ela mastigou pensativamente, então tomou um gole da bebida.

- “E aí” – ela disse, finalmente olhando para cima. – “Qual é o seu preferido?”

Eu achei que devia ter esperado algo assim, mas não tinha. Bella era sempre interessante, no mínimo.

- “O leão da montanha.” – eu respondi bruscamente.

- “Ah.” – ela disse em uma voz neutra. Seus batimentos cardíacos continuaram estáveis e regulares, como se estivéssemos discutindo um restaurante preferido.

Ótimo, então. Se ela queria agir como se isso não fosse nada incomum…

- “É claro que precisamos ter o cuidado de não causa impacto ambiental com uma caçada imprudente.” – Eu disse a ela, minha voz desatada e sem emoção. – “Tentamos nos concentrar em áreas com uma superpopulação de predadores… na maior extensão que precisarmos. Sempre há muitos cervos e veados por aqui, e eles vão servir, mas que diversão há nisso?”

Ela escutou com uma expressão educadamente interessada, como se eu estivesse passando uma lição de casa. Tive que sorrir.

- “Que diversão?” – ela murmurou calmamente, mordendo outro pedaço de pizza.

- “O início da primavera é a temporada de ursos preferida de Emmett…” – Eu disse, continuando com a lição. – “Eles estão saindo da hibernação, então são mais irritadiços.”

Setenta anos depois, e ele ainda não tinha superado o fato de ter perdido aquela primeira briga.

- “Não há nada mais divertido do que um urso pardo irritado.” – Bella concordou, acenando solenemente.

Não consegui reprimir uma risadinha quando sacudi a cabeça com a calma ilógica dela. Tinha que ser fingida. – “Me diga o que realmente está pensando, por favor.”

- “Estou tentando imaginar… mas não consigo” – ela disse, a pequena ruga aparecendo entre seus olhos. – “Como vocês caçam um urso sem armas?”

- “Ah, nós temos armas” – eu disse a ela, então abri um largo sorriso. Esperava que ela se encolhesse, mas ela ficou parada, me olhando. – “Mas não do tipo que consideram quando redigem as leis de caça. Se já viu um ataque de urso pela televisão, deve poder visualizar Emmett caçando.”

Ela espirou em direção a mesa onde os outros sentavam, e tremeu.

Finalmente. Então eu ri comigo mesmo, porque parte de mim queria que ela continuasse alheia.

Seus olhos escuros estavam arregalados e profundos quando voltou a me olhar. – “Você também é como um urso?” – ela perguntou, quase sussurrando.

- “Mais como o leão, ou é o que me dizem.” – disse a ela, lutando para parecer desatado novamente. Talvez nossas preferências sejam indicativas.

Os lábios dela se levantaram um pouco nos lados. – “Talvez.” – ela repetiu. E então a cabeça dela pendeu para o lado, e curiosidade estava inesperadamente clara em seus olhos. – “É uma coisa que eu poderia ver?”

Eu não precisava das imagens de Alice para ilustrar esse horror – minha imaginação já era boa o suficiente.

- “Claro que não!” – rosnei para ela.

Ela se desviou para longe de mim, seus olhos surpresos e assustados.

Eu me afastei também, querendo deixar algum espaço entre nós. Ela nunca iria ver, iria? Ela não faria nenhuma coisa para me ajudar a mantê-la viva.

- “É assustador demais para mim?” – ela perguntou a voz composta. Seu coração, no entanto, ainda estava se movimentando em tempo dobrado.

- “Se fosse assim, eu levaria você esta noite” – eu revidei pelos dentes. – “Você precisa de uma dose saudável de medo. Nada pode ser mais benéfico para você.”

- “Então por quê?” – ela pediu, sem recuar.

A encarei sombriamente, esperando que ela ficasse com medo. Eu estava com medo. Podia imaginar muito claramente Bella enquanto eu caçava…

Os olhos delas continuaram curiosos, impacientes, nada mais. Ela esperou por sua resposta, sem desistir.

Mas nossa hora tinha terminado.

- “Depois.” – eu repreendi, e me pus de pé. – “Vamos nos atrasar.”

Ela olhou ao seu redor, desorientada, como tivesse esquecido de que estava no almoço. Como se tivesse esquecido que estávamos na escola – surpresa que nãos estivéssemos sozinhos em algum lugar particular. Eu entendia exatamente esse sentimento. Era difícil lembrar do resto do mundo quando eu estava com ela.

Ela se levantou rapidamente, sacudindo a cabeça uma vez, e então jogou a mochila no ombro.

- “Depois, então.” – ela disse, e eu pude ver a determinação se formar em sua boca; ela ia me segurar nesse assunto.



Complicações

Bella e eu andamos silenciosamente até a aula de biologia. Eu estava tentando me focar no momento, na garota ao meu lado, no que era real e sólido, em qualquer coisa que mantivesse as visões enganosas e sem sentido da Alice longe de minha cabeça.

Nós passamos por Angela Weber, lentamente na calçada, discutindo um exercício com um garoto de sua aula de trigonometria. Eu vistoriei os pensamentos dela mecanicamente, esperando mais desapontamentos, somente para ser surpreendido por seu teor melancólico.

Ah, então havia alguma coisa que Angela queria. Infelizmente, não era algo que podia ser facilmente embrulhado para presente.

Eu me senti estranhamente confortável por um momento, ouvindo a falta de esperança gritante de Angela. Um senso de afinidade de que Angela nunca tomaria conhecimento passou por mim, e eu estava, naquele segundo, quite com aquela garota humana. Eu estava estranhamente consolado em saber que eu não era o único a viver uma trágica história de amor. Corações quebrados estavam por toda parte.

No segundo seguinte, eu estava abruptamente e completamente irritado. Porque a história de Angela não tinha que ser trágica. Ela era humana e ele era humano e a diferença que parecia tão intransponível em sua cabeça era ridícula, realmente ridícula comparada à minha própria situação. Não havia razão em seu coração quebrado.

Que tristeza mais sem sentido, quando não havia nenhuma razão válida para ela não estar com quem ela queria. Por que ela não tinha o que ela queria? Por que essa história não tinha um final feliz?

Eu queria dar a ela um presente… Bem, eu devia dar a ela o que ela queria. Sabendo o meu efeito sob a natureza humana, isso provavelmente não devia ser muito difícil. Eu analisei cuidadosamente a consciência do garoto ao seu lado, o objeto de sua afeição, e ele não pareceu relutante, ele somente estava bloqueado pela mesma dificuldade que ela estava. Falta de esperança e submisso, assim como ela.

Tudo que eu tinha que fazer era implantar a sugestão…

O plano se formou facilmente, o script se escreveu sozinho sem esforço algum de minha parte. Eu precisaria da ajuda de Emmet – convencê-lo a ir adiante com isso era a única dificuldade de verdade. A natureza humana era muito mais fácil de se manipular do que a natureza vampírica.

Eu estava satisfeito com a minha solução, com o meu presente para Angela. Era uma boa distração de meus próprios problemas. Gostaria que os meus fossem tão fáceis de serem resolvidos.

Meu humor estava lentamente melhorando enquanto eu e Bella nos sentávamos em nossos lugares. Talvez eu devesse ser mais positivo. Talvez existisse alguma solução para nós que estava me escapando, do mesmo jeito que a solução óbvia para Angela não estava visível para ela. Não é muito provável… mas por que perder tempo com falta de esperança? Eu não tinha tempo a perder quando se tratava de Bella. Cada segundo importava.

O Senhor Banner centralizou uma velha TV e vídeo. Ele estava pulando uma sessão que ele não estava particularmente interessado – doenças genéticas – mostrando um vídeo nos próximos três dias. O Óleo de Lorenzo não era uma peça muito alegre, mas isso não parou a excitação na sala. Sem anotações, sem materiais de teste. Três dias livres. Os humanos exultavam.

Isso não me importava muito, de qualquer forma. Eu não tinha planejado em prestar atenção em nada além de Bella.

Eu não puxei a minha cadeira para longe dela hoje, para me dar espaço para respirar. Ao invés disso, eu sentei perto, ao lado dela, como qualquer humano normal faria. Mais perto do que nós sentamos dentro do carro, perto o suficiente para que o lado esquerdo do meu corpo submergisse no calor que saía de sua pele.

Era uma experiência estranha, tanto agradável quanto extremamente irritante, mas eu preferia isso a sentar de frente para ela na mesa. Isso era mais do que eu estava acostumado, e ainda eu rapidamente percebi que não era o suficiente. Eu não estava satisfeito. Estando tão perto assim dela eu queria estar mais perto. A força era maior quanto mais perto eu estava.

Eu tinha a acusado de ser um imã para o perigo. Agora mesmo, eu sentia que isso era literalmente verdade. Eu era o perigo, e, cada centímetro que eu me permitia ficar mais próximo dela, sua força de atração aumentava.

E então o Senhor Banner desligou as luzes.

Foi diferente, quanto de diferença isto fez, considerando que a falta da luz significa pouco aos meus olhos. Eu podia ver perfeitamente quanto antes. Cada detalhe da sala era claro.

Então por que o súbito choque de eletricidade no ar, na sala escura que não era escura para mim? Era porque eu sabia que eu era o único que podia ver claramente? Ambos, Bella e eu éramos invisíveis para os outros? Como se estivéssemos sozinhos, somente nós dois, escondidos em uma sala escura, sentados tão perto um do outro…

Minha mão se moveu na direção dela sem a minha permissão. Somente para tocar a sua mão, segurá-la na escuridão. Isso teria sido um engano horrível? Se a minha pele a incomodasse, ela só teria que puxar sua mão para longe…

Eu puxei rapidamente minha mão de volta, cruzando meus braços firmemente contra o meu peito e cerrei minhas mãos. Sem erros. Eu tinha prometido a mim mesmo que eu não cometeria erros, não importassem quão mínimos eles parecessem. Se eu segurasse a sua mão, eu iria querer mais – outro toque insignificante, outro movimento para mais perto dela. Eu podia sentir isso. Um novo tipo de desejo estava crescendo em mim, lutando para superar meu auto-controle.

Sem erros.

Bella cruzou seus braços com segurança sob seu próprio peito, e suas mãos estavam travadas como bolas, assim como as minhas.

O que você está pensando? Eu estava morrendo para murmurar as palavras para ela, mas a sala estava quieta o suficiente para se ouvir a mínima conversação.

O filme começou, iluminando a escuridão um pouco. Bella olhou para mim. Ela notou a maneira rígida que eu mantinha meu corpo – assim como ela – e sorriu. Seus lábios se repartiram lentamente, e seus olhos pareciam cheios de calorosos convites.

Ou eu estava vendo o que eu queria ver.

Eu sorri de volta; sua respiração saiu em um baixo ofego e ela olhou rapidamente para longe. Isso piorou as coisas. Eu não conhecia seus pensamentos, mas eu estava repentinamente positivo de que eu estava certo antes, e ela queria me tocar. Ela sentia esse desejo perigoso assim como eu.

Entre o seu corpo e o meu, a intensa eletricidade.

Ela não se moveu pelo resto da hora, mantendo-se rígida, postura controlada enquanto eu me segurava.

Ocasionalmente, ela me espiava de novo, e a eletricidade se agitava como se um raio passasse por mim de forma repentina.

A hora passou – mesmo assim suficientemente lenta. Isso era tão novo, eu poderia ficar sentado aqui ao lado dela por todo o dia, só para experimentar esse sentimento por completo.

Eu tinha dúzias de diferentes argumentos para discutir comigo mesmo enquanto os minutos passaram. Racionalidade lutando contra desejo enquanto eu tentava justificar tê-la tocado.

Finalmente, Sr. Banner ligou as luzes novamente.

Na brilhante luz fluorescente, a atmosfera do quarto voltou ao normal.

Bella suspirou e se espreguiçou, esticando os braços na sua frente. Isto deve ter sido desconfortável para ela se manter naquela posição por muito tempo. Era mais fácil para mim – a imobilidade vinha naturalmente.

Eu soltei um risinho pela expressão de alivio em sua face. “Bem, aquilo foi interessante.”

“Hmm,” ela murmurou, claramente entendendo sobre o que eu me referi, mas sem fazer comentários. Eu daria tudo para ouvir o que ela estava pensando naquele instante.

Eu suspirei. Nem toda a vontade do mundo me ajudaria com aquilo.

“Devemos?” Eu perguntei, me levantando.

Ela fez uma careta e se pôs de pé de uma maneira instável, com suas mãos espalmadas como se ela estivesse com medo de que fosse cair.

Eu poderia oferecer minha mão. Ou poderia colocar minha mão por baixo de seu cotovelo – bem sutilmente – e apoiá-la. Claramente não seria uma infração horrível…

Sem equívocos.

Ela estava muito quieta enquanto caminhávamos através do ginásio. Entre seus olhos uma ruga se fazia evidente, um sinal de que ela não havia dormido muito. Eu, também, estivera pensando profundamente.

Um toque em sua pele não iria machucá-la, argumentava meu lado egoísta.

Eu poderia facilmente moderar a pressão de minhas mãos. Isso não era algo dificil, enquanto eu conseguisse me controlar. Meu senso tátil era melhor desenvolvido do que o de um humano. Eu poderia fazer malabarismos com uma dúzia de cristais sem quebrar nenhum. Eu poderia tocar uma bolha de sabão sem estourá-la. Enquanto eu estivesse em meu pleno controle…

Bella era como uma bolha de sabão – frágil e efêmera. Temporária.

Por quanto tempo eu seria capaz de justificar a minha presença em sua vida? Quanto tempo eu ainda tinha? Eu teria outra chance, como esta, como este momento, este segundo?

Ela não estaria sempre ao alcance de meus braços…

Bella virou-se para olhar-me à porta do ginásio, seus olhos arregalaram-se diante da expressão de meu rosto. Ela nada falou. Eu olhei para mim mesmo através do reflexo de seus olhos e vi o conflito dentro de mim. Assisti a minha face se alterar enquanto meu melhor lado perdia o argumento.

Minha mão se levantou, sem um comando consciente para que isso acontecesse. Tão gentilmente como se ela fosse feita do mais fino vidro, como se ela fosse tão frágil como uma bolha, meus dedos tocaram a pele quente que cobria sua bochecha. Ela esquentou ao meu toque e eu pude sentir seu sangue pulsar por baixo de sua pele alva.

Já chega, eu ordenei, apesar de minha mão estar lutando para acariciar sua face. Já chega.

Foi dificil de trazer minha mão de volta, de me fazer parar de me mover mais próximo a ela do que eu já mais havia estado. Milhares de diferentes possibilidades explodiram em minha mente em um átmo – milhares de maneiras de tocá-la. A ponta do meu dedo traçando o contorno de seus lábios. Minha palma acariando seu queixo. Puxando a presília de seus cabelos e deixando ele se espalhar em minha mão. Meus braços envolvendo-a pela cintura, segurando-a contra a extensão de meu corpo.

Já chega.

Eu forcei-me a virar, para mover-me para longe dela. Meu corpo moveu-se pesadamente, sem vontade.

Deixei minha mente hesitante para olhá-la enquanto eu caminhava apressadamente para longe, quase correndo da tentação. Eu capturei os pensamentos de Mike Newton – eram os mais audíveis – enquanto ele via Bella passar por ele sem notá-lo, seus olhos sem foco e suas bochechas coradas. Ele se enfureceu e de repente meu nome se misturava a maldições em sua mente. Eu não ajudei muito, sorrindo sarcásticamente em resposta.

Minhas mãos estavam formigando. Eu as flexionei e então cerrei os punhos, mas elas continuaram a me aferroar de forma indolor.

Não, eu não havia machucado ela – mas ainda assim, tocá-la havia sido um erro.

Eu me sentia em chamas – como se a sede ardente em minha garganta tivesse se espalhado por todo o meu corpo.

Na próxima vez que eu estivesse próximo a ela, seria eu capaz de me impedir de tocá-la novamente? E se eu a toquei uma vez, seria eu capaz de parar por aí?

Sem mais equívocos. Era isso. Contenta-te com a memória, Edward, eu disse para mim mesmo, rindo, e guarda tuas mãos para ti mesmo. Era isso ou eu teria que forçar-me a partir, de alguma forma. Pois eu não poderia permitir a mim mesmo de estar perto dela se eu insistisse em cometer estes erros.

Eu respirei profundamente e tentei afirmar meus pensamentos.

Emmet me encontrou do lado de fora do prédio de Inglês.

“Ei, Edward.” Ele parece melhor, estranho, mas melhor. Feliz.

“Ei, Em.” Pareço feliz? Creio que sim, apesar do caos em minha mente, eu me sentia dessa forma.

É melhor você manter a boca fechada, garoto. Rosalie quer arrancar sua língua fora.

Eu suspirei. “Me desculpe por tê-lo deixado encarregado disso. Está bravo comigo?”

“Naw. Rose vai superar isto. Era algo que estava destinado a acontecer de qualquer jeito.” Assim como o que Alice viu…

As visões de Alice são algo que eu não quero pensar nesse instante. Eu olhei para o vazio, meus dentes travados juntos.

Enquanto eu procurava por alguma distração, eu capturei um pensamento de Ben Cheney, entrando na sala de Espanhol na nossa frente. Ah – aqui estava minha chance de dar a Angela Weber o seu presente.

Eu parei de andar e peguei no braço de Emmet. “Espere um segundo.”

Que foi?

“Eu sei que não mereço, mas você me faria um favor?”

“O que é?” ele me perguntou, curioso.

Sussurradamente – e numa velocidade que faria as palavras incompreensíveis para qualquer humano, não importasse quão audíveis elas fossem ditas – eu expliquei a ele o que eu queria.

Ele me fitou, pasmo, quando eu terminei. Seus pensamentos tão confusos quanto a sua expressão.

“E então?” eu perguntei. “Vai me ajudar a fazê-lo?”

Levou um minuto para que ele respondesse. “Mas, por que?”

“Qual é, Emmet. Por que não?”

Quem diabos é você e o que fez com o meu irmão?

“Não é você que sempre reclama da escola ser sempre igual? Isto é algo um tanto diferente, não acha? Considere isto um experimento – um experimento sobre a natureza humana.”

Ele me fitou por mais um momento antes de dizer. “Bem, isto é diferente, eu o farei… Okay, ótimo.” Emmet bufou e encolheu os ombros. “Eu vou te ajudar.”

Eu sorri para ele, me sentindo mais entusiasmado sobre o meu plano, agora que ele estava a bordo. Rosalie era um saco, mas eu sempre devia a ela por ter escolhido Emmet, ninguém tinha um irmão melhor que o meu.

Emmet não precisaria praticar. Eu sussurrei as instruções para ele, por sob a minha respiração enquanto entravamos na sala de aula.

Ben já estava em sua cadeira, atrás da minha, ajeitando seu dever de casa para entregar.

Emmet e eu, ambos sentamos e fizemos o mesmo. A classe ainda não estava em silêncio; o burburinho de conversas paralelas continuaria até que a senhora Goff chamasse a atenção.

Ela não tinha pressa, estava contemplando os questionários da aula passada.

“Então,” Emmet disse, sua voz mais alta que o necessário – se ele estivesse realmente falando apenas para mim. “Você já convidou a Angela Weber para sair?”

O som de papéis farfalhado atrás de mim cessou abruptmente enquanto Ben congelava, sua atenção repentinamente cravada na nossa conversa.

Angela? Eles estão falando de Angela?

Bom. Eu tinha a sua atenção.

“Não,” eu disse, balançando minha cabeça lentamente para parecer arrependido.

“Por que não?” Emmet improvisou. “Está com medo?”

Eu sorri para ele. “Não, eu ouvi dizer que ela está interessada em outra pessoa.”

Edward Cullen vai chamar Angela para sair? Mas… Não. Eu não gosto disto. Eu não o quero perto dela. Ele não… não é bom para ela. Não é… seguro.

Eu não havia previsto o cavalheirismo, o instinto protetor. Eu queria a inveja. Mas qualquer coisa funcionaria.

“Você vai deixar isso impedir você?” Emmet perguntou, improvisando novamente. “Não está a fim de competição?”

Eu me espantei com ele mas fiz uso do que ele me deu. “Olha, eu acho que ela realmente gosta desse tal de Ben. Eu não vou tentar persuadi-la do contrário. Há outras garotas.”

A reação na cadeira atrás da minha foi elétrica.

“Quem?” Emmet perguntou, de volta ao script.

“Meu parceiro de laboratório disse que é algum garoto chamado Cheney. Eu acho que não sei quem é.”

Eu mordi meus lábios para não sorrir. Apenas os poderosos Cullens poderiam convencer alguém com esse fingimento de não conhecer cada aluno dessa escola simplória.

A cabeça de Ben estava rodando em parafuso. Eu? Acima de Edward Cullen? Mas porque ela iria gostar de mim?

“Edward,” Emmet murmurou em um tom baixo, indicando o garoto com os olhos. “Ele está bem atrás de você,” ele mexeu os lábios, de uma maneira tão óbvia que o humano facilmente pode ler as palavras.

“Oh,” eu murmurei de volta.

Eu virei meu acento e olhei uma vez para o garoto atrás de mim. Por um segundo, os olhos negros, atrás dos óculos, estavam amedrontados, mas então ele enrijeceu e alinhou seus ombros estreitos, afrontado pela minha clara e depreciativa avaliação. Seu queixo se projetou e uma vermelhidão de raiva escureceu sua pele bronzeada.

“Huh,” eu disse arrogantemente enquanto me voltava para Emmet.

Ele pensa que é melhor que eu. Mas Angela não. Eu mostrarei a ele.

Perfeito.

“Você não disse que ela levaria Yorkie para o baile?” Emmet perguntou, roncando ao dizer o nome do garoto demonstrando o quanto desprezava sua esquisitice.

“Aparentemente esta foi uma decisão tomada pelo grupo.” Eu queria ter certeza de que Ben estava escutando claramente. “Angela é tímida. Se B – se um garoto não tiver coragem de chamá-la, ela nunca chamaria”.

“Você gosta de garotas tímidas,” Emmet disse improvisando. Garotas quietas. Garotas tipo… hmm, eu não sei. Talvez Bella Swan?

Eu sorri para ele. “Exatamente.” Depois eu voltei para a encenação. “Talvez Angela se canse de esperar. Talvez eu a chame para o baile.”

Não, você não vai. Ben pensou, sentando-se em sua cadeira. E daí que ela é muito maior que eu? Se ela não se importar, eu também não me importo. Ela é a garota mais legal, mais esperta e mais bonita dessa escola. E ela me quer.

Eu gostei desse Ben. Ele parecia brilhante e bem esclarecido. Talvez até merecesse uma garota como Angela.

Eu mostrei meu polegar para Emmet por debaixo da carteira enquanto a Sra. Goff parou e saudou a classe.

Ok, eu admito – isso foi um tanto engraçado, Emmet pensou.

Eu sorri para mim mesmo, feliz por ter sido capaz de fazer uma história de amor ter um final feliz. Eu sabia que Ben ia cair na armadilha e que Angela iria receber meu presente anônimo. Minha dívida foi paga.

Que tolos eram os humanos, deixar um diferencial de 15 centímetros confundir sua felicidade.

Meu sucesso me deixou de bom humor. Eu sorri novamente enquanto me arrumava em minha cadeira para ser entretido. Afinal de contas, como Bella disse no almoço, eu nunca a havia visto em ação em uma aula de educação física antes.

Os pensamentos de Mike eram os mais fáceis de encontrar no monte de vozes que havia pela quadra. Sua mente tinha se tornado bem familiar nas últimas semanas. Com um suspiro eu me renunciei para ouvir através dele. Pelo menos eu poderia ter certeza que ele estaria prestando atenção em Bella.

Eu estava quase pronto para ouvir ele se oferecendo para ser o parceiro de Bella. Meu sorriso se fechou, meus dentes se apertaram e eu tive que lembrar a mim mesmo que matar Mike Newton não era uma opção permissível.

“Obrigada, Mike – você não precisa fazer isso, sabe?”

“Não se preocupe, eu ficarei fora de seu caminho.”

Eles sorriram um para o outro, e flashes de numerosos acidentes – todos conectados a Bella de alguma forma – se passando pela cabeça de Mike.

Mike jogou sozinho primeiro, enquanto Bella hesitava na metade de trás do pátio, segurando sua raquete cautelosamente, como se ela fosse alguma espécie de arma. Então o treinador bateu palmas enquanto caminhava e disse a Mike para deixar Bella jogar.

Uh oh, Mike pensou enquanto Bella caminhava com um suspiro, segurando sua raquete em um ângulo estranho.

Jennifer Ford jogou diretamente na direção de Bella com uma satisfação rondando seus pensamentos. Mike viu Bella dar uma guinada, batendo a raquete muito longe de seu alvo, e ele entrou para tentar salvar a jogada.

Eu observei a trajetória da raquete de Bella com atenção. Com certeza ela tinha acertado a rede esticada e saltou de volta para ela, dando uma pancada em sua testa antes de quicar para acertar o braço de Mike com um ressonante “thwack”.

Ow. Ow. Uhm. Isso vai deixar um hematoma.

Bella estava esfregando sua testa. Era difícil para mim ficar parando no lugar onde eu estava, sabendo que ela estava machucada. Mas o que eu poderia fazer se estivesse lá? E não parecia ser algo sério… eu hesitei, assistindo. Se ela tentasse continuar a jogar, eu teria que arrumar uma desculpa para tirá-la da aula.

O treinador riu. “Desculpe, Newton.” Essa garota era a mais azarada que eu já tinha visto. Não devia infligir sua presença aos outros.

Ele virou suas costas deliberadamente e se moveu para assistir a outro jogo para que Bella pudesse voltar ao seu lugar de espectadora.

Oh, Mike pensou de novo, massageando seu braço. Ele se virou para Bella. “Você está bem?”

“Sim, e você?” ela perguntou timidamente, corando.

“Acho que posso superar.” Não queria parecer um bebê chorão. Mas, cara, aquilo doía!

Mike balançou seu braço em um círculo, retrocedendo.

“Eu ficarei aqui atrás,” Bella disse, além de dor, vergonha e desgosto em sua expressão.

Talvez Mike tivesse feito o pior. Eu certamente esperava que esse fosse o caso. Pelo menos ela não estava mais jogando. Ela segurou sua raquete com tanto cuidado atrás de suas costas, seus olhos grandes com remorso… eu tive que disfarçar a risada em uma tossida.

O que é engraçado? Emmet quis saber.

“Te digo depois,” eu murmurei.

Bella não se aventurou a jogar de novo. O treinador a ignorou e deixou Mike jogar sozinho.

Eu fiz os exames rapidamente, ao final de uma hora e Sra. Goff me deixou sair mais cedo. Eu estava ouvindo Mike atentamente enquanto cruzava o campus. Ele havia decidido confrontar Bella a meu respeito.

Jessica jura que eles estão se vendo. Por que? Por que ele tinha que escolhe-la?

Ele não havia reconhecido o fenômeno real – que ela me escolheu.

“Então.”

“Então o que?” ela perguntou.

“Você e Cullen, hein?” Você e o esquisitão. Eu me pergunto, se um cara rico é tão importante para você.

Eu cerrei os dentes sob sua degradante suposição.

“Isso não é da sua conta, Mike.”

Defensiva. Então é verdade. Droga. “Eu não gosto disso.”

“Você não precisa gostar.” ela rebateu.

Por que ela não podia ver o show de circo que ele era? Como eles todos são. O jeito que ele fica perto dela. Me dá até calafrios de ver. “Ele olha para você como… como se você fosse algo comestível.”

Eu me encolhi, esperando pela resposta dela.

Seu rosto se tornou vermelho brilhante, e seus lábios se fecharam com força, como se ela estivesse segurando a respiração. Então, subitamente, um riso falso saiu de seus lábios.

Agora ela está rindo de mim. Ótimo.

Mike se virou, com pensamentos sombrios e foi se trocar.

Eu me encostei na parede da quadra e tentei me recompor.

Como ela poderia ter rido da acusação de Mike – uma acusação tão certa que comecei a pensar que Forks tinha se tornado muito percebido… Por que ela riria da acusação de que eu poderia matá-la, quando ela sabia que isso era inteiramente verdade? Onde estava o humor nisso?

O que havia de errado com ela?

Ela tinha um senso de humor mórbido? Que não se encaixava com a idéia que eu tinha de seu caráter, mas como eu poderia ter certeza? Ou talvez meu sonho de que o tolo anjo estava certo sobre uma coisa, que ela não sentia medo. Corajosa – essa era uma palavra para isso. Outros poderiam dizer estúpida, mas eu sabia quão inteligente ela era. Não importa por que razão, essa falta de medo ou senso de humor retorcido não era bom para ela. Era essa estranha falta de medo que a colocava em perigo tão constantemente? Talvez ela precisasse de mim aqui para sempre…

De repente, meu humor estava aceso.

Se eu pudesse simplesmente me disciplinar, me fazer seguro, então talvez fosse certo para mim ficar com ela.

Quando ela saiu pelas portas da quadra, seus ombros estavam duros e seu lábio inferior estava entre seus dentes de novo – um sinal de ansiedade. Mas assim que seus olhos encontraram os meus, seus ombros rígidos relaxaram e um largo sorriso apareceu em seu rosto. Essa era uma estranha expressão de paz. Ela caminhou em minha direção sem hesitar, só parando quando ela estava tão perto que a temperatura de seu corpo bateu em mim como uma onda de maré.

“Oi,” ela sussurrou.

A felicidade que eu senti nesse momento era, novamente, sem precedentes.

“Olá,” eu disse, e depois – porque com meu humor subitamente tão leve eu não podia resistir em importuná-la – eu adicionei “Como foi a educação física?”

Seu sorriso hesitou. “Bem.”

Ela era uma péssima mentirosa.

“Sério?” eu perguntei, pressionando-a – eu ainda estava preocupado com sua cabeça; ela estava sentindo dor? – mas então os pensamentos de Mike Newton estavam tão altos que quebraram minha concentração.

Eu o odeio. Eu queria que ele morresse. Eu desejo que ele bata aquele carro brilhante diretamente contra um penhasco. Por que ele não pode simplesmente deixá-la em paz? Debandar para seu próprio tipo – para os esquisitos.

“O que?” Bella exigiu.

Meus olhos se refocaram em seu rosto. Ela olhou para as costas de Mike e depois de volta para mim.

“Newton me deixa nos nervos,” eu admiti.

Sua boca se abriu e seu sorriso desapareceu. Ela devia ter se esquecido que eu tinha o poder de assistir sua última hora calamitosa, ou tinha esperança de que eu não o tivesse utilizado. “Você estava ouvindo de novo?”

“Como está sua cabeça?”

“Você é inacreditável!” ela disse através dos dentes e então me deu as costas e cruzou furiosamente o estacionamento. Sua pele ruborizou e ficou vermelho-escura – ela estava envergonhada.

Eu continuei andando com ela, esperando que sua raiva passasse logo. Ela normalmente era rápida para me perdoar.

“Foi você quem disse que eu nunca tinha visto você na educação física,” eu expliquei. “Isso me deixou curioso.”

Ela não respondeu; suas sobrancelhas se juntaram.

Ela parou subitamente no estacionamento quando ela percebeu que o caminho para o meu carro estava bloqueado por uma multidão de estudantes do sexo masculino.

Eu me pergunto quão rápido eles andam nisso.

Olhe só a marcha SMG paddles. Eu nunca os havia visto fora das páginas de revista.

Belos side grills.

Com certeza eu queria ter 60 mil dólares para passear…

Esse era exatamente o motivo pelo qual era melhor que usássemos apenas o carro de Rosalie.

Eu caminhei da multidão de garotos cheios de luxúria para o meu carro; depois de um momento de hesitação, Bella me seguiu.

“Ostentação,” eu murmurei quando ela entrou no carro.

“Que tipo de carro é esse?” ela se perguntou.

“Um M3.”

“Eu não leio a Carro e Motorista.”

“É um BMW.” Eu rolei meus olhos e os foquei na ré para não passar por cima de ninguém. Eu tive de encarar alguns meninos que não pareciam querer sair do meu caminho. Meio segundo encarando meu olhar pareceu ser suficiente para convencê-los.

“Você ainda está brava?” eu perguntei a ela. Sua expressão estava relaxada.

“Definitivamente,” ela respondeu brevemente.

Eu suspirei. Talvez eu não devesse ter contado a ela. Oh, bem, eu poderia dar uma recompensa, eu supunha. “Você me perdoará se eu pedir desculpas?”

Ela pensou sobre isso por um momento. “Talvez… se você realmente estiver arrependido,” ela decidiu. “E se você prometer não fazer isso de novo.”

Eu não ia mentir para ela, mas não havia jeito de prometer isso a ela. Talvez se eu oferecesse uma boa troca.

“Que tal se eu realmente estiver arrependido e eu concordar em deixar você dirigir no sábado?” Eu contraí os músculos com esse pensamento.

A ruga entre seus olhos enquanto ela considerava a nova barganha. “Feito,” ela disse depois de um momento pensando.

Agora, para minhas desculpas… eu nunca tinha tentado deslumbrar Bella de propósito antes, mas agora parecia ser uma boa hora. Eu olhei no fundo de seus olhos enquanto eu dirigia para longe da escola, me perguntando se eu estava fazendo o caminho correto. Eu usei meu tom mais persuasivo.

“Então, eu sinto muitíssimo por ter deixado você triste.”

Seu batimento cardíaco acelerou e ficou mais alto que antes e o ritmo ficou abruptamente destacado (Referente à musica. Modo de executar destacando nitidamente cada nota.) Seus olhos se abriram um pouco, parecendo atordoados.

Eu dei um meio-sorriso. Pareceu que eu tinha feito corretamente. É claro que eu estava tendo um pouco de dificuldade olhando através de seus olhos também. Eu estava igualmente deslumbrado. Ter essa estrada memorizada era uma boa coisa.

“E eu estarei à sua porta cedo no sábado de manhã,” eu adicionei, finalizando o acordo.

Ela piscou rapidamente, balançando a cabeça como se para clareá-la. “Uh,” ela disse “Não ajudaria muito com a história para o Charlie se eu não explicar um Volvo deixado na garagem.”

Ah, como ela me conhecia pouco. “Eu não pretendia levar um carro.”

“Como-” ela começou a perguntar.

Eu a interrompi. A resposta seria difícil de explicar sem uma demonstração, e agora não era o momento certo. “Não se preocupe com isso. Eu estarei lá. Sem carro.”

Ela entortou um pouco a cabeça para o lado, e me olhou por um segundo como se fosse me pressionar para saber mais, mas depois pareceu mudar de idéia.

“Já está muito tarde?” ela perguntou, me lembrando da conversa interminada na cafeteria mais cedo; ela esqueceria uma pergunta difícil apenas para se lembrar de outra pior.

“Eu acho que está tarde,” eu concordei sem vontade.

Eu estacionei em frente à sua casa, tenso em pensar em como explicar… sem deixar muito evidente minha monstruosa natureza, sem assustá-la novamente.

Ela esperou com a mesma máscara educadamente interessada que ela havia usado no almoço. Se eu tivesse sido menos ansioso, sua calma teria me feito rir.

“E você ainda quer saber por que não pode me ver caçar?” eu perguntei.

“Bem, na verdade eu estava imaginando sua reação,” ela disse.

“Eu assustei você?” eu perguntei, certo de que ela negaria.

“Não.”

Eu tentei não rir. E falhei. “Peço desculpas por ter assustado você.” E então meu sorriso se desfez com o humor momentâneo. “Foi só o pensamento de ter você lá… enquanto nós caçamos.”

“Isso seria ruim?”

A figura mental era demais – tão vulnerável na escuridão vazia; eu, fora de controle. Eu tentei banir isso da minha cabeça. “Extremamente.”

“Por que…?”

Eu respirei fundo, me concentrando por um momento na sede que queimava. Sentindo-a, monitorando-a, provando minha dominação sobre ela. Ela nunca me controlaria novamente – eu desejei que isso fosse verdade. Eu seria seguro por ela. Eu olhei para as nuvens bem vindas sem realmente vê-las, desejando que minha determinação fizesse alguma diferença se eu estivesse caçando quando sentisse seu cheiro.

“Quando caçamos… nos entregamos aos nossos instintos,” eu disse a ela, pensando em cada palavra antes de dizê-las. “Governamos menos a mente. Especialmente o olfato. Se você estivesse em algum lugar por perto enquanto eu estivesse fora de controle desse jeito…”

eu balancei minha cabeça com agonia ao pensar no que iria – não no que poderia, mas no que iria – certamente acontecer.

Eu ouvi o espigão em seus batimentos e depois me voltei, sem descanso, para ler seus olhos.

Sua face estava composta, seus olhos graves. Sua boca estava levemente cerrada, o que eu pensava ser preocupação. Mas preocupação com o quê? Sua própria segurança? Ou minha angústia? Eu continuei a olhar para ela, tentando traduzir sua expressão ambígua em fato concreto.

Ela olhou de volta. Seus olhos ficaram maiores por um instante e suas pupilas se dilataram, embora a luz não tivesse mudado.

Minha respiração acelerou e, de repente, o silêncio no carro parecia zunir, como na escura sala de biologia naquela tarde. A pulsação corrente passou entre nós novamente, e meu desejo de tocá-la era, brevemente, mais forte que a demanda da minha sede.

A pulsante eletricidade me fez sentir como se eu tivesse pulsação de novo. Meu corpo cantou com isso. Eu me senti quase… humano. Mais que qualquer coisa no mundo, eu queria sentir os lábios dela contra os meus. Por um segundo, eu lutei desesperadamente para encontrar a força, o controle, para poder colocar minha boca tão perto de sua pele.

Ela sugou uma quantidade enorme de ar e só então eu percebi que quando minha respiração acelerou, ela parou de respirar no mesmo momento.

Eu fechei meus olhos, tentando quebrar a conexão entre nós.

Sem mais erros.

A existência de Bella estava atada a milhões de delicados processos químicos, todos tão facilmente rompidos. A rítmica expansão de seus pulmões, a passagem de oxigênio, era vida ou morte para ela. A cadência agitada de seu frágil coração poderia ser parada por tantos acidentes idiotas, ou doenças, ou… por mim.

Nenhum membro de minha família hesitaria se lhes fosse dada uma chance de voltar atrás – se imortalidade pudesse ser trocada pela mortalidade de novo. Qualquer um no nosso mundo ficaria no fogo por isso. Queimaria por quantos anos ou séculos fosse necessário.

A maioria de nossa espécie prezava a imortalidade mais que qualquer coisa. Existiam até certos humanos que buscavam isso, que procuravam em lugares escuros alguém que pudesse lhes dar o mais sombrio dos presentes…

Não nós. Não minha família. Nós poderíamos trocar qualquer coisa para sermos humanos.

Mas nenhum de nós já esteve desesperado por um caminho de volta como eu estava agora.

Eu olhei para as microscópicas fossas e defeitos no pára-brisas, como se houvesse alguma solução escondida no vidro. A eletricidade não havia desaparecido, e eu tive que me concentrar para manter minhas mãos no volante.

Minha mão direita começou a latejar sem dor de novo, de quando eu a havia tocado antes.

“Bella, eu acho que você devia entrar agora.”

Ela obedeceu de primeira, sem comentar, saindo do carro e batendo a porta atrás dela. Ela havia sentido o potencial de desastre tão claramente quanto eu?

Sair a machucou tanto quanto a mim por deixá-la ir? O único consolo é que eu a veria em breve. Antes do que ela pudesse me ver. Eu sorri ao pensar nisso e então desci o vidro e me debrucei para falar com ela mais uma vez – era seguro agora com o calor de seu corpo fora do carro.

Ela se virou para ver o que eu queria, curiosa.

Ainda curiosa, embora ela tivesse me feito tantas perguntas hoje. Minha própria curiosidade estava inteiramente insatisfeita; responder as perguntas dela hoje só haviam me feito revelar meus segredos – eu tinha tirado pouco dela a não ser por minhas suposições. Isso não era justo.

“Oh, Bella.”

“Sim?”
“Amanhã é minha vez.”

Sua testa se enrugou. “Sua vez de quê?”

“Fazer perguntas.” Amanhã, quando estivéssemos em um lugar mais seguro, cercado de testemunhas, eu conseguiria minhas próprias respostas. Eu sorri com esse pensamento e depois eu me virei, porque ela não fez sinal de se afastar. Mesmo com ela fora do carro, o eco da eletricidade moveu-se rapidamente no ar. Eu queria sair também ir com ela até a porta, para ter uma desculpa para ficar ao seu lado.

Sem mais erros. Eu liguei o carro e depois suspirei enquanto ela desaparecia atrás de mim. Parecia que eu estava sempre correndo em direção à Bella ou correndo dela, nunca ficando no lugar. Eu tinha que achar um jeito de me segurar se algum dia nós tivéssemos um pouco de paz.



OBS: Pessoal nesta postagem eu escrevi todos os capítulos restantes do Midnight Sun (a História de Crepúsculo na versão do Edward), pois já estava meio cansada de ficar postando sempre a "mesma coisa". Sim ficou meio grande, mas não precisa ler tudo de uma vez só hahahaha.

Beijinhos Rafa